Pedro Pomar: de Moncada à ONU
No primeiro semestre de 1962, a Edições Futuro lançara De Moncada à ONU, traduzida por Pedro Pomar, com discursos de Fidel Castro, e a Segunda Declaração de Havana. Pedro Pomar escreveu o prefácio. “Pela primeira vez são oferecidas, na íntegra, ao público brasileiro, dois importantes discursos de Fidel Castro, o valoroso chefe da Revolução Cubana. São discursos que simbolizam duas fases do mesmo processo político. Marcando dois momentos decisivos e distintos, eles se destacam pelo seu sentido revolucionário e pelo tom épico com os quais o líder cubano tem sabido impregnar sua atuação em todos os períodos gloriosos da luta do povo irmão contra os inimigos tradicionais de sua soberania e de sua liberdade”, escreveu ele.
De acordo com Pedro Pomar, a publicação era indispensável para todos os que queriam conhecer mais profundamente a experiência revolucionária e para a melhor análise das condições objetivas e dos fatores subjetivos que determinaram a vitória desse pequeno povo sobre adversários tão poderosos. A Revolução Cubana cumprira seu terceiro aniversário com um trabalho extraordinário e despertava as energias criadoras das massas populares. E ao mesmo tempo, desatava a fúria impotente de seus inimigos derrotados, afirmou. Era um fato novo, de significação histórica, sobretudo para a América Latina.
Segundo Pedro Pomar, Fidel Castro já tinha consciência de que o assalto ao Quartel de Moncada expressava o “germe socialista” da Revolução. Dentro de um regime semicolonial e capitalista como o de Cuba, dissera ele, nenhuma transformação revolucionária seria possível, depois de cumprida a etapa libertadora, senão a socialista. “Os estudiosos do tema e os que entre nós julgam conveniente tomar o essencial da Revolução Cubana, isto é, seu exemplo e seu estímulo, saberão certamente valorizar a oportunidade desse lançamento editorial. Pois nenhum exemplo é mais vivo e mais próximo para todos nós do que esse, de um povo secularmente subjugado ter rompido os grilhões da opressão imperialista, dos latifundiários e dos grandes capitalistas, conquistado um governo genuinamente nacional e popular e instaurado um regime de libertação, antilatifundiário, que avança rapidamente para o socialismo”, escreveu Pedro Pomar.
Evitando as duas tendências errôneas — a de exagerar ou a de depreciar a importância do caminho e dos métodos cubanos para os movimentos democráticos e emancipadores latino-americanos —, disse, ressaltava alguns ensinamentos relacionados com os problemas do Brasil. Salientou a lição a respeito do papel de uma vanguarda revolucionária para a concretização de objetivos que animavam não somente os jovens capitaneados por Fidel Castro, mas, igualmente, as grandes massas populares de Cuba. Na terrível situação que atravessava o país sob a tirania de Fulgêncio Batista, tanto os comunistas quanto Fidel Castro e seus companheiros chegaram à convicção de que a simples mudança de homens ou grupos no poder, de nada servia, comentou.
Impunha-se a substituição do regime, segundo Pedro Pomar. Uma revolução de verdade, que levasse ao poder aquelas classes e camadas que constituem o povo, especialmente os operários, os camponeses e a intelectualidade democrática. Mas a revolução não poderia triunfar sem ter à sua frente uma força política combativa, disposta a todos os sacrifícios. Por conseguinte, a Revolução Cubana era um desmentido e não confirmação à tese sobre a desvalia de um núcleo de vanguarda. Pedro Pomar lembrou que Fidel Castro, antes do assalto a Moncada de 26 de julho, costumava repetir o seguinte pensamento: “É necessário fazer funcionar um pequeno motor que ajude o motor maior a dar partida.”
O pequeno motor — escreveu Pedro Pomar — era a ação inicial do agrupamento que faria arrancar o motor maior, as massas. Daí o plano da tomada do Quartel de Moncada, de onde seriam distribuídas armas ao povo para que este lutasse pelo cumprimento do Programa já elaborado. O movimento que se denominaria “26 de Julho” antecedeu, portanto, o ataque à fortaleza de Moncada e desempenhou a missão daquele destacamento que empreenderia, audaciosamente, a façanha da primeira tentativa para derrubar a ditadura de Batista, resumiu Pedro Pomar.
Segundo ele, aqueles fatos eram uma lição de que cabia enterrar definitivamente a falsa ideia do menosprezo da necessidade de uma vanguarda consciente, que efetuasse um vasto trabalho de propaganda e mobilização das massas, e que fosse capaz de preparar-se para a ação, decidida a travar a luta e alcançar a vitória. O processo de integração do “Movimento 26 de Julho”, do Partido Socialista Popular (comunista) e de “outros grupos e elementos revolucionários” no Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba, tendo como guia o marxismo-leninismo, demonstrava como eram estéreis as opiniões que desdenhavam a relevância de uma organização de vanguarda, cujo valor era ainda maior na fase de construção do socialismo, escreveu.
Para Pedro Pomar, a Revolução Cubana constituía mais um notável êxito da doutrina marxista-leninista. Fidel Castro, conforme se verificava pelo seu discurso de defesa ante o Tribunal dos seus algozes, proclamou que suas ideias inspiradoras eram as de José Martí. Mas ele o fez de um ponto de vista mais avançado, de acordo com o momento histórico em que vivia, afirmou. Desenvolveu as teses mais radicais do grande democrata revolucionário cubano para fustigar de modo implacável o regime de roubo, corrupção, tirania e subserviência ao estrangeiro então imperante em sua pátria. Defendeu o direito do povo à revolução, como o mais legítimo dos direitos.
Fidel Castro e seus companheiros, registrou Pedro Pomar, no próprio fogo da luta anti-imperialista e por um novo poder popular, comprovaram a vitalidade, a justeza e a força do marxismo-leninismo como arma revolucionária invencível da libertação dos povos oprimidos e da consecução do grande sonho da humanidade — a supressão da exploração do homem pelo homem. Em seu discurso perante a ONU, Fidel Castro situou os acontecimentos de Cuba como reflexo da época de extraordinárias transformações, cujo conteúdo fundamental era a transição do velho mundo do capitalismo para o novo mundo do socialismo, resumiu.
Pedro Pomar fez uma apreciação objetiva da Revolução Cubana, de sua real dimensão nos quadros mundiais, em particular na América Latina. “Sentimos o afã de redenção e solidariedade do povo cubano, voltado para seus irmãos ainda sob o jugo do mesmo inimigo: o imperialismo norte-americano. É a primeira vez que se ergue na Assembleia das Nações Unidas a voz de um povo latino-americano verdadeiramente livre e independente, proclamando que os princípios contidos na Primeira Declaração de Havana são os objetivos da Revolução, a qual tem uma importância sem precedentes para a história dos países da América Latina”, escreveu.
Segundo Pedro Pomar, os dois discursos revelavam a personalidade de Fidel Castro. No primeiro, pronunciado diante do Tribunal da ditadura, ameaçado de condenação à morte, depois que quase todos os seus camaradas do assalto a Moncada haviam sido martirizados e assassinados selvagemente, era digna de admiração a coragem de Fidel Castro, sua confiança ilimitada no povo. Tomou a posição de um autêntico chefe revolucionário, que não ocultava seus objetivos e suas ideias, que defendia abertamente o direito do povo à insurreição.
No discurso proferido na ONU, avaliou Pedro Pomar, Fidel Castro apareceu como acusador irreconciliável do imperialismo. Era o estadista à altura de sua responsabilidade, lúcido dirigente dos povos da América Latina em sua luta libertadora, um intrépido defensor da causa da paz entre os povos. A trajetória do povo cubano de Moncada à ONU estava iluminada pelas palavras ardentes e pela conduta viril e revolucionária de Fidel Castro, finalizou.