O presidente e comandante venezuelano Hugo Chávez, falecido no último 5 de março, foi homenageado por todos os oradores como o protagonista da integração latino-americana contemporânea, a partir do legado de libertadores como Simón Bolivar e José Martí, a quem Chávez frequentemente fazia referência.

Nils Castro, do Panamá, foi diretor do Grupo de Contadora, integrado por México, Panamá, Colômbia e Venezuela como resposta à retomada da política intervencionista norte-americana na América Central. Castro mencionou uma dificuldade de classificação teórica da agenda propagada por Chávez para a integração e para o desenvolvimento do seu próprio país (em conjunto com o continente), desde a sua eleição como presidente da Venezuela, em 1998. “Não existem ainda as palavras para este fenômeno”, disse, embora “progressista” seja considerada adequada por Castro, que mencionou ainda um “socialismo chavista”.

Salvador Sánchez Cerén, vice-presidente de El Salvador, da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, ressaltou um “compromisso ético de Chávez com os pobres”, na luta pela justiça na América Latina contra o neoliberalismo. Para isso, afirma a busca pelo bem comum e a solidariedade, ao contrário de uma “guerra de todos contra todos”, como classificou Cerén a ótica neoliberal que responsabiliza os pobres pela sua pobreza, e não os mecanismos estruturais.

Leonilda Zurita, da Bolívia, dirigente do Movimento ao Socialismo (MAS), emocionada em grande parte da sua fala, afirmou a firmeza de Chávez “com a palavra que contestava o império”, e que a revolução conduzida por ele “seguiu os passos de Simón Bolívar e dos nossos libertadores”, que buscavam a liberdade de todos e para todos, por igual. “É nosso compromisso, como partidos de esquerda que vivemos e compartimos, com a tarefa profunda, depois de ter aberto a brecha, o caminho, o nosso comandante; devemos continuar, com esta unidade”.

De Cuba, Olga Lídia ressaltou o papel da juventude venezuelana, com quem discutiu as formas de condução do legado deixado por Chávez, assegurado na Venezuela, na América Latina e no Caribe. “Novamente, a vida nos obriga a superar a morte de um imprescindível, de um lutador”, disse Lídia, “numa conjuntura marcada pela contraofensiva estadunidense, contra os processos revolucionários e democráticos, contra a integração da nossa América”.

Para continuar a luta pela definitiva independência dos nossos povos, ressaltou, é preciso dar ênfase ao legado de Chávez e do comandante da Revolução Cubana, Fidel Castro, que disse, logo após a morte do líder venezuelano: “Nos cabe o amor de ter compartido com o líder bolivariano os mesmos ideais de justiça social e de apoio aos explorados”. Ainda citando Fidel, Lídia diz que Chávez “entrou pela porta grande da história”, e que agora cabe a nós fortalecer o processo, “forjar a unidade, continuar a luta e vencer”, com ênfase na participação massiva das forças populares e na integração regional.

Gabriela Rivadeneira, da Aliança “Paz, Alternativa e Soberania” (Pais) e presidenta da Assembleia Nacional do Equador, afirmou também o apoio de Chávez à luta dos povos pela soberania e pela justiça social, pelo respeito e a dignidade, luta à qual se soma também a Revolução Cidadã equatoriana, conduzida pelo presidente Rafael Correa e impulsionada em direção à construção do socialismo do século 21 no Equador.

O conceito “socialismo do século 21” tem sido empregado para caracterizar os movimentos de transformação progressista na América Latina, com foco em eixos como o desenvolvimento democrático regional, a economia de equidades, a democracia participativa e protagonista e as organizações de base, de acordo com as diretrizes marxistas sobre a luta de classes e a dinâmica social, como explicado pelo filósofo alemão Heinz Dieterich.

“Plano das pátrias”

Adán Chávez fez uma saudação aos oradores e às homenagens prestadas ao comandante, com o empenho decisivo para “a união e o fortalecimento dos povos da nossa América”. Neste sentido, e em contraposição à investida capitalista, atualmente em crise mundial, Chávez falou de “um mundo desintoxicado do progresso do sistema capitalista e dos modelos neoliberais” possível, de acordo com as contribuições dos representantes de partidos no Foro de São Paulo.

“Um mundo em que cooperem, com estratégias econômicas, sociais, políticas e culturais, onde o desenvolvimento integrado dos nossos povos se junte à justiça e à igualdade social”, completa, para a transição ao socialismo em cada país, de acordo com as suas especificidades e particularidades, mas, sobretudo “anti-imperialistas”.

Em 2010, o comandante Chávez, citado por Adán, disse: “Hoje podemos dizer que o mundo deixou de ser unipolar”, mas sem indícios da conformação de quatro ou cinco polos a nível mundial. “É evidente, por exemplo, que a estrutura na nossa América, como um só bloco político, não se vê no horizonte imediato, mas o mesmo acontece na África, na Ásia e na Europa. O que sim começa a desenhar-se é um conjunto recente de grupos geopolíticos (…), em um mundo multinuclear, como transição à multipolaridade. Começar com esta longa transição, cruzando fronteiras de três continentes e abrindo o coração libertário ao mundo, cumprimos com o sagrado dever de aprofundar o pacto inexorável entre os povos”.

Adán explicou o legado caracterizado pelo Plano da Pátria, desenhado por Chávez, com cinco objetivos históricos: defender, expandir e consolidar o bem mais precioso que reconquistamos após 200 anos, a independência nacional; continuar construindo o socialismo do século 21 na Venezuela, como alternativa ao modelo capitalista; converter a Venezuela em um país potência no âmbito social, econômico, político e dentro da grande potência nascente, a América Latina e o Caribe, que garanta a conformação de uma zona de paz na nossa América; contribuir para o desenvolvimento de uma nova geopolítica internacional, para um mundo multipolar que alcance o equilíbrio e garanta a paz; contribuir com a preservação da vida no planeta e a salvação da espécie humana.

Entretanto, o plano, “parte do legado deixado pelo comandante eterno”, ressalta, enquadra-se perfeitamente para outras pátrias, e neste momento, no plano continental. “Muitas coisas já logramos, mas o que mais precisamos cuidar é o que lograremos na próxima década”, diz Adán, com o exemplo de resultados dos esforços de integração regional em que Chávez participou decisivamente: a União de Nações Sul-americanas (Unasul), a Alternativa Bolivariana para os povos da Nossa América (Alba), a aliança Petrocaribe, a Comunidade de Estados Latino-americanos e caribenhos, com um grande esforço também pela integração da Venezuela ao Mercado Comum do Sul (Mercosul).

Para isto, e com a construção do socialismo no continente, Adán menciona a importância dada por Chávez à “elevação da consciência revolucionária e o fortalecimento ideológico e político em todos os seus âmbitos, baseando-nos na planificação estratégica em que a transição socialista é testemunha em muitos países”, com referência aos pensamentos do líder revolucionário Che Guevara.

“Sigamos, assim, aperfeiçoando um sistema novo, integrador, impulsionador de novas formas de fazer política, de novas formas de engrenar as nossas economias com o objetivo supremo de justiça e igualdade social, e transitemos com passo firme em direção à soberania e à liberdade plena dos nossos povos”, conclui Adán.