Irã: Obama carece de um salto de fé
Claro, uma mão invisível impulsiona os políticos do Capitólio a pôr freios no presidente Barack Obama, apesar de já estar em clara ascensão, na opinião pública nos EUA, a ideia de que não resta saída além de engajar o Irã; sobretudo agora que a eleição de Hassan Rouhani abre janela sem precedentes de novas oportunidades, depois de trinta anos de impasse.
Não se trata de pôr algemas na prerrogativa presidencial, de Obama, de comandar a política exterior: é situação de vida-ou-morte para o lobby israelense.
O pesadelo israelense é que, se o engajamento EUA-Irã ganhar tração, haverá mudança tectônica na geopolítica do Oriente Médio; e a posição pivô das estratégicas dos EUA na região pode sofrer erosão.
Israel está em pânico, de que projetos divulgados, como a estrada de ferro financiada pelos EUA, conectando o Afeganistão a portos iranianos no Mar da Arábia, venham a mudar dramaticamente o jogo.
O último relatório de 175 páginas, divulgado na 3ª-feira ao Congresso dos EUA, pelo Inspetor Geral Norte-americano para a Reconstrução Afegã, diz que “o Irã é a destinação preferencial de exportações de minérios [do Afeganistão] porque a estrada é mais eficiente e a infraestrutura ferroviária do Irã está me melhores condições que a do Paquistão.”
Inacreditável, não é mesmo?! Os militares norte-americanos querem retomar e implementar o mesmo projeto sobre o qual burocratas indianos letárgicos, vãos, covardes, e seus senhores políticos, nada fizeram, além de muito discursar e falar em vão, durante vinte anos? Vide páginas 164-166 do Relatório.[2]
Como se não bastasse, Obama fez das tripas coração para aumentar o nível de conforto dos israelenses: o mais recente movimento foi nomear Martin Indyk para comandar as conversações para o Oriente Médio que se reiniciam. Indyk não é apenas ‘velho servidor de Israel’: ele é a própria “mão israelense” encarnada.[3]
Obama fez o que fez com o único objetivo de inspirar confiança a Telavive, de que é e sempre será um anjo guardião dos melhores interesses de Israel. Pois nem assim Israel deixou-se convencer.
Israel absolutamente não quer, de modo algum, a integração do Irã como potência regional; não quer normalização de laços entre Irã e o ocidente; não quer ver o Irã aberto como a mais recente fronteira de energia – Israel absolutamente não quer nada disso.
E não quer porque essas medidas implicarão que Israel será forçado a contentar-se com ser estado normal de 6 milhões de habitantes. Se desaparecer o fantasma iraniano, Israel será fatalmente empurrada a ter de resolver o problema palestino.
Até hoje, a questão nuclear iraniana serviu como útil distração, ao longo de décadas, tempo durante o qual Telavive desencaminhou a chamada ‘comunidade internacional’.
E então, de repente, começa essa nova campanha a favor do programa nuclear iraniano. O mais recente relatório de ‘think-tank’ dos EUA[4] diz que o Irã “em meados de 2014 terá capacidade crítica para processar material de urânio baixo-enriquecido e fabricar material a ser usado numa arma atômica, sem que os inspetores internacionais tomem conhecimento.” Eureka! Descobriram a pólvora!
A mensagem ocultada é “Não é hora de o presidente dos EUA inventar de ‘engajar’ em negociações o Irã, país de traidores.” Para os velhos observadores do Irã, a coisa volta, como uma sensação de déjà vu.
A grande pergunta é se Obama terá a coragem política necessária para desafiar o lobby israelense e dar o salto de fé[5] necessário para engajar o Irã.
[1] 31/7/2013, NYT http://www.nytimes.com/2013/07/31/world/middleeast/house-vote-on-sanctions-for-iran-could-stop-oil-exports.html?_r=0
[2] http://www.sigar.mil/pdf/quarterlyreports/2013-07-30qr-section3-economic.pdf#page=22
[3] http://www.nytimes.com/2013/07/31/world/middleeast/house-vote-on-sanctions-for-iran-could-stop-oil-exports.html?_r=0
[4] http://www.businessweek.com/printer/articles/561164?type=bloomberg
[5] http://dyn.realclearpolitics.com/printpage/?url=http://www.realclearpolitics.com/articles/2013/07/30/obamas_moment_–_a_deal_with_iran__119410.html&showimages=1
Traduzido pelo coletivo Vila Vudu
Publicado em 31/7/2013, MK Bhadrakumar, Indian Punchline
http://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2013/07/31/obama-needs-leap-of-faith-on-iran/