Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Comunicação

    Ante a juventude que jaz, choremos!

    Para não nos esquecermos de quem deveríamos cuidar   Era serena a noite sob o sereno e a tênue prata d’Alba.   Era sereno o espírito da juventude confiante nas mãos alheias enquanto embalava os sonhos e o idílio que não se completariam, suspensos no vazio voraz das chamas.   Tão jovens! – meninos apenas!… […]

    POR: Redação

    3 min de leitura

    Para não nos esquecermos de quem deveríamos cuidar

     

    Era serena a noite
    sob o sereno e a tênue
    prata d’Alba.

     

    Era sereno o espírito da juventude
    confiante nas mãos alheias
    enquanto embalava os sonhos
    e o idílio
    que não se completariam,
    suspensos no vazio voraz
    das chamas.

     

    Tão jovens! – meninos apenas!…
    que sob a noite se entregavam
    às juras e aos risos
    enquanto a brisa se fazia lá fora.

     

    E esperavam o futuro
    que guardavam nos livros
    e nos bancos da universidade.

     

    Os livros fecharam em casa
    sobre as mesas e as estantes
    e seguiram para a noite
    com a serenidade
    de quem se descuida de si mesmo
    porque está sob os cuidados
    de mãos alheias.

     

    Essas mãos, porém, não ofereceram
    a recíproca confiança:
    como poderiam ter-se esquecido
    do zelo e da atenção permanentes?!

     

    O descaso e a negligência
    armaram o golpe,
    fatal e definitivo,
    aos desavisados
    que só tinham vida à sua frente.

     

    Tombaram tantos, meu Deus!
    Sucumbiram dentro da luva negra
    da asfixia – o novo holocausto
    impiedoso para com aquelas
    vidas tenras
    que se entregavam à inocência
    de um idílio promissor.

     

    O que foi feito de suas vidas?!
    Sobrou o eco de vozes atônitas
    chamando do outro lado da linha
    –  Filhinho! Filhinha! … –
    esperando a resposta
    de um riso límpido
    de ventura e inocência.

     

    E só o silêncio de sombras
    baixava, empilhando-se
    do outro lado da vida.
    Choremos, então, porque
    nos resta chorar
    essas lágrimas amargas.
    Mas é preciso levantar
    o brado clamando
    pelo rigor diante da negligência
    e da irresponsabilidade!

     

    O descaso, neste caso,
    preparou a terrível armadilha
    aos corações desavisados,
    tão próprio dos inocentes
    e das vítimas,
    que confiavam na noite feliz
    de uma alegria vã.

     

    Não mais o riso
    se fará presente.
    Só o desespero de quem desfalece
    ao som da música
    e ao torpor negro de chamas ardendo.

     

    Traziam ainda nos olhos
    a umidade da infância,
    meu Deus!
    Tão crianças eram na maioria!
    Como não chorar
    ante o desespero que
    agora é só o silêncio
    de quem confiava
    em outrem e em suas forças?

     

    A tragédia foi ilícita
    naqueles momentos
    que deveriam ser de felicidade.

     

    A tragédia da trama insensata,
    surda, estendeu-se
    sem compaixão
    sobre os que ali tombaram
    sem aviso,
    inocentes, sem saber que algozes,
    (ainda que involuntários)
    pesariam a mão sobre eles!

     

    O horror da noite,
    que seria promissora,
    deitou-se impassível
    com a força da impiedade
    cortando-lhes o sopro
    na garganta
    derrubando o direito
    de apostar no futuro.

     

    Indefesos, sucumbiram
    na teia mortal
    os selecionados pela roleta-russa
    do carbono escuro
    que se instalara na pista de dança.

     

    E quem poderá dormir,
    de hoje em diante,
    sob a mão que treme
    apalpando o sono que não se concilia
    à sombra obscura dos corpos tenros?

     

    Porque aqueles que sonharam,
    sob o manto da juventude,
    só pediam o palpitar da vida
    naquela noite.

     

    Naquela noite devorada
    pelo horror inclemente,
    descompassada sob os ponteiros da tragédia,
    que em seguida daria lugar à madrugada
    tão cúmplice da dor…

     

    São Sepé, abril de 2013.
    Maria Aparecida Dellinghausen Motta,
    escritora e ex-aluna da UFSM.

    Notícias Relacionadas