Temos agora, ainda que em síntese, uma série de elementos para se poderem extrair algumas conclusões, provisórias, sempre utilizando a concepção leninista de imperialismo como paradigma de referência. Não é a primeira característica dessa concepção, e nem a segunda ou a terceira – ainda que bem presentes até hoje – que serão colocadas em primeiro plano; muito mais decisivas, para serem postas no centro da inteira concepção em análise, são a quarta e a quinta. Certamente, essa última – o confronto interimperialista entre Estados ( grandes potências ) – falta hoje, mas essa falta não é simplesmente um zero; ela é sempre uma “causa” que produz efeitos, entre os quais os que assistimos nos dias de hoje. Em suma, é uma ausência que gera problemas, diversos, mas no futuro não menos graves daqueles que uma sua eventual presença geraria.

As disputas por mercados ( e não apenas por isso ) – ou seja, a quarta característica leninista – não podem encontrar alívio em uma competição política mais aberta ( no limite extremo, militar ) entre Estados, em razão da estruturação dos diferentes blocos dominantes existentes nos países centrais e naqueles não centrais. Estruturação diferente que continuará a produzir por longo período seus efeitos de subordinação das classes dominantes dos segundos em relação àquelas dos primeiros. A disputa política ( e militar, em sentido lato) é desviada por novas diretrizes, se serve de outras contradições existentes no mundo, utiliza outro pessoal em relação ao dos exércitos de outros tempos. A sensação mais superficial é a do fim das funções dos Estados ( mas apenas daqueles voltadas para o exterior ); os vários exércitos ( como os da OTAN ) se movem em aparente sintonia sob a massacrante supremacia e direção dos Estados Unidos, dirigindo a sua agressividade contra qualquer “inimigo de ocasião” que não seja inteiramente solícito às ordens do “mundo ocidental”.

No entanto, a disputa continua “por baixo”, “algo” – para cuja análise nós ainda estamos vergonhosamente despreparados – se move em modalidades cada vez mais ameaçadoras, utilizando toda frustração e ódio que um imperialismo extremamente maduro – talvez o mais feroz da história – como o norte-americano, em estreita aliança com o aliado estratégico israelense, disseminou pelo mundo. Tenho a clara impressão que, infelizmente, essas perigosas modalidades podem ser exploradas principalmente, mesmo contra a vontade e as intenções dos adversários, por setores que favorecem, em última análise, os dois imperialismos recém-citados, na tentativa de afastar o quanto possível o momento que pudesse dar origem a qualquer outro centro mais forte e capaz de conflito ( em todos os campos, e não apenas no econômico ). Porém, o problema não é – segundo alguns tolos ideólogos, inclusive alguns da “extrema esquerda” – o de época, do fim irreversível dos Estados nacionais, mas a subsistência, mesmo após o fim do socialismo real, de certos blocos sociais dominantes nos países capitalistas avançados não centrais que encontram a sua expressão política nas “direitas” e nas “esquerdas”, com as quais nos defrontamos hoje como inimigos mais perigosos e mais servis frente aos blocos dominantes dos países centrais.  

É preciso levar em conta que estamos diante de uma  mudança, da qual se sai ou renovado ou como um zumbi. Continuar sendo adepto de teses insanas espero que não voluntariamente, como a do império de Negri, ou a da taxação do capital financeiro, ou a da boa-vontade e misericórdia para com pobres e carentes, etc., assume um aspecto sinistro. Lembremos aquilo que escrevia Bertold Brecht em uma poesia dos sombrios anos 30, e que afirma algo assim: “Vivemos em um tempo em que falar de árvores é um delito.”