Documentário sobre influência do guerrilheiro Bacuri em gerações de mulheres ganha prêmio em Gramado
Dirigido pela portuguesa Maria de Medeiros e produzido pela brasileira Ana Petta com apoio da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, dentro do projeto Marcas da Memória, “Repare Bem” narra o impacto da ditadura brasileira sobre duas gerações de mulheres ligadas ao guerrilheiro Eduardo Leite, conhecido como Bacuri, que foi preso e assassinado pelo regime após mais de três meses de torturas, em 1970.
O filme, de noventa e cinco minutos, foi gravado no Brasil, Itália e Holanda, entre janeiro e outubro de 2011, resgatando a trajetória da família de Denise Crispim, sua filha Eduarda Ditta Crispim Leite e seu ex-companheiro Eduardo Leite, o “Bacuri”, torturado e assassinado pelos militares. Os relatos e personagens da trama desvelam os aspectos mais cruéis desse período da história brasileira, em um documentário que contribui para os crescentes debates sobre o resgate da memória no Brasil e a reparação das famílias brutalizadas pelo Estado.
Tratou-se de postar as câmaras diante de Denise Crispim e de sua filha, Eduarda Ditta Crispim Leite, e de receber com emoção os seus testemunhos. Foi em Roma e em Joure, no norte da Holanda, bem longe do Brasil. No entanto, as suas palavras, que falam de exílio e de memória, levam-nos a um mergulho na história brasileira, dos anos 70 até a atualidade.
Denise Crispim já nasce clandestina em 1949. Seus pais, muito politizados, lutaram por uma sociedade mais justa e são por isso perseguidos por sucessivas ditaduras. Aos 20 anos, Denise conhece o jovem guerrilheiro Eduardo Leite, “Bacuri”, famoso por sua audácia, e com ele entra em uma militância mais arriscada. Denise está grávida de seis meses quando cai nas mãos do aparelho repressivo. Seu irmão Joelson acaba de ser assassinado aos 22 anos pela polícia, sua mãe, Encarnación, está presa.
Pouco antes do nascimento da pequena Eduarda num hospital militar, rodeada de policiais, Eduardo Leite, seu pai, é também preso, torturado barbaramente durante 109 dias e assassinado. Com a sua criança recém nascida nos braços, Denise consegue asilo político na embaixada chilena e de lá viaja para Santiago, onde reencontra seus pais, ambos exilados nesse momento. Porém, a família é de novo apanhada por um golpe de Estado militar, o de Augusto Pinochet. Cada um se refugia como pode em diversas embaixadas e Denise e Eduarda acabam por fugir para a Itália.
Denise reconstrói sua vida em Roma onde Eduarda cresce como uma jovem italiana. Hoje, ambas foram anistiadas pela Comissão de Anistia e Reparação no Brasil. Eduarda, mãe de duas meninas e residente na Holanda, recebe o valor simbólico desta “Reparação” como o dom de uma nova vida. O relato de suas histórias convida-nos a uma reflexão sobre os movimentos ideológicos e a luta pela justiça entre a “Velha Europa” e as Américas.
Realizado pelo Instituto Via BR com recursos da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça do Brasil, o documentário também expõe a atuação dessa Comissão, seus desafios e prioridades no processo de reparação das famílias das vítimas da ditadura.
“Repare Bem” integra o projeto “Marcas da Memória” da Comissão de Anistia, tem parceria da Cinemateca Brasileira e apoios da Fadepe-JF (Fundação de Apoio e Desenvolvimento do Ensino da Pesquisa e Extensão de Juiz de Fora), CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Fitee (Federação Interestadual dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino), Sindicomerciários Caxias do Sul (Sindicato dos Empregados no Comércio de Caxias do Sul) e Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região.
Saiba mais sobre o filme Repare Bem aqui.