Para quem morreu de pé
Para quem morreu de pé
Para quem morreu de pé
minha ternura, minha flor,
um esgarçado de nuvem
para quem morreu de pé.
Para quem foi enforcado
o meu gemido, a minha dor,
no incruento desse crime
as minhas mãos fumegantes
mais a cólera divina.
Para o marinheiro límpido
cheiroso de mar e espuma,
para o seu último olhar
direto ao céu estrelado
minha lembrança, minha flor,
o meu coral, minha dor,
a minha voz, o meu amor.
Pra quem sofreu o garrote
meu sonho medieval;
pra sua dor inaudita
a iluminura, o românico,
a pedra mais recortada
e um silêncio total.
Pra o soldado que caminha
e que caminhando cai,
pra quem saiu de sua casa
porque alguém lhe disse vai,
pra quem morreu sobre a neve
tendo no sangue um projeto
de ser pai
o meu calor, a minha flor,
o meu sorriso de nunca mais,
a minha lágrima sem remédio,
meu punho erguido de incapaz,
o meu combate pelo seu sono,
a minha guerra por sua paz…
Renata Pallottini – Obra poética