Autocrítica

O ex-ministro do Trabalho e presidente do PDT, Carlos Lupi expressou a perplexidade da política institucional frente às manifestações, propondo uma autocrítica. De acordo com ele, é petulância quem diz que já sabia o que ia acontecer. Sempre falando em primeira pessoa, para expressar um ponto de vista muito pessoal, Lupi afirmou que não imaginava que as redes sociais tinham esse poder de mobilização.

Salientando que fala por experiência pessoal, o trabalhista afirmou que o poder entorpece, torna os políticos mais conservadores e os afasta dos movimentos sociais. “Isto é uma autocrítica que considero que todos devamos fazer. Não estou acusando ninguém, estou me colocando, como ex-minsitro que fui. A acomodação do poder nos impede até de pensar.”

Lupi chega a dizer que não há nada de novo na agressividade de parcela dos manifestantes. “Quem sou eu para botar o dedo, se já fiz pior”, disse ele, referindo-se da radicalidade de algumas greves das quais participou. Para ele, o questionamento central é como avançar ao encontro dessa grande massa, sem querer ser dono do processo.

O dirigente trabalhista destacou que a massa manifestante não pediu menos estado ou fora governo, porém reivindicou mais eficiência e educação de maior qualidade. “Fui um protesto contra esse modelo capitalista selvagem, cruel e desumano, que não dá certo nem nos EUA!”, analisou ele, apontando um subtexto das manifestações que entusiasma as esquerdas. Para ele, os protestos estimulam um debate sobre que tipo de estado queremos, “radicalizando pela esquerda”, indo no sentido contrário dos ajustes fiscais neoliberais, “que tiram recursos dos aposentados e dos programas sociais para dar satisfação a empresário internacional que só vem aqui para ganhar dinheiro”.

Embora se expresse por meio do que Lupi chama de “individualismo coletivizado”, ele acredita que a juventude quer o estado que queríamos há trinta anos atrás. Para ele, neste momento, é fundamental abrir os aparelhos partidários para uma interlocução, que faça a população se sentir representada neles. “A rua mostra que perdemos o lugar. Não estamos na rua.”

“Temos que pegar essa energia da internet para avançar. Ou acordamos e evoluímos nesse processo, ou perdemos o poder”, alertou Lupi.

Lupi diz ter vibrado quando viu o Congresso votando em uma semana, o que não resolvia em anos. Ele se questiona, no entanto, se será que vai ter que haver manifestação o tempo todo para isso. “Essa garotada está muito à frente da gente no Brasil que eles sonham.”