Sindicato dos Jornalistas faz refiliação simbólica de Joaquim Câmara Ferreira
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Em sessão solene a direção do SJSP entregou à família cópia da ficha de sindicalização do jornalista de nº 432. Também realizou ato simbólico de anistia, pois estava desligado da entidade desde 1969, por estar sendo perseguido pelos militares, deixando de pagar as contribuições à entidade. O Sindicato realizará nova cerimônia, para fazer a entrega de placa em homenagem ao jornalista, ressaltando sua importância histórica de luta pela democracia no Brasil.
“O Sindicato está resgando uma vida. Joaquim havia sido desligado em 1969, por falta de pagamento. E, neste exato momento, ele estava na luta pela democracia do país. O primeiro passo foi dado com a implantação da Comissão da Verdade pelo Sindicato. Fazer o resgaste de centenas de jornalistas que foram mortos pela ditadura é preservar a memória da nossa categoria e do país. Assistimos a uma homenagem emocionante que relembrou a história de vida de Joaquim Câmara Ferreira”, disse a jornalista Denise Fon, anistiada pela Comissão Especial de Anistia do Ministério da Justiça por ter sido também perseguida política.
Durante a cerimônia de homenagem realizada no auditório Vladimir Herzog do SJSP, a neta de Joaquim Câmara leu um texto biográfico sobre o avô, escrito por um outro neto (o texto será publicado na Europa).
Participaram da mesa o filho de Câmara, Roberto Cardieri Câmara, o presidente do SJSP, José Augusto Camargo (Guto), a dirigente Denise Fon, da Comissão de Ética, o deputado Adriano Diogo – PT (Presidente da Comissão Estadual da Verdade “Rubens Paiva”, da ALESP) e o vereador Eliseu Gabriel (PSB).
Na manhã da mesma quinta-feira (5), a rua Joaquim Câmara Ferreira, localizada no Jardim Tereza – Vila Brasilândia, foi o palco da primeira de duas celebrações realizadas em homenagem ao centenário do jornalista Joaquim Câmara Ferreira. Na atividade, feita na rua que hoje leva seu nome, estavam presentes o filho de Câmara, Roberto Cardieri Câmara, o presidente do SJSP, José Augusto Camargo (Guto), o ex-presidente da entidade, Antonio Carlos Fon, a dirigente Denise Fon, membro da Comissão de Ética e André Freire, secretário geral do Sindicato, além de diversos representantes de entidades dos movimentos sociais e sindicais.
Traços biográficos
Joaquim Câmara Ferreira, sócio de número 432 do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) nasceu em São Paulo e foi diretor de vários jornais do PCB, ao qual se filiou em 1933.
Com o início do Estado Novo, em 1937, partiu para a vida clandestina Detido pela polícia política da ditadura Vargas na gráfica do PCB, onde estava trabalhando, ficou vários anos preso e foi muito torturado, a ponto de perder definitivamente as unhas das mãos. Em 1946, Toledo, ou Velho, como também era conhecido, elegeu-se vereador em Jaboticabal, interior de São Paulo, mas perdeu o mandato quando foi cassado o registro do PCB.
Em 1964 foi preso por fazer uma conferência para operários em São Bernardo do Campo sobre “o papel da imprensa na luta pelas reformas de base”. Libertado pouco tempo depois, foi condenado à revelia a dois anos de reclusão. Participou da elaboração do “Manifesto do Agrupamento Comunista de São Paulo” em 1967, que provocaria uma cisão no PCB e a criação da Ação Libertadora Nacional (ALN). Quando Carlos Marighella foi morto pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, em novembro de 1969, em São Paulo, Câmara Ferreira estava em Cuba, mas logo voltou ao Brasil para assumir o comando da ALN no lugar de Marighella.
Menos de um ano depois, no dia 23 de outubro de 1970, por volta das 19 horas, Câmara Ferreira foi preso, também pela equipe do delegado Fleury, no bairro de Moema. A tortura começou já no carro de polícia que o levou para o sítio clandestino de Fleury, onde morreu após algumas horas de maus-tratos. A nota oficial do DOPS paulista atribuiu a morte do dirigente da ALN a problemas cardíacos resultante do fato de ter reagido à prisão e lutado com os policiais.
Essa versão, entretanto, foi desmentida pela presa política Maria de Lourdes Rego Melo, que relatou a prisão de Toledo, a viagem ao sítio de Fleury e a morte sob tortura. Câmara Ferreira chegou a ser atendido por um médico, levado pelo delegado para que o mantivesse vivo por mais tempo na tentativa de conseguir informações relevantes sob tortura. O corpo de Câmara Ferreira foi sepultado pela família no Cemitério da Consolação.
Publicado pelo SJSP