Foi há exatos doze anos. Os historiadores registrarão que, segundo a narrativa oficial, 19 árabes armados com abridores de latas, facas de cozinha e com mínima capacidade para pilotar aviões, a serviço de uma corporação Terror Inc., converteram grandes aviões em mísseis e atacaram a pátria norte-americana, derrotando assim o mais elaborado sistema de defesa sobre a Terra.

Rodem a fita adiante, até 2013. Eis versão em 15 segundos do discurso do Presidente dos EUA (PEUA) sobre a Síria, exatamente um dia antes do 12º aniversário do 11/9:

Nossos ideais e princípios, além de nossa segurança nacional estão em jogo. Os EUA são “a âncora da segurança global”. Os militares dos EUA “não dão cutucadinhas”, mas carregamos o peso do dever de punir regimes, que desrespeitem convenções vigentes há muito tempo, banindo o uso de armas biológicas, químicas e nucleares.

Eis a razão pela qual decidir providenciar ataque militar limitado, de alvo definido, contra Washington DC.

Para incontáveis cidadãos globais, essa versão alternativa já soa como perfeita narrativa da versão oficial do que aconteceu há 12 anos. A neblina da guerra obscurece tudo, pelos meios mais misteriosos. Mas permanece o fato de que o atual Imperador (farsante),[1] “relutante”, insiste em apostar a própria “credibilidade” – e a de seu país – numa operação “limitada”, “cinética” para reforçar uma linha vermelha que ele mesmo inventou contra armas químicas.

Obama quebrou a cara. Viajemos.

Na teoria, o plano russo para que Damasco entregue seu arsenal de armas químicas funciona bem por causa da sabedoria chinesa que carrega embutida: ninguém quebra a cara – nem Obama e o Congresso dos EUA, nem a União Europeia, nem a ONU nem a ainda mais farsesca Liga Árabe que não passa, essencialmente, de colônia da Arábia Saudita.

Apesar de Obama estar em plena guerra midiática total para roubar para ele o crédito pela iniciativa, Asia Times Online já confirmou que o plano foi construído por Damasco, Teerã e Moscou, semana passada – durante visita do presidente da Comissão de Segurança Nacional do Parlamento do Irã, Alaeddin Boroujerdi, a Damasco. A já famosa gafe do Secretário de Estado John Kerry criou a abertura.

Em resumo, eis o “eixo” – Damasco, Teerã, Moscou – que está ajudando Obama a safar-se do fundo do poço no qual mergulhou por iniciativa sua. Desnecessário dizer, é assunto absolutamente inadmissível e intolerável para os plutocratas encarregados de despejar sobre a Síria a sua nova produção (letal). Campanha novinha em folha de propaganda-mídia para gerar uma nova histeria deve ser ativada para justificar a guerra. Nisso, precisamente, o eixo anglo-francês-norte-americano trabalha nesse momento.

Não surpreende a proposta francesa para uma nova deliberação no Conselho de Segurança da ONU, já tenha citado o Capítulo 7 – que explicitamente permite ataque militar a Damasco no caso de não cumprir o acordo. No pé em que está, essa resolução será inevitavelmente vetada por Rússia e China. E aí estará o novo pretexto para guerra. O imperador (farsante) pode facilmente invocar dúvida razoável, destacar que envidou “todos os esforços” para evitar conflito militar e, afinal, convencer os céticos no Congresso dos EUA de que só resta o caminho da guerra.

E pensar que há desenvolvimento perfeitamente sólido e lógico para que prossiga o plano Damasco-Teerã-Moscou. As armas químicas da Síria podem ser postas sob supervisão russa – ou europeia. A Síria integra-se à Organização para a Proibição de Armas Químicas e ratifica a Convenção das Armas Químicas. Inspetores da OPAQ começam a trabalhar em coordenação com a ONU. Todos os especialistas sabem que esse processo exigirá anos.

Damasco já declarou que está pronta a integrar-se à OPAQ e a assinar a Convenção. Não há nenhuma necessidade de resolução do Conselho de Segurança da ONU para forçar Damasco a fazer o que já disse que quer fazer. E qualquer resolução da ONU sobre armas químicas no Oriente Médio terá necessariamente de incluir Israel. Observe-se que ninguém, absolutamente ninguém, fala sobre os vastos arsenais químicos de Israel, para nem falar das armas nucleares.[2]

Mas não se seguirá o bom caminho – porque Washington e seus poodles ladrantes, afogados em sonhos molhados com Sykes-Picot, Londres e Paris, já o estão bloqueando.

Fly me to the (guerra) moon[3]

Não há sinal algum de que o governo Obama esteja preparado, sequer, para reconsiderar a “doutrina Obama” ioiô para o Oriente Médio. Implicaria fritar o eixo sauditas-Israel e empenhar-se em esforço concentrado pelo sucesso da Conferência Genebra 2, a única saída diplomática possível para a tragédia síria.

Já argumentei noutro artigo que o imperador (farsante) não passa de um amanuense – empregado subalterno e obediente. Os que estão pagando a próxima produção letal, como a Casa de Saud, ou festejando nas coxias, como o lobby israelense, simplesmente não desistirão.

A Casa de Saud quer mudança de regime já. O lobby de Israel/AIPAC e seus patrões em Telavive querem que a guerra síria respingue massivamente e inunde o Líbano, para envolver o Hezbollah. E os Patrões Financeiros do Mundo, setores significativos do complexo industrial-militar de segurança orwelliano/Panóptico, além do ocidente governado pelas petromonarquias, querem república árabe secular integrada subalternamente ao monopólio deles, gerando lucros.

O problema é que a tal de coisa “cinética” pode ser “limitada” demais e não satisfazer o eixo saudita-Israel nem, e sobretudo, os Patrões do Universo. Ao mesmo tempo que pode ser suficientemente ilegal para caracterizar crime de guerra.

Mas, afinal, já há um contrapoder. Asia Times Online já confirmou que acontecerá reunião sumamente importante, ainda nessa semana, no Quirguistão, durante a reunião anual da Organização de Cooperação de Xangai. Imaginem: o presidente Xi Jinping da China, o presidente Vladimir Putin da Rússia e o recém eleito novo presidente do Irã Hassan Rouhani, juntos, na mesma sala, construindo a posição comum dos três sobre a Síria. O Irã ainda é observador na Organização de Cooperação de Xangai – e em breve pode ser admitido como membro pleno. É o que o eixo anglo-franco-norte-americano dedica-se a tentar impedir que aconteça.

E isso nos leva de volta a 12 anos atrás – e ao mito de que jatos de alumínio conseguiriam penetrar as paredes das Torres Gêmeas, e de que bastaria querosene para derreter instantaneamente paredes de aço e revestimento de aço e converter tudo em poeira fofa. Assistam a esse vídeo e extraiam as necessárias conclusões.[4]

Quanto àquele “mal”, a transnacional Terror Inc., nem tinha nome ainda, quando a empresa Jihad International tentava começar a recrutar, no início dos anos 1980s, através de várias instituições islamistas de caridade; em seguida os recrutados foram treinados e pagos pela CIA e pela Arábia Saudita. Até que, um dia, a coisa foi batizada – pelos EUA. – Passou a chamar “al-Qaeda”. Ou, mais corretamente, “al-CIAeda”. E foram elevados à categoria de Mal Absoluto. Essa gente fez o 11/9. E reproduziram-se como coelhos, do Mali à Indonésia. Hoje a CIA trabalha com eles, lado a lado – como fizeram na Líbia. E ansiosamente esperam que a Força Aérea dos EUA abra o caminho para eles até Damasco. Ora, é só business (da guerra). Allahu Akbar [Deus é maior].

[1] http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MID-03-090913.html

[2] O presidente Bashar al-Assad, sim, falou sobre armas químicas de Israel, na entrevista a Charlie Rose (em português em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/09/entrevistapresidente-da-siria-bashar-al.html) [NTs].

[3] Ouve-se em http://www.youtube.com/watch?v=1COcXJgtyl4

[4] Em http://www.youtube.com/watch?v=Rml2TL5N8ds

Publicado em 11/9/2013, Pepe Escobar, Asia Times Online
http://www.atimes.com/atimes/World/WOR-01-110913.html

Traduzido pelo coletivo Vila Vudu