O seminário foi promovido pelo Gabinete Digital do Governo do Estado e, como afirmou o coordenador geral do Gabinete, Vinícius Wu, durante a cerimônia de abertura, “serve para produzir reflexões que se desdobrarão em ações”.

Para o blogueiro Altamiro Borges, que participou do primeiro dia de debates, “há um certo consenso de que estamos vivendo uma grande crise da representação” e o grande papel econômico e político que a mídia exerce seria um dos causadores dessa crise. Na avaliação do secretário nacional do MST, João Pedro Stédile, os movimentos da juventude evidenciam uma “carência de democracia real”.

No debate sobre as novas narrativas e a reforma da comunicação o jornalista Venício Lima avaliou que a crise de representação está “diretamente ligada à mídia” já que esta “produz um discurso que desqualifica a política e os políticos” e que “por defender interesses privados, a velha mídia exclui mais do que representa”. Antônio Martins, criador do Le Monde Diplomatique Brasil, defende que é preciso “enfrentar a velha mídia quando ela diz que todos políticos são iguais, e que a política é um estorvo à sociedade”.

Em meio a discussões sobre a reforma política, Joaquim Palhares, editor e fundador da Carta Maior, defende que essa não é a principal reforma a ser feita, para ele “a mãe de todas as reformas é a da comunicação”. Antônio Escosteguy Castro, advogado e colunista do Sul 21, acredita que os protestos criaram um contexto para a discussão dessa reforma: “nós temos que aproveitar o momento e fazer com que o governo e o parlamento assumam o debate da comunicação”.

Sobre o lugar do jornalismo em meio às novas narrativas, o editor da Revista Fórum, Renato Rovai, sustentou que “o jornalismo não vai morrer em função das novas tecnologias, mas ele mudou de lugar”. “O bom e velho jornalismo vai sobreviver e ele é fundamental. Ter que apurar é mais complexo, mas é fundamental”, defendeu Lino Bocchini, editor de mídia online da Carta Capital.

No segundo debate do dia, sobre novas tecnologias e reforma das instituições democráticas, o sociólogo Sérgio Amadeu falou sobre a insuficiência das estruturas representativas para absorverem as necessidades de participação. Ele ainda propôs o uso de ferramentas interativas para a construção de uma democracia deliberativa: “A maior das liberdades que uma pessoa possui é a liberdade de deliberar e discutir questões políticas”. Já o professor da Universidade Federal da Bahia Wilson Gomes não acredita na existência de uma crise da democracia representativa, para ele não se trata de uma crise, pois “a democracia é um sistema em que você tem que ir corrigindo os problemas e os defeitos ao longo do tempo”, no entanto, ele endossa a visão apresentada por outros debatedores de que “faltam canais de participação”. Para o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Marco Cepik o problema é de “crise das estruturas de intermediação”. Natália Viana, jornalista da Agência Pública, ainda acrescentou ao debate a questão da “falta de representatividade e credibilidade” da mídia, que na sua visão “foi intensificada com os protestos de julho”.

A cientista política Celi Pinto abriu a última mesa de debates defendendo a necessidade dos partidos políticos à democracia: “A soma das opiniões individuais não é política”. Bernardo Gutiérrez, articulador internacional do 15M na Espanha, falou sobre a experiência do movimento “Maré Cidadã” e contou: “Os partidos chegaram incorporados ao movimento, sem exercer liderança”.

Para Benedito Tadeu César, também cientista político, “estamos passando por um momento de muitas transformações. É uma crise geral e mundial”. E, após dois dias, o diretor do Centro de Estudos Europeus, Eirikur Bergmann, encerrou os debates elogiando as experiências de participação em Porto Alegre e deixando no ar a pergunta: “A democracia participativa é a resposta?”.