Palmeiras deve receber técnicos e jogadores cubanos
Integrante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Aldo Rebelo, ministro do Esporte, visitou Cuba no último mês de fevereiro para estabelecer um acordo de intercâmbio em diferentes modalidades entre os dois países. Uma das primeiras ações deve ser o período de treinamento de boleiros da ilha caribenha no Palmeiras, time de coração do titular da pasta.
“Firmamos um convênio com a Federação Cubana de Futebol para facilitar o acesso do país a treinamento e preparação de equipes técnicas e jogadores no Brasil não apenas via entidades e federações, mas também via clubes”, explicou Aldo Rebelo, que presenteou René Perez Hernandez, do Comissionado Nacional do Futebol, com uma camisa do Palmeiras durante sua estadia na ilha.
Neste momento, o clube presidido por Paulo Nobre, investidor do mercado financeiro, estuda detalhes burocráticos e logísticos do período de estágio dos boleiros cubanos. Além de cumprir as formalidades técnicas do acordo firmado pelo Ministério do Esporte, falta definir a parte prática do projeto, como a quantidade de treinadores e jogadores a serem recebidos e o período exato da estadia, entre outros aspectos.
Gazeta Press
Apostando em modalidades como boxe, atletismo e judô, Cuba chegou a rivalizar com as principais potências olímpicas no auge do governo de Fidel Castro, mas nunca conseguiu destaque no futebol, embora tenha sido a primeira nação do Caribe a disputar uma Copa do Mundo. Um combinado formado por jogadores que jamais haviam deixado a ilha jogou como convidado na França-1938 e alcançou as quartas de final.
Afastada da Copa do Mundo desde então, Cuba não estará no Brasil-2014, já que terminou as Eliminatórias com cinco derrotas e um empate em seis partidas disputadas, deixando o torneio com um saldo de nove gols negativos. Como todos os esportes na ilha, o futebol permanece amador, mas vem mostrando alguns sinais de evolução nas últimas temporadas.
Depois de ficar com três vice-campeonatos da Copa do Caribe (1996, 1999 e 2005), Cuba finalmente conquistou o título em 2012. O feito inédito, alcançado na vizinha Antígua e Barbuda no fim do ano passado, classificou a nação para a Copa Ouro da Concacaf pela quarta vez nas últimas cinco edições do torneio continental, disputado em julho – a seleção goleou Belize na primeira fase e passou para as quartas, mas perdeu para o Panamá, que seria vice-campeão.
Parte do crescimento da modalidade na ilha pode ser creditado ao investimento da Fifa. De 1998 a fevereiro de 2013, a entidade despejou mais de US$ 5,1 milhões no desenvolvimento do futebol cubano, de acordo com números apresentados em seu site oficial. O suíço Joseph Blatter, presidente do órgão, esteve no país no último mês de abril e foi recebido por Raul Castro, irmão de Fidel e atual presidente.
Na categoria sub-20, Cuba também logrou um feito expressivo ao se classificar pela primeira vez em sua história para a Copa do Mundo da categoria, disputada na Turquia em junho – o país caribenho acabou derrotado por Portugal, Nigéria e Coreia do Sul na fase classificatória. Com o acordo de intercâmbio firmado com o Brasil, os dirigentes da ilha esperam alavancar o processo de evolução.
Se agora os cubanos se preparam para excursionar pelo país pentacampeão, nos anos 1960 o Madureira fez o caminho inverso. Com o prestígio do futebol nacional em alta pelo bicampeonato da Seleção na Suécia-1958 e no Chile-1962, vários times aproveitaram para lucrar com exibições no exterior em maio de 1963. Além de Botafogo, Fluminense, Flamengo e Vasco, também viajaram Bangu, Bonsucesso e Madureira.
O pequeno time suburbano venceu os cinco jogos disputados em Cuba. O triunfo por 3 a 2 sobre um combinado de Havana no dia 18 de maio foi acompanhado pelo argentino Ernesto ‘Che’ Guevara. O guerrilheiro exerceu papel fundamental na revolução comandada por Fidel Castro em 1959 e na época ocupava o cargo de ministro da Indústria.
Condecorado pelo então presidente brasileiro Jânio Quadros em 1961, Che foi amável com a delegação do Madureira. Fã do Rosário Central, o argentino que tem sua imagem reproduzida por incontáveis torcidas ao redor do mundo gostava de futebol. Durante a viagem pela América do Sul ao lado do amigo Alberto Granado em 1952, chegou a atuar como técnico e goleiro do Independiente Sporting Club, da cidade de Letícia, na região amazônica da Colômbia.
“No começo, pensamos em apenas dar os treinos para evitar um papelão, mas como (os jogadores) eram muito ruins, decidimos jogar”, contou Che em uma carta enviada à mãe. Ele foi para o gol e Granado, como centroavante, ganhou o apelido de Pedernerita em alusão a Adolfo Pedernera, que formou a linha de frente da ‘Máquina’ do River Plate com Muñoz, Moreno, Labruna e Loustau. “Defendi um pênalti que vai ficar para a história de Letícia”, escreveu o futuro guerrilheiro, vice-campeão de um torneio local. Os dois amigos seguiram viagem para Bogotá e teriam conhecido Alfredo Di Stefano antes de um jogo entre Millonarios e Real Madrid.