Matadouro do Dia
Matadouro do Dia
Avisem os tristes da cidade:
darei de beber
de meus olhos perfurados
A quem ficar ao meu lado.
Darei de comer
de meu corpo torturado
aos nus e desesperados.
Venham beber o vinho amargo
da minha bêbada amizade
os que nunca se encontraram.
Voltaremos tristes para casa
( o peso do mundo nos ombros ).
Só depois de beber, e ficar puros
esqueceremos as coisas
( seus escuros muros altos )
Venham beber o vinho amaro-amargo
do meu sangue violentado.
No porto inseguro de mim
há pão e fel para todos.
O país é rico e sujo:
Amanhã seremos degolados.
Darei de beber
do meu sangue aleijado
aos tristes, aos suicidas
aos pederastas, às prostitutas.
VAMOS TODOS, MUTILADOS
AO MATADOURO DO DIA!
(In Hotel do Tempo, Editora Civilização Brasileira, 1982)
Brasigóis Felício – http://poesiaemartini.blogspot.com.br