A oficina do sapateiro

 

 

Em toda cidade existe uma rua na qual, se a gente presta bem atenção, achará certa tenda muito antiga. O recinto é pequeno, e tão escuro que seu teto se funde com as sombras. Numa das paredes estará uma litografia quase indecifrável – um almanaque talvez, ou alguma estampa sagrada.

 

 

Perto do umbral há sempre um balcão bem baixo – na minha cidade, no povoado em que vivo, está pintado de anil; e em cima dele se vê a fadiga, se vê a matéria, se vê a idade das coisas que ali negociam.

 

 

E numa portazinha lá dos fundos, se a gente presta bem atenção, poderá ver o dono, segurando o seu avental enorme, na mão o martelo esbelto e eternamente velado o seu rosto na penumbra.

 

 


Eliseo Diego – Debaixo dos astros –Poesia
Tradução de Thiago de Mello