Senadores favorecidos pela indústria bélica votam pela intervenção na Síria
Empresas como Lockheed Martin, Boeing, United Technologies e Honeywell International gastaram – conforme destaca a revista – mais de US$ 1 milhão nas campanhas pré-eleitorais dos 17 membros da Comissão de Assuntos Externos do Senado dos EUA. E os dez senadores que, finalmente, votaram a favor da intervenção na Síria haviam recebido 83% mais verbas do que os sete senadores que votaram contra.
Indicativamente, os três senadores mais favorecidos pela indústria de defesa nesta votação foram: John McCain, (US$ 176 mil), Dick Durbin, (US$ 127.350) e Timothy Kaine (US$ 101.025).
O custo em vidas humanas e as catástrofes materiais não preocupam, particularmente, os falcões neoliberais do governo de Washington, quando, aliás, a cada vez mais automatizada máquina de guerra dos EUA está restringindo, gradualmente, as “suas” perdas e, consequentemente, o risco de transmissão pela televisão de cenas da chegada de féretros de países longínquos com os restos mortais de soldados norte-americanos mortos nas guerras de Exportação de Democracia, envolvidos nas bandeiras de estrelas e listas. Mas prevalece o mesmo, também, para o custo econômico?
Custo da guerra
Os inspiradores da invasão no Iraque calculavam, em 2002, que a intervenção que passaria as ricas jazidas de petróleo e gás natural daquele país para o permanente controle norte-americano não superaria US$ 60 bilhões, isto é, alguns “trocados” em comparação com os lucros esperados. Larry Lindsey, presidente do Conselho Nacional de Economia do então governo de Bush Jr. teve a coragem de duvidar da conta, elevando o custo a US$ 200 bilhões. Foi demitido.
Finalmente, o término da guerra e a prolongada ocupação militar superaram todos os cálculos. A jornalista Linda Bilmes, que escreveu junto com o prêmio nobel Joseph Stiglitz o livro A Guerra dos US$ 3 trilhões, realizou prolongada pesquisa para examinar o custo econômico total da guerra calculando, simultaneamente, cada parâmetro.
Segundo a avaliação, “as guerras no Iraque e no Afeganistão custarão ao erário norte-americano até US$ 6 trilhões. E isto porque, antes de mais nada, o custo de uma guerra continua mesmo após o término do conflito. A primeira Guerra do Golfo, em 1991, foi concluída em apenas seis semanas, enquanto a maior parte de seu custo foi coberta pelos então aliados dos EUA. Contudo, não existiam petrodólares para pagarem as ajudas de custo dos veteranos que sofriam da denominada Síndrome do Golfo, e ainda hoje o orçamento dos EUA está sendo onerado por este motivo com US$ 4 bilhões anuais”.
Verbas emergenciais
O custo de previdência social dos veteranos cresce após cada guerra”, concluem os dois autores em sua obra. O erário norte-americano gastou mais com os veteranos da I Guerra Mundial em 1969 do que com os veteranos da II Guerra na década de 1980. Aliás, Linda Bilmes calcula que “o custo das guerras futuras será ainda maior, por causa dos mais elevados percentuais de sobrevivência dos veteranos, das mais generosas ajudas de custo e da mais custosa assistência médico-hospitalar dos veteranos”.
Naturalmente, não se trata apenas da questão dos veteranos. Começando pela Guerra do Afeganistão, o governo de Bush Jr. pediu e conseguiu a aprovação do Congresso dos EUA para “verbas complementares emergenciais” que financiariam a guerra. Esta manobra permitiu ao Pentágono e à indústria bélica evitarem qualquer controle. E como era esperado, houve continuação.
Na década após o 11 de Setembro, os governos dos EUA invocaram 37 vezes “necessidades emergenciais” para financiarem diversas operações militares. Algo que, em sintonia com as extensas isenções tributárias inventadas por Bush Jr., em 2001 e 2003, acrescentaram outros US$ 2 trilhões ao total da dívida norte-americana.
Preço do petróleo explodiu
Mas o mais convincente elemento da pesquisa de Linda e Stiglitz é que o custo exato de qualquer disputa bélica é impossível de ser calculado antes de ser eclodida. “Não resta a menor dúvida que os primeiros-ministros e presidentes acreditam que podem existir pequenos golpes militares ‘cirúrgicos’ e, assim, manterem o controle absoluto da situação. Mas não é nada disso.”
“Quando começam ocorrer coisas assim, existe a lei das consequências culpáveis”, disse em seu discurso no plenário da Câmara dos Comuns da Grã-Bretanha, por motivo da atual crise na Síria, o almirante de esquadra e ex-chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas britânicas Lorde Alan West. E os deputados britânicos foram convencidos.
Como exemplo característico de “consequências culpáveis”, Linda Bilnes apontou a explosão dos preços do petróleo após a invasão do Iraque: “De US$ 25 por barril em 2003 atingimos o recorde dos US$ 140 por barril em 2008, com os preços mantendo-se desde então estavelmente acima de US$ 100 o barril.”
“As lições após 12 anos de guerra no Afeganistão e no Iraque”, conclui Linda, “são que os EUA desvalorizaram o custo, contraíram gigantescos empréstimos para financiarem as duas guerras, tendo sido impossibilitados, paralelamente, de controlarem em que, exatamente, está sendo gasto cada dólar”. Erros que, naturalmente, a indústria bélica tem todas as razões deste mundo de ver repetidos, também, no caso do eventual ataque que o presidente Barack Obama prometeu.