Luiz Dulci fala do salto que o Brasil deu para o futuro
“A oposição não tem um programa de políticas alternativas para o país. A não ser voltar a um programa neoliberal”, afirmou Luiz Dulci, ex-ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, no entrevistaFPA desta segunda-feira, 23. Ele vê um descrédito da população na oposição, que desde 2003 lança “profecias” de uma crise que não ocorreu. “É luta política falar que o Brasil está em crise. A oposição, em 2003, já falava que o Brasil teria uma crise cambial, e ela não estourou. Que país em crise teria gerado 127 mil empregos formais? Manter a geração de emprego, como tem conseguido, no governo da presidenta Dilma Rousseff? Indo bem na agricultura familiar e outras áreas”, desafiou.
Ele citou ainda a “crise do tomate”, que de uma questão sazonal mobilizou a oposição e parte da mídia, em um suposto exemplo de descontrole inflacionário. “Não houve, e descredencia a oposição e parte da mídia”. Na sua avaliação, ações como esta são “tentativa de criar um clima de desconfiança, mas como dizia o mestre Paulo Freire, uma política transformadora tem que ser feita com denúncia, mas também com anúncio”.
Durante a entrevista ao presidente da Fundação Perseu Abramo (FPA), Márcio Pochmann, Dulci disse que o êxito das políticas implementadas no Brasil, nos últimos doze anos, são a razão de inúmeros convites a Lula para palestras, reuniões e seminários, desde que deixou a Presidência. A agenda do ex-presidente, quando não está visitando dirigentes de outros países, começa às 9h30, no Instituto Lula, e termina após 21h.
“Em geral, os ex-presidentes se retiram de cena, a não ser que queiram concorrer novamente. O Lula é diferente, não se afastou do governo, e mesmo sem papel institucional definido tem colaborado com o governo da Dilma, além das questões externas”, afirmou o petista, que acredita que a postura ativa de Lula contribuirá para a sociedade brasileira perceber o papel que pode assumir um ex-presidente.
Lula é um acervo
Na intensa agenda de Lula, o diálogo é plural. Passam pelo Instituto Lula representantes dos movimentos social, sindical, empresários, chefes de Estado e líderes dos cinco continentes. Segundo Luiz Dulci, Lula não apenas tem visitado frequentemente países da África, Panamá, Haiti, Cuba, entre outras nações, para dialogar e participar de conferências, mas também para trocar experiências e opinar sobre temas diversos. “Ele recebeu mais de 60 títulos honoris causa, por conta da experiência no governo, que garantiu mudanças profundas no Brasil”. Vários livros têm sido dedicados ao dirigente, por conta do salto histórico promovido no país, nas gestões petistas. “O Brasil mudou de patamar, na sua realidade produtiva, no desenvolvimento social, na renda, mas, também, no seu lugar no mundo”.
Segundo Dulci, mais de 20 livros já foram publicados sobre a experiência brasileira, na França, Itália, Inglaterra, e na Coréia do Sul há uma antologia dos discursos do ex-presidente, que foram temas de trabalho nas universidades. “A importância do Lula é grande em todo o mundo. Ele é um acervo de nosso país”, salientou.
Dois dos principais trabalhos acompanhados por Dulci e que tomam boa parte do tempo do ex-presidente são: o desenvolvimento da África e a integração da América Latina – tema de um seminário que o Instituto Lula fará, em conjunto com a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), no final deste ano, no Chile.
O diretor do Instituto Lula também falou sobre a satisfação de relatar de forma simples sua experiência por oito anos no Planalto, em seu mais recente livro – Um salto para o futuro, da Editora FPA. “Tentei abordar um assunto complexo para a maioria da população. O discurso do Lula é isso: falar de coisas complexas de forma simples”.
Palácio foi aberto
O ex-ministro de Lula, que já foi secretário de Organização da primeira executiva nacional do PT, Luiz Dulci valorizou a democracia participativa. “Está no DNA do PT”. Ao chegar no Palácio da Alvorada, o ex-ministro contou que o desafio era dar espaço a determinados setores que nunca tinham participado da cena política nacional. “Essa já era uma experiência nas gestões municipais e estaduais. Sempre acreditamos que é preciso governar junto, para ter correlação de forças; porque se as classes populares ficarem na plateia, o governo não terá forças para por em prática seu programa”.
Foram implementadas mesas permanentes de negociação com variados setores e realizado dezenas de conferências. “O Palácio foi aberto para a população, da Confederação da Indústria ao Movimento LGBT; do agronegócio até as quebradeiras de coco. Isso também é ampliação da democracia”. O governo Lula, segundo ele, protagonizou também uma verdadeira política de desenvolvimento regional. “Era regra, ao pensar políticas, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), considerar todas as regiões do país. O Lula fez o que dizia Celso Furtado”, emendou.
Desafios
Dulci reconhece, porém, que é preciso avançar no setor da comunicação, da política eleitoral e dar um salto na tecnologia do conhecimento. “As verdadeiras rádios comunitárias não são ainda tratadas como deveriam ser. Rádios são usadas como partidos políticos”. Ele defende que mais setores tenham meios de comunicação. “Não acho que devemos interferir em conteúdos e nem tomar os meios de comunicação que existem. Precisamos ampliar para os excluídos. Temos que pluralizar”.
Na avaliação de Dulci, o Brasil superou a estagnação do período neoliberal. “Combatemos a pobreza e a miséria, mas temos que continuar combatendo as desigualdades e preconceitos”. Para ele, parte dos desafios que têm de ser enfrentados surgiram nas manifestações de junho. “População quer mais. Quem conquistou dez, quer conquistar 20. Hoje tem vagas para todos na escola, agora se reivindica a qualidade dessas vagas.” O petista disse que a verdadeira esquerda tem que valorizar as suas tradições, fazer autocrítica, para que se possa enfrentar os desafios. “O PT sempre teve muita capacidade de evoluir e fazer autocrítica”.
entrevistaFPA
Esta foi a quarta edição do entrevistaFPA. Apresentado por Márcio Pochmann, presidente da Fundação, o programa já teve a participação do professor Reginaldo Carmelo de Moraes, que abordou os desafios para a educação no país; do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu; e do economista João Sicsú, para o lançamento de seu livro “Dez anos que abalaram o Brasil. E o futuro”.
O entrevistaFPA é formado por três blocos de perguntas e o último dedicado às questões, comentários e observações de internautas, que chegam pelo e-mail [email protected], ou pelas redes sociais da Fundação: pelo twitter @fpabramo ou pelo Facebook, www.facebook.com/fundacao.perseuabramo.