Grécia em estado de choque mobiliza-se contra o fascismo
Depois dos últimos atentados cometidos pelos bandos do Aurora Dourada, pelo menos perante a inércia da polícia e mesmo com a sua colaboração, como aconteceu nas últimas horas, a Grécia ganha consciência de que existe uma ligação objectiva entre a política e o governo da troika e o crescimento da ameaça nazi. Essa noção está no centro das últimas mobilizações populares em Atenas e em várias outras cidades, entre as quais Tessalónica, contra o assassínio de Pavlos Fyssas e que, como aconteceu na capital, foram reprimidas pela Polícia Anti Motins (MAT) com a colaboração de bandos nazis civis – como o vídeo testemunha.
Milhares de pessoas saíram às ruas revoltadas contra o assassínio de Pavlos Fyssas, o músico antifascista conhecido por Killah P., evocando também o recente ataque de tropas de assalto do Aurora Dourada contra militantes comunistas do KKE, o Partido Comunista Grego.
A Polícia Anti Motins foi destacada pelo governo da troika para reprimir estas manifestações e, ao mesmo tempo, permitiu que sob a sua protecção bandos de nazis tivessem lançado pedras contra os participantes. A uma ordem do comandante de pelotão, as forças policiais lançaram-se sobre os manifestantes e também através das ruas adjacentes à da concentração popular, atingindo igualmente pessoas que estavam de passagem e recorrendo a gases tóxicos numa zona da cidade densamente povoada.
Uma testemunha ocular do assassínio de Pavlos Fyssas citada pela imprensa grega expõe e confirma, entretanto, a conivência entre polícias e grupos de assalto do Aurora Dourada na execução do músico antifascista. Desmontando a tese que tem saído das zonas governamentais e segundo a qual a tragédia foi fruto de “uma rixa por causa de futebol”, o homem explicou que, pelo contrário “foi obra de 15 a 20 fascistas sob a passividade das forças da ordem”.
A testemunha relatou que a perseguição, cerco e apunhalamento do músico, “uma vez no coração e duas na barriga”, foi presenciada por agentes da DIAS, a polícia motorizada, que esperou pelo desfecho do episódio e pelo abandono do local pela maioria dos criminosos para prender o assassino, denunciado pelo próprio Fyssas. Mesmo assim, a prisão foi executada por um único agente, sem auxílio dos colegas. Os serviços médicos chegaram apenas 35 minutos depois, uma demora que terá sido fatal para o militante antifascista.
Cerca de 20 organizações sindicais subscreveram entretanto um manifesto apelando à luta contra o fascismo sublinhando que “o povo tem o direito de esmagar o mecanismo criminoso do Aurora Dourada que ataca os bairros populares”. O documento sindical acrescenta que “temos necessidade de uma mobilização popular em massa e de uma acção de todos os trabalhadores e dos jovens para isolar os criminosos do Aurora Dourada em cada local de trabalho, em cada sector, em cada bairro popular”.
O Aurora Dourada, consideram os sindicatos signatários, “é um mecanismo do sistema podre do capitalismo”, que “pretende aterrorizar cada trabalhador, cada jovem que levanta a cabeça e que luta contra esta política de barbárie”.
Karolas Papoulias, o presidente da República da Grécia, distanciou-se ele msmo do cenário de poder controlado pela troika e, a propósito do assassínio de Pavlos Fyssas, reconheceu que “infelizmente, não é evidente até agora que para afrontar este ódio contra a democracia não basta devolver-nos a bola, devemos todos assumir as nossas responsabilidades – e imediatamente”. Para Papoulias, “o despertar institucional e o acordar social são condições necessárias, do mesmo modo que uma política determinada na repressão de um fenómeno odiento”. O chefe de Estado considera que “existem os meios para isso”, mas a imprensa grega interroga-se sobre a compatibilidade entre esta mensagem e o comportamento sob as ordens da troika assumido pela coligação Nova Democracia/socialistas em que assenta o governo de Samaras.
“A nossa pátria tem uma forte tradição democrática e um passado brilhante na protecção dos direitos humanos e da liberdade”, escreve Papoulias. Por isso, acrescenta, “temos todos o dever de não deixar as ruas abertas ao fascismo, nem mesmo uma fenda”.
A consciência da ligação entre o crescimento do terror representado pelo Aurora Dourada e as consequências da tragédia social provocada pela associação entre o FMI a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (a troika) é já evidente na sociedade grega. O presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Atenas, o empresário Constantin Michalos, vai mais longe. Numa entrevista ao The Independent afirmou que “o Aurora Dourada faz os biscates sujos do governo” e que “a classe política é menos crítica do Aurora Dourada em privado do que em público”.
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