Colocando no chão a bola dos estádios
Antigo e sábio dogma do futebol recomenda “colocar a bola no chão” quando o jogo está difícil e truncado. Pois bem, o conselho deve ser acatado no tocante aos dados relativos aos estádios da Copa do Mundo de 2014, transformados em argumento político no embate retórico entre governo e oposição e nos recentes protestos do “Gigante Despertado”. Números dispersos – ora exagerados, ora subestimados – têm alimentado o imaginário coletivo, suscitando uma discussão mais panfletária do que matemático-financeira e um confuso bate-rebate.
Assim, é importante uma contribuição no sentido de tabular e reunir as informações sobre o tema, de modo que se tenham parâmetros adequados para o juízo de valores dos que são contra ou a favor dos investimentos na realização no país do maior evento esportivo internacional. Os aportes diretos nas obras dos 12 estádios nas cidades-sedes somam R$ 7,107 bilhões.
Deste total, há o seguinte empenho de recursos: R$ 3,8 bilhões de financiamentos; R$ 1,493 bilhão dos orçamentos de governos estaduais; R$ 14 milhões das prefeituras; R$ 1,015 bilhão do Governo do Distrito Federal; e R$ 820 milhões da iniciativa particular. Não há dinheiro do orçamento do Governo Federal na construção dos estádios. Ocorreram algumas isenções tributárias de matérias-primas. Os dados constam do Portal da Transparência e do Tribunal de Contas da União.
Dentre todos os estádios, apenas um – o de Brasília – não contou com financiamento do BNDES. No total, esta instituição, nas 11 arenas às quais concedeu crédito, despendeu R$ 3,8 bilhões. Na linha denominada ProCopa, estabeleceu-se que poderiam ser financiados 75% de cada obra, desde que esse índice não ultrapassasse o teto de R$ 400 milhões. Como em qualquer empréstimo, o banco receberá os pagamentos dos tomadores dos créditos, sejam eles clubes privados ou governos estaduais e municipais.
As condições dos financiamentos são as seguintes: TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), acrescida da remuneração do BNDES, de 0,9% ao ano, mais spread de risco. Nos financiamentos indiretos incide também a taxa de intermediação financeira, de 0,5%. Estes são os casos das arenas Beira Rio, de Porto Alegre (repasse de recursos por meio do Banco do Brasil e Banrisul), Fonte Nova, de Salvador, e Pernambuco (Banco do Nordeste de Desenvolvimento). O prazo para o pagamento será de 15 anos, incluindo até três de carência.
Os valores do financiamento para cada estádio são os seguintes: Amazonas (R$ 400 milhões); Bahia (R$ 323,6 milhões); Ceará (R$ 351,5 milhões); Minas Gerais (R$ 400 milhões); Mato Grosso (R$ 393 milhões); Pernambuco (R$ 400 milhões); Paraná (R$ 131 milhões); Rio de Janeiro (R$ 400 milhões); Rio Grande do Norte (R$ 396,5 milhões); Rio Grande do Sul (R$ 275,1 milhões); e São Paulo (R$ 400 milhões).
No caso da arena paulista, os recursos ainda se encontram em processo de liberação pelo BNDES, embora já estejam computados nessa planilha. As concessões de todos os financiamentos foram condicionadas à aprovação técnica prévia dos projetos pela Fifa, apresentação de orçamento detalhado dos investimentos, realização de estudo de viabilidade econômico-financeira da arena, contemplando sua sustentabilidade financeira no longo prazo, e a apresentação das garantias de praxe do mercado financeiro.
Um dos principais argumentos contrários às obras dos estádios refere-se ao fato de que os recursos poderiam ser destinados à Saúde e à Educação. No entanto, além de não haver dinheiro do orçamento federal nos empreendimentos, esses dois setores prioritários tiveram verba somada, somente em 2013, de R$ 180 bilhões. Menos de 4% desse montante representa o valor das arenas, diluído ao longo dos três anos de sua execução e considerando os financiamentos do BNDES e aportes diretos de estados, prefeituras, Distrito Federal e clubes.
Também é interessante observar que os estrangeiros que visitaram o Brasil no primeiro semestre, sendo parte expressiva motivada pela Copa das Confederações, injetaram R$ 7 bilhões no país, praticamente o valor das obras das arenas. O número, divulgado pelo Banco Central, significa crescimento de 9,6% em relação ao mesmo período de 2012.
Outro dado a ser considerado consta de estudo da consultoria Ernest Young e da Fundação Getúlio Vargas: a Copa pode criar 3,6 milhões de empregos no Brasil e gerar, para cada real aportado pelo setor público em sua realização, R$ 3,40 investidos pela iniciativa privada.
Cabe grande esforço de todos os envolvidos para que o evento, assim como a Olimpíada de 2016, deixe legados consistentes e contribua para o fortalecimento da economia e do turismo no País.
Juan Quirós, presidente do grupo Advento e vice-presidente da Fiesp/Ciesp.
Publicado no Monitor Mercantil