“O espírito de Salazar demora a sair da Ponte 25 de Abril”
Para o governo, o problema da manifestação da ponte “não é o peso das pessoas, é o peso do descontentamento que sabe existir, é uma questão do seu próprio medo e do confronto com a democracia e não de segurança”, denunciou a eurodeputada Marisa Matias na Antena 1. “Já era altura, acrescentou, “de o espírito de Salazar deixar de vez a ponte de Lisboa”.
As dificuldades causadas pelo regime à realização da grande manifestação de protesto convocada pela CGTP para o próximo sábado unindo as duas margens do Tejo foi o tema da intervenção semanal da deputada europeia do Bloco de Esquerda, integrada no GUE/NGL, no programa Conselho Superior da Antena 1. “Já sabíamos há muito que este governo tem horror às pontes e que a única ponte que faz é com a troika”, disse Maria Matias. Mas ao provocar esta situação, tentando levantar restrições ao direito de manifestação próprio de um Estado de direito, “o governo está numa estratégia de cada vez maior confrontação com a sociedade e de humilhação da sociedade”.
Como exemplo de que as situações de segurança e de níveis de risco invocadas pelo serviço de espionagem e pela PSP são artificiais, não passam “de manobras”, Marisa Matias lembrou que a Ponte 25 de Abril já foi cenário dos mais diversos tipos de acontecimentos de grandes dimensões e para os quais os problemas a resolver “tiveram sempre solução”.
“A ponte está feita para aguentar com comboios cheios de gente, camiões, engarrafamentos… O problema não é o peso das pessoas é o peso do descontentamento que o governo sabe que existe”, declarou a eurodeputada. Além disso, no Porto, onde o protesto está igualmente previsto para uma ponte, não foram levantados estes problemas. “Cabe ao Estado de direito garantir que se realizem manifestações em segurança e com condições”, disse Marisa Matias. E nesta situação, acrescentou, existe uma oportunidade para “o Estado de direito dar uma garantia de que a democracia não está toda raptada, garantindo a segurança da manifestação”.
Na sua intervenção, a eurodeputada do Bloco de Esquerda expôs a verdadeira razão que está na origem das invocações oficiais contra a manifestação. “Quando se anunciam cortes de dez por cento dos salários, cortes nas pensões de sobrevivência, quando um relatório da Cruz Vermelha Internacional revela a espiral de empobrecimento em que se encontra a União Europeia, que atravessa a maior crise humanitária dos últimos sessenta anos, o governo começa a ter medo, mas isso não se resolve com a democracia unilateral, tem de ser com a participação de todos”, explicou.
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