O ciclo Classes Sociais, uma iniciativa da Fundação Perseu Abramo (FPA) e a Fundação Friedrich Ebert (FES), se encerrou nesta quinta-feira, com a participação de Márcio Pochmann, economista e presidente da FPA. A estrutura de classe do capitalismo industrial em transição foi o tema abordado pelo economista, um estudioso do assunto há mais de dez anos, que destacou que esta “é uma estrutura em movimento”. “Estamos em nova etapa do capitalismo e por isso precisamos pensar em outro socialismo”, diz ele, sobre os dilemas da esquerda no governo brasileiro, após avançar em alguns aspectos, mas estacionar nas grandes reformas necessárias.

Pochmann iniciou sua apresentação retomando momentos históricos importantes na formatação do capitalismo mundial, que “atuou a partir da relação com os impérios, como o português, o inglês e depois os Estados Unidos. A duas guerras mundiais tiveram relação com as alterações nas hierarquias do capitalismo”.

Segundo Pochmann, vivemos uma transição dos Estados nacionais e a monopolização do capitalismo, o que pode ser exemplificado com números: o resultado das quatro maiores corporações mundiais equivalem ao PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Mas, para ele, vivemos também um momento que exige “humildade para entender o capitalismo neste começo de século 21”.

Mesmo com todas as alterações ocorridas no mundo, o capitalismo continua o mesmo, mas se apresenta de formas diferenciadas a partir das dinâmicas das sociedades. “Capitalismo produz uma sociedade fundada no dinheiro, que desconstrói as individualidades”, afirmou, alertando também que o capitalismo monopolista e transnacional mina a ação dos Estados nacionais. A ação do pensamento neoliberal nos anos 1990 foi fundamental neste sentido, diz Pochmann.

A situação do Brasil se alterou desde o início do primeiro governo Lula, que patrocinou mudanças profundas, seja na mobilidade social ou na distribuição de renda. Além destes aspectos, a imagem do país no mundo mudou, mas o país não fez as grandes reformas necessárias, afirmou Pochmann. Por isso, acrescentou o presidente da FPA, “vemos que no capitalismo todos se movem, mas uns sobem de elevador, e os pobres vão de escada”.

As políticas públicas do governo Lula inverteram a lógica de que era preciso crescer para depois distribuir. E o Estado mínimo, até então defendido com unhas e dentes pelo capitalismo, “tinha o monopólio da violência, da moeda e da arrecadação. Mas o Estado foi obrigado a assumir responsabilidades”, lembrou Pochmann.

O capitalismo hoje está com força no setor terciário e “a sociedade que emergiu não vem da indústria, mas dos serviços”. Para Pochmann, o método de políticas públicas não resolve todos os problemas: “é preciso repensar a maneira como fazemos, e precisamos de políticas com visão universal dos indivíduos e nosso orçamento por rubrica é uma política mal feita”, explicou.

“Estamos em nova etapa do capitalismo e por isso precisamos pensar em outro socialismo”. Para além desta sugestão, o presidente da FPA também defendeu que é necessário um bom e denso debate de estratégia nacional, empenho de reindustrialização do Brasil e reforma política. “Esse debate interessa a todos, mas os partidos devem ter um interesse maior no assunto”, concluiu.