O Brasil não integra a cadeia imperialista
“Porque o fundamento remoto da ideia é neotrotskista e hodiernamente no Brasil aparece nas formulações de Ruy M. Marini. Este, ainda nos anos 1970 adotava a categoria de ´subimperialismo´ brasileiro, acoplado à teoria da dependência – de vilipendiada memória ´esquecida´! Mas havia esforço laborativo em Marini, onde dependência, superexploração do trabalho e subimperialismo coexistiam…”
Na opinião de Barroso, o tema merece desenvolvimentos atuais, o que ele pretende fazer mais adiante. O texto abaixo foi anotado para uma exposição de cinco minutos.
O Brasil não integra a cadeia imperialista
Durante a Plenária do 13º Congresso do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) – realizada entre os dias 14 a 16 de novembro, no Anhembi, em São Paulo – o membro do Comitê Central, Aloisio Sérgio Barroso, chamou a atenção em sua intervenção sobre o grave equívoco de uma corrente de opinião no movimento comunista internacional que considera o Brasil, integrante da cadeia imperialista.
Camaradas delegados e delegados ao nosso 13º Congresso do Partido Comunista do Brasil.
Queria me referir a duas coisas. Primeiro é que simplesmente não conheço nada que se compare a essa alegria, a solidariedade e a confraternização revolucionárias que sempre transpiram nos nossos congressos! Não conheço nada igual, repito.
Em segundo lugar – e peço a atenção desse Plenário -, é dizer que existe hoje uma corrente de opinião no movimento comunista internacional que considera o Brasil, nosso país, como integrante da cadeia imperialista, que o Brasil faria parte de uma pirâmide do sistema imperialista mundial, notadamente incidindo sobre a América Latina, inclusive em seus processos de integração contemporâneos. Essa opinião não é segredo, ela é pública e vem sendo dita aos quatro cantos do mundo.
Quero dizer também e publicamente a quem interessar possa: trata-se de um grave equívoco, e com implicações e verdadeiramente desastrosas! Primeiro, porque aí não se compreende a essência da teoria de Lênin sobre o imperialismo, como sendo um estágio dos países capitalistas mais desenvolvidos que, desde o final do século 19 fizeram a fusão do capital industrial com o capital bancário, transformando-se ainda aquela época num capitalismo mais desenvolvido e pouco a pouco sendo dirigido pelas oligarquias financeiras.
Por exemplo, nos casos expressivos dos EUA e da Alemanha, os processos de conglomeração industrial e financeira ocorreram de maneira distinta para chegarem a um mesmo estágio no sistema de relações internacionais. Assim, os EUA fizeram a sua fusão através da força de acumulação do capital industrial a incidir sobre os bancos (o banco J.P. Morgan a exemplo tem origem na acumulação de capital nas ferrovias). Já Alemanha, bancos já no nascedouro de sua fase imperialista nomeavam diretores de companhias industriais, fazendo assim uma fusão dos bancos para as indústrias, como dizem pesquisadores, “de cima para baixo”.
Ora, camaradas, no Brasil nada disso aconteceu. Esses processos de conglomeração, decisivos para a conformação do capitalismo monopolista e financeiro – portanto onde outros países alcançaram estágio de países do núcleo imperialista -, não aconteceram no Brasil… até hoje o que se vê são ramos do capital monopolista e ramos do capital bancário/financeiro “separados”. Todos os países subdesenvolvidos não conseguiram fazer esse tipo de conglomeração e por isso seus sistemas financeiros são geralmente frágeis, necessitam inclusive de grandes empréstimos do sistema financeiro central… a desigualdade da acumulção aqui e a desproporção é muito grande…
Por que monopólio não pode ser confundido com a constituição, a completude que ocorreu nos países do capitalismo central para a formação de países do sistema imperialista. Ou seja, monopólio, que pode ter em qualquer país capitalista, não quer dizer imperialismo! A Odebrecht é um monopólio, todo mundo sabe, mas isso nada tem a ver com incluir o Brasil com país do sistema “da cadeia imperialista”!
Longe disso, porque – e aí o desastre! -, a ideia conclusiva de Lênin acerca das consequências do surgimento do imperialismo são as tendências à guerra que ele provoca e nós já vimos isso. E o que o Brasil tem a ver com fomentar guerras, camaradas? Nada disso, nosso país não tem nada a ver com fabricar guerras…Aliás, em nome da teoria de Lênin se diz até que os BRICS fazem parte dessa mesma cadeia do sistema imperialista, e se põem os BRICS como alvo de ataque. Isso é o outro desastre… vimos que Rússia e China barraram, impediram até agora a tentativa explícita dos império americano de esquartejar a Síria, um país soberano! E se ataca os BRICS! Foi o mesmo Lênin que nos ensinou a não confundir alvos, a defender alianças com aliados “instáveis, inconsequentes e vacilantes”, no livro “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”, escrito três anos depois da grande Revolução de Outubro, na Rússia.
Por isso também, devemos recordar a importância das resoluções do 12º Congresso do nosso Partido, em 2009. Lá está escrito que a crise capitalista iniciada em 2007-2008, e que não terminou, iria aprofundar o declínio relativo dos EUA. Os episódios recentes da avassaladora espionagem dos EUA em países soberanos como o nosso, são o exemplo de novos passos da decadência norte-americana, cuja agressividade mostra bem a faceta neocolonial a ocupar países e assassinar barbaramente crianças, bombardear hospitais e matar mulheres e anciãos. São, seguramente, manifestações do que estudiosos da decadência dos impérios denominaram de “extensão militar estratégica excessiva”, isso representando cada vez mais dificuldades do imperialismo norte-americano em financiar a expansão enlouquecida de suas bases e despesas militares. Isso logo agora quando seu déficit público alcança cerca de 14 trilhões de dólares, valor igual a seu PIB e esse país não tem horizonte nenhum de resolver esse arrasador problema.
Longa vida ao PCdoB!
Viva o 13º Congresso do Partido Comunista do Brasil!
São Paulo, novembro de 2013, 13º Congresso do PCdoB
Aloísio Sérgio Rocha Barroso