Nelson Mandela: revolucionário e estadista
A obra de Mandela sobreviverá. Ele lutou convicta e obstinadamente pela libertação do seu povo e pela edificação de uma África do Sul democrática e justa, livre do “apartheid”. Empenhou-se pela unidade do continente africano e na construção de um mundo de paz e justiça social, sem o racismo e a dominação imperialista.
Como disse o atual presidente da África do Sul, Jacob Zuma, “a nação perdeu seu maior líder”. E podemos completar, sem medo de errar: a humanidade também perdeu um dos seus maiores líderes, que com seu pensamento e ação deixou uma marca indelével na história.
Nascido em 1918, em uma aldeia do interior, Mandela estudou Direito em uma das primeiras universidades de seu país, onde conheceu Oliver Tambo. Juntos, entraram em contato com o movimento de libertação nacional da África do Sul e se integraram ao Congresso Nacional Africano (CNA). O Partido Comunista Sul-Africano, fundado em 1921, caracterizou o então regime como um tipo específico de colonialismo, que oprimia e explorava os trabalhadores e a maioria negra.
Em 1944, já formado advogado, Mandela participou da criação da Liga Juvenil do CNA, da qual foi eleito presidente em 1951. Nesse período, em 1949, o governo sul-africano aprova um novo regime “legal” segregacionista: o famigerado “apartheid”.
A partir desse momento, intensifica-se e radicaliza-se a luta popular e, em 1952, Mandela, já fazendo parte do Conselho Executivo do CNA, lidera nacionalmente protestos que desafiam a nova lei imposta pelo governo de minoria branca. Afirmando que a luta revolucionária é feita de acordo com as condições objetivas, Mandela se vê forçado a entrar na clandestinidade em 1958, acusado com base na Lei de Repressão ao Comunismo.
Em 1964, quando estava sendo julgado, afirmou: “Por várias décadas os comunistas eram o único grupo político na África do Sul que estava preparado para tratar os negros como seres humanos e seus iguais; que estavam preparados para comerem juntamente conosco; conversar conosco, morar e trabalhar conosco. Em função disso, há muitos africanos negros que, hoje em dia, tendem a igualar a liberdade com o comunismo”.
Diante do recrudescimento da repressão, o CNA resolveu organizar a resistência armada e criou um braço armado: Lança da Nação. Nelson Mandela tornou-se o seu primeiro comandante em chefe. Saiu do país com outros companheiros para conhecer novas experiências de resistência anticolonial e fez treinamento militar com etíopes e argelinos. Quando, em 1962, retornou à África do Sul, Mandela foi detido e passou mais de 27 anos na prisão.
A resistência do povo sul-africano continuou e alcançou um nível inédito com a rebelião de Soweto, em 1976. Em meados dos anos 1980, o CNA desencadeia uma campanha que intensifica as jornadas para isolar e debilitar o regime racista, enquanto cresciam as manifestações de solidariedade internacional, e as forças armadas racistas sul-africanas são derrotadas em Angola e na Namíbia, com o apoio da URSS e a participação das tropas internacionalistas de Cuba.
O processo de resistência heroica do povo sul-africano, liderado pela chamada Aliança Tripartite, formada pelo CNA, pelo Partido Comunista Sul-Africano e pela central sindical Cosatu, ganhou força e apoio internacional. Orientados pelo programa da Revolução Democrática Nacional, a resistência popular se fortalece e obriga o regime racista a negociar uma transição. A campanha mundial para a libertação de Mandela atinge seu auge.
No final dos anos 80, iniciam-se as negociações, e em 1990 Mandela é libertado. Nos comícios que reuniam multidões, o líder da Revolução Democrática Nacional gritava “Amandla!” (Poder!), e o povo respondia “Awethu!” (Para o povo!).
Em 1991, Mandela, eleito presidente do CNA, visita o Brasil, e em São Paulo recebe o título de Cidadão Paulistano do então vereador comunista Vital Nolasco. Nesta mesma viagem ao nosso país foi a Salvador, Bahia, onde foi recebido com carinho e festa. Mais de 150 mil pessoas se concentraram naPraça Castro Alves para ouvir sua mensagem.
A transição avança e, em 1994, Mandela é eleito com 62% dos votos presidente da África do Sul. Instala a Comissão da Verdade e da Reconciliação, e governa o país de acordo com as novas condições históricas de defensiva estratégica das forças socialistas e revolucionárias. Se revelou um grande estadista que usou a força de sua liderança para uma unir uma nação dividida pelo ódio racial e a enorme desigualdade social. Em 1996, é aprovada a nova Constituição de conteúdo democrático e patriótico, fato que representou uma grande vitória contra o “apartheid”. Desde 1999 o CNA elege os presidentes do país, primeiro Thabo Mbeki e atualmente Jacob Zuma, que foi anteriormente importante dirigente do Partido Comunista Sul-Africano e até hoje um grande aliado dos comunistas.
A maestria e a genialidade de Nelson Mandela, a sua bravura e inteligência política, a sua convicção e paciência revolucionárias, a sua sábia e heroica atuação na resistência de acordo com as condições concretas de cada momento, são atributos que também podem ser conferidos ao povo sul-africano.
Nelson Mandela é um fruto desse povo, filho dessa gente que sangrou e sofreu – e muito – para conseguir sua liberdade. Diríamos mesmo que é o fundador da nova Nação sul-africana.
Portanto, homenagear Nelson Mandela é, para os comunistas brasileiros, homenagear a consciência e a capacidade de luta e de resistência dos trabalhadores e do povo sul-africano. Homenagear Nelson Mandela é homenagear todos os militantes e dirigentes da Aliança Tripartite que governa hoje a África do Sul com uma orientação patriótica e progressista.
Concluímos reafirmando: Nelson Mandela foi um dos maiores líderes populares do século XX, um exemplo inesquecível de revolucionário e de estadista, fonte de inspiração para novas vitórias libertadoras.
São Paulo, 6 de dezembro de 2013
Renato Rabelo – Presidente Nacional do PCdoB