RESENHA: Uma luz no fim do túnel
Em primeiro plano, apresentam como solução para os problemas do Brasil a execução e o bom êxito do Plano Real, que se confunde – para grandes setores da opinião pública – com a pessoa do atual Presidente Fernando Henrique Cardoso. Este, depois de uma campanha populista e demagógica onde se propunha a acabar com a pobreza, surge como o executor de um programa de cunho elitista, perverso, no qual os pobres irão ficar cada vez mais pobres e numerosos, e os ricos, cada vez mais ricos. Tudo isso é apresentado sob o manto de um projeto de modernização cujo conteúdo é simplesmente de recolonização do Brasil através do modelo elaborado pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Mundial e pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. A chamada grande imprensa, inteiramente submissa a essa estratégia de dominação, repete, assim como a tevê e outros veículos de comunicação de massa, que o Brasil encontrou seu destino, e que o atual governo é o predestinado a transformá-la em uma nação moderna e esplendorosa.
E o que seria esta modernização? Ela seria um projeto que só pode ser entendido ma sua totalidade porque começa com a remodelação do Estado, passa pelos níveis econômico (privatização das estatais e estabelecimento da economia de mercado), social (lumpenização da população trabalhadora do país), sindical (pulverização do movimento sindical), cultural (abastardamento da cultura nacional), educacional (privatização do ensino público e destruição do papel das universidades), saúde (fim da Previdência e sucateamento da rede hospitalar do Estado) e político (voto distrital e extinção dos pequenos partidos).
O livro de Luiz Marcos Gomes é uma análise do novo capítulo em curso desse processo de neocolonização do Brasil e, por extensão, da América Latina. Nele o leitor encontrará, além de uma discussão teórica sobre o neoliberalismo (imperialismo tecnocrático), uma exposição dos mecanismos que estão sendo usados para implantá-lo no Brasil. Desde a montagem da campanha eleitoral de Fernando Henrique, a apresentação do Plano Real, o conteúdo das alianças partidárias, tudo já respondia às técnicas de dominação do imperialismo. Depois disso, com a vitória eleitoral, a aplicação do Consenso de Washington está sendo feita diante de uma opinião pública atônita, hipnotizada e silenciosa, que não teve tempo e/ou meios de fazer uma reavaliação política dos acontecimentos e responder a esse monólogo imposto pelo monopólio da informação e às mentiras oficiais. São capítulos nos quais o autor analisa os prolegômenos das atuais “reformas” como impostas pelo imperialismo, vendo “o que há atrás das reformas do Plano Real”, o conteúdo das eleições e as conseqüências da “década perdida”.
O problema da estabilização da economia nesse contexto vem demonstrar como o que os economistas chamam de reajustes do plano significa, na verdade, desajustes sociais nas áreas de trabalho, educação, cultura, saúde, família, habitação, locação fundiária e emprego. E um pano para lumpenizar a sociedade brasileira.
Um dos méritos deste livro é não discutir se o plano vai dar certo, ou não vai dar certo, dentro dos marcos do capitalismo e de seus interesses. O que está aqui em discussão é a essência de dominação global do plano, o seu conteúdo estratégico de racionalização da exploração imperialista no novo contexto internacional, surgido com a implosão da ex-URSS e do campo socialista.
E aqui que o autor se diferencia dos demais economistas que analisaram o plano e suas implicações de dominação dentro desta conjuntura internacional. Se o plano de FHC der certo, isso significará, por um lado, o enquadramento do Brasil no rol dos países satelizados e subordinados à dominação do capital internacional, especialmente dos Estados Unidos; e, por outro lado, o esvaziamento do Brasil como ser nacional.
Mas o mais lúcido no livro é a visão teórica. O autor não situa o plano neoliberal como simples saída econômica para o imperialismo. Questiona-o por seu uma solução que se contrapõe à solução socialista. Como eixo ideológico de toda essa problemática, está a luta contra o socialismo como solução capaz de acabar com a competição e a exploração, e a sua substituição por um tipo de economia planificada e sem conflitos estruturais – uma economia na qual o lucro não será o início e o fim de todas as ciosas.
EDIÇÃO 39, NOV/DEZ/JAN, 1994-1995, PÁGINAS 82