Disse numa entrevista ao diário El País no ano passado, quando já estava muito doente, que não desprezava a vida, mas que também não temia a morte. Depois de décadas de poesia e de resistência, marcadas pela morte do filho nas mãos da ditadura, o argentino Juan Gelman morreu esta terça-feira, na Cidade do México, onde vivia. Tinha 83 anos.

“Não creio que chegue aos 100 anos”, disse ao jornal espanhol. “E ainda que queira ver casar os meus netos e ter algum bisneto, acredito que Deus, se existe, deve estar entediadíssimo com a sua eternidade.”

Gelman, que segundo a imprensa espanhola morreu tranquilamente, rodeado de familiares, sofria de uma disfunção ligada à medula óssea.

Autor de uma vasta obra em que a crítica social e política assume papel de destaque, foi por amor que começou a escrever, dedicando os seus primeiros poemas às paixões de juventude em Buenos Aires, onde nasceu. Esqueceu-se desses primeiros versos, mas não se esqueceu do nome de uma delas – Ana -, conta o El País.

Apesar de ter também assinado textos de prosa e até traduções, foi com a poesia, que a mãe sempre duvidou que viesse a servir para o sustentar, que Gelman se afirmou: El Juego en que andamos, Velorio del solo, Cólera e Violín y otras cuestiones estão entre os seus títulos mais populares, num percurso que lhe valeu vários prémios, como o Cervantes, o mais importante das letras espanholas, o Neruda ou o Rainha Sofia de Poesia Latino-americana.