A partir do resgate da visão de Karl Marx que identifica o homem como parte da natureza, portanto o ser humano tem que estabelecer um diálogo ininterrupto com seu meio ambiente “se não quiser morrer”. Este resgate foi feito por ele para que a questão ambiental também analisada sob o ângulo de classe e a vertente nacional de cada realidade ambiental, temas caros ao marxismo. “É preciso conhecer a realidade nacional, especialmente nos países em desenvolvimento, para que países como a França, não imponham suas regras para países pobres com o mesmo peso que para países que já devastaram suas florestas para construir suas riquezas”.
Para Arantes, que representou na mesa o Instituto de Estudos Nacionais do Meio Ambiente – INMA, as questões ambiental e econômica não podem ser tratadas separadamente, pois se influenciam mutuamente, como mostra a extinção de civilizações inteiras a partir da degradação ambiental. “Existe uma visão santuarista, que isola o meio ambiente dos demais temas. A questão do desenvolvimento econômico está relacionada na medida em que a a redução da pobreza contribui para a própria preservação ambiental.”
Arantes ainda lembrou as manifestações juvenis que expressam a gravidade do problema da mobilidade urbana, que, segundo ele, estão relacionadas com o modelo de desenvolvimento em curso no Brasil. Ele aponta o modo como as metrópoles estão se tornando “as cidades fortificadas da Idade Média” com os shoppings e condomínios, criados a partir de um processo de exclusão. Cidade fortificada da idade média, classe dominante tentando se defender
Reforma politica é importante porque a capacidade de formação do poder interfere nas decisões sobre a reforma urbana e a preservação do meio ambiente.
O financiamento privado de campanha tem incidência direta sobre o tipo de parlamento formado no Brasil, com uma forte bancada ruralista que não tem qualquer interesse na preservação do meio ambiente.”Empresa não é povo, portanto, não pode interferir nas decisões constitucionais que ordenam a vida do povo”, afirmou Arantes, ovacionado pela plateia.
Ele defendeu a necessidade de eleger uma nova correlação de forças no Congresso, pois a atual impedirá qualquer reforma e tem pouca disposição para ouvir as demandas dos movimentos sociais. “Por isso, a reforma política é chamada a mãe de todas as reformas”, disse ele, referindo-se à dificuldade para o avanço de reformas fundamentais do estado brasileiro com representantes eleitos nas condições atuais. “Não é governo que muda a sociedade, mas o povo organizado e ciente das causas da pobreza”, concluiu.

A mesa ainda contou com intervenções de Miguel Santibañez – ONG Jundep/Chile;
Mireille Fanon Mendes, da França; Pablo Moralez, do movimento dos indígenas do Equador; Diakalia Ouattara, do Instituto Africano de Pesquisa e Cooperação para Apoio ao Desenvolvimento Endogeno, seçao Costa do Marfim; Rodrigo Campos Dilelio, secretário de Direitos Humanos da Presidência da República e a mediadora Ruth  Miranda, do CI FSM – Ibase. A mesa foi prestigiada pelo vice-prefeito de Porto Alegre, Sebastião Sanches e pelo secretário de  Meio Ambiente do RS, Neio Lúcio Pereira. Manifestantes das Ilhas Baleares, na Espanha, fizeram um protesto contra a repressão a manifestações em defesa da educação pública em seu país.

Vozes do mundo
Dilélio defendeu a importância de olharmos para os europeus e nos solidarizarmos com sua luta contra os efeitos da crise econômica. Moralez acredita na capacidade do Brasil, como parte dos BRICs, intervir contra a exploração imperialista em países como o Equador. Mencionou várias riquezas que são encontradas na Amazônia equatorial e nas Ilhas Galápagos, por exemplo, que são objeto de cobiça de cientistas financiados por empresas estrangeiras.
Ouattara vê no êxodo dos jovens para as cidades da Costa do Marfim o principal problema para a degradação das condições de vida de milhões. O cultivo do cacau promove esse êxodo e degrada o solo deste país africano que já teve 60 milhõs de hectares de florestas e agora só tem 2 milhões. Dois terços do orçamento do país vão para o pagamento da dívida externa.
Mireille fez uma exposição diferenciada sobre o tema ao abordar o modo como a crise econômica está trazendo a tona um caráter colonialista dos países do mundo desenvolvido, tendo o racismo como principal expressão dessa relação com suas populações, além das guerras com outros países em nome da liberdade. Para ela, percebe-se uma degradação da vida nas cidades devido a esse racismo que acirra a violência contra populações imigradas de outras culturas.
“O racismo pesa na constituição identitária dos indivíduos convivendo em países que tentam proteger-se do inimigo externo fortalecendo sua unidade racial, por meio da xenofobia”, explica ela. Em vez de diminuir gradualmente, o racismo está aumentando, defende ela, inclusive nos países desenvolvidos. “Partimos de um racismo essencialista biológico para um racismo cultural”.
Ela diz que a crise econômica reforça esta discriminação do imigrante, seja por sua religião e hábitos culturais, sem falar no retorno do racismo biológico expresso, por exemplo, recentemente, nas bananas oferecidas aos ministros francês e italiano. “Desta forma, as cidades favorecem desigualdades de tratamento a sua população baseada no racismo”.