No último dia 12 de outubro, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, concedeu entrevista à Princípios durante um intervalo da Conferência Estadual do PCdoB-SP, na capital paulista. Na conversa, Aldo adiantou que pretendia disputar a eleição a um cargo majoritário em 2014. Duas horas depois da entrevista, a Conferência lançou seu nome como pré-candidato ao governo de São Paulo.

A candidatura de Aldo ao Bandeirantes durou menos de uma semana. No dia 17 ele anunciou que, a pedido da presidenta Dilma Rousseff, permanecerá no comando do Ministério do Esporte e coordenará as atividades relacionadas à Copa do Mundo de 2014. Nos bastidores, Aldo revela que não foi apenas a presidenta Dilma quem intercedeu por sua permanência no posto. O ex-presidente Lula, o ministro da Educação Aloísio Mercadante e até mesmo auxiliares de Rebelo no ministério pediram-lhe que ficasse. Engana-se quem pensa que a pressão pela permanência de Aldo tenha qualquer relação com os arranjos eleitorais da disputa pelo governo paulista. A preocupação de todos é com a importância estratégica que grandes eventos como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 têm para o país e para a consolidação do novo papel que o Brasil vem ocupando na geopolítica mundial. Foi essa consciência que levou Aldo a abdicar de disputar as eleições no próximo ano, ele não será nem candidato a deputado. Após seis mandatos consecutivos na Câmara Federal, da qual já foi presidente, e tendo ocupado diversas funções ministeriais, será a primeira vez nos últimos 25 anos que o nome do ilustre palmeirense comunista nascido em Alagoas, Aldo Rebelo Figueiredo, não será uma opção para o eleitorado paulista.

“O mandato de Aldo é um patrimônio de nosso Partido. Mas compreendemos que sua autoridade moral e política é fundamental para garantir a continuidade da boa condução que o ministério está dando para os preparativos destes dois grandes eventos esportivos mundiais”, opinou o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, ao apoiar a decisão do ministro de continuar na pasta.

Em conversa com Aldo, o ex-presidente Lula também opinou que a Copa de 2014 é uma grande conquista do Brasil, inclusive política. Segundo ele, o evento está sob permanente ataque da oposição e da mídia e poderia sofrer grande desgaste sem a contribuição de Rebelo na chefia do ministério.

Na conversa com Princípios, Aldo destacou aspectos que envolvem a realização da Copa e da Olimpíada e são reveladores da importância estratégica destes jogos, algo que vai muito além do campo esportivo.

Copa das Confederações: Brasil
passou no teste com louvor

Segundo Aldo, apesar da corrosiva campanha de inspiração político-partidária contra a Copa de 2014, a maioria (63%) do povo brasileiro não só apoia sua realização no Brasil como acha (57%) que será boa/ótima. Os dados são de pesquisa realizada em junho pelo Datafolha a pedido do Ministério do Esporte, com mais de 10 mil pessoas em 17 capitais, inclusive as 12 cidades-sedes da Copa. “Os entrevistados ressaltaram principalmente o legado da infraestrutura nas cidades e, naturalmente, a crença no hexacampeonato. 74% acreditam que nossa Seleção vai levar a taça”, destaca o ministro.

Por outro lado, a pesquisa também revelou preocupações com custos ou superfaturamento de obras, violência e criminalidade. Daí por que o governo federal, para melhor escrutinar o uso dos recursos que aplica, montou sistemas de controle próprios e conta com a fiscalização instantânea do Tribunal de Contas. “Problemas são flagrados de imediato e logo resolvidos”, afirma o ministro.

A sondagem do Datafolha foi realizada antes e depois da Copa das Confederações e no meio do turbilhão político-social gerado pelas manifestações de junho. Apesar de toda a pressão das ruas, onde uma pequena parte dos manifestantes colocou os eventos esportivos na mira dos protestos, a maioria dos brasileiros julga positivamente a realização da Copa das Confederações, que é tida como um teste para a Copa do Mundo. 45% dos entrevistados disseram que foi melhor que o esperado, enquanto para 35% foi igual, e apenas 13% acharam ter saído pior do que previam.

“Pesquisas desse tipo confrontam o alarido de uma minoria pessimista que esconde os bons efeitos e destaca os problemas. Já está demonstrado que a Copa é investimento com excelentes resultados na economia, gerando desenvolvimento, renda e empregos em proporção muito superior aos gastos, com benefícios até mesmo para os derrotistas profissionais”, alfineta Aldo.

Segundo ele, foi “um grande esforço” para o Brasil realizar a Copa das Confederações. O país correu para entregar seis arenas a tempo, garantir o transporte para torcedores e jogadores e até a segurança das delegações. Tudo isso, disse o ministro, foi providenciado a contento. Aldo reconhece que os protestos de rua tinham potencial para inviabilizar o torneio e realmente preocuparam os organizadores, mas um esforço concentrado na busca de soluções e o apoio da ampla maioria do povo fizeram com que, no final, tudo desse certo. “O teste no Brasil foi mais difícil do que outros. Creio que cumprimos o desafio. Conseguimos corresponder, não só com futebol”, avalia Aldo, lembrando que, além de garantir o sucesso da competição, o Brasil ainda ficou com a taça derrotando a “favorita” Espanha por 3 x 0.

A percepção positiva da Copa das Confederações também foi feita pela Fifa, entidade organizadora do torneio. Em entrevista coletiva no início de julho, o presidente da entidade máxima do futebol, Joseph Blatter, e o secretário-geral Jérôme Valcke disseram que apesar de a competição não ter sido perfeita e o ambiente social não ter sido dos melhores, a Copa foi bem sucedida e se fosse para ser avaliada com nota, mereceria “entre 8 e 10”.

Segundo Valcke, nenhum problema comprometeu a competição e os que apareceram foram problemas menores — limpeza nos banheiros de estádios, dificuldades na retirada de ingressos e falhas pontuais no sistema de transporte público de algumas cidades-sede —, que serão facilmente resolvidos em 2014. “Posso dizer que a Copa das Confederações foi 80%. Isso é bom para uma competição-teste”, disse.

O fantasma das manifestações não assusta

Respaldado pelos números positivos das pesquisas que o ministério encomendou, o ministro Aldo Rebelo demonstra otimismo e afirma que não espera protestos contra a realização da Copa em 2014.

“Não creio em manifestações durante a Copa. Acho que a Copa estará protegida pelo clima de festa, pela grande expectativa que o evento gera no Brasil e no mundo. Acredito que teremos na Copa do Mundo um país tranquilo e pacífico porque as pessoas desejam uma festa para o futebol. Quando as seleções dos países classificados para a Copa e os torcedores de outros países começarem a chegar, encontrarão um Brasil hospitaleiro como sempre e um ambiente de confraternização, não de protesto”.

Sobre as manifestações em si, o ministro dá sua opinião de líder político, com a experiência de quem já presidiu a União Nacional dos Estudantes (UNE), enfrentando a ditadura militar, e foi um dos fundadores da União da Juventude Socialista (UJS): “As manifestações que ocorreram neste ano estão ligadas às deficiências em serviços públicos, que são evidentes, em saúde, educação, transporte, segurança, mas também à reação de um setor conservador da classe média a sucessivos governos de esquerda no país.

Ele pondera que as manifestações de rua são atos democráticos desde que respeitem os princípios da sociedade democrática.

Desinformação menospreza a grande oportunidade

Para Aldo, os protestos têm uma base de reivindicação justa, mas em determinado momento foram manipulados por “interesses antinacionais, antidemocráticos e desagregadores.” Ele critica, particularmente, a presença dos black blocs, que ele considera “meninos de classe média sem uma causa clara pra defender”. “Já participei de muitas manifestações na minha vida, boa parte delas enquanto o Brasil ainda vivia sob um regime ditatorial, e nunca precisei esconder meu rosto, nem saí por aí destruindo patrimônio público”, desabafa o ministro.

Ele ressalta que os grandes eventos esportivos foram introduzidos nas manifestações por setores oposicionistas e pela mídia. “Os protestos nas ruas tiveram como reivindicações principalmente a situação do transporte público, da saúde e da educação. O tema da Copa apareceu em quinto ou sexto lugar de importância para as pessoas que protestaram nas ruas.” Aldo concorda que o público que compareceu aos estádios durante os jogos da Copa das Confederações, e mais os que assistiram pelos telões instalados em espaços públicos, foi muito superior ao número de manifestantes que saíram às ruas especificamente para protestar contra os supostos “gastos” do governo com a construção dos estádios. Sobre este aspecto, ressalta que muito do que se fala em relação aos gastos é pura desinformação.

“Não há dinheiro do orçamento federal para a construção dos estádios. Há recursos indiretos como o da renúncia tributária, renúncia que o governo resolve aplicar levando em conta o interesse público, a geração de empregos, geração de renda. E há os financiamentos do BNDES à iniciativa privada, feitos mediante todas as garantias necessárias e que, portanto, serão pagos pelos tomadores do empréstimo”, esclarece.

Investimentos beneficiam o desenvolvimento nacional

De tanto ser questionado sobre este assunto, o ministro, já famoso pela boa memória e pelo discurso afiado, tem na ponta da língua uma infinidade de argumentos para defender cada uma das ações do governo em relação à preparação da Copa e da Olimpíada. Durante audiência pública realizada no último mês de junho no Senado, Aldo cunhou uma expressão que já entrou para a história da crônica do jornalismo esportivo ao chamar os estádios de “elefantes de ouro”.

Aldo disse aos senadores que obras consideradas como “elefantes brancos”, como o caso dos estádios de Brasília e de Natal, atualmente podem ser consideradas como “elefantes de ouro”, porque estão com boas perspectivas de lucro. “Aqui mesmo em Brasília, um jornal da cidade já indica que o elefante branco, na verdade, é um elefante de ouro, porque permite à cidade não apenas a realização de jogos de futebol, mas também de outros grandes eventos, espetáculos, que não seriam possíveis em Brasília sem a presença desse estádio”, afirmou na ocasião. E aproveitou para alfinetar a imprensa que dissemina a desinformação: “A imprensa, ou uma parte da imprensa desinformada do Sul e do Sudeste, que conhece mais Miami do que o Nordeste do Brasil, chama de elefante branco a arena do Rio Grande do Norte sem nunca ter ido ao estado”, criticou.

Ele manifestou estranhamento em relação ao fato de a mesma imprensa que critica as despesas do Brasil nos preparativos da Copa do Mundo divulgar que o Japão lutou para sediar a Copa do Mundo em 2022 para recuperar o prestígio diante da China e melhorar a economia interna. “Eu pergunto: vale para o Japão e para nós não vale?” indagou Rebelo.

E lembrou ainda que a Alemanha sediou os jogos da Copa do Mundo em 2006 para se recuperar economicamente e apagar a imagem da Guerra Mundial, e ressurgir como país integrado à Europa e ao mundo. E novamente indagou: “A Alemanha pode e o Brasil não pode?”

Aldo destaca que o governo tem investido em obras de mobilidade urbana, em aeroportos, e muitas delas são demandas antigas e já estavam planejadas. “Como teremos a Copa do Mundo em 2014, as pessoas pensam que todas as obras de transporte público e mobilidade urbana são para o Mundial. É bom esclarecer que essas obras estavam previstas no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), e elas seriam realizadas independentemente de termos a Copa do Mundo no Brasil. São aeroportos, viadutos, avenidas e outras ações para melhorar o tráfego das cidades, das 12 cidades-sede da Copa do Mundo, e que vão beneficiar a população. E essas obras recebem, praticamente, a maior parte dos investimentos do governo federal.

“A Copa também abre possibilidades para cidades que não são sedes, por causa dos Centros de Treinamento. Quem escolhe é a Seleção, mas uma delas pode ficar hospedada em Maceió, por exemplo, e jogar no Estádio Rei Pelé. Ou ficar em Florianópolis, ou em Caxias do Sul, ou em Campinas, ou São Luís, ou Aracaju. A Copa vai estender seus benefícios. E as Olimpíadas, muito mais além, porque envolvem mais de 20 modalidades e muito mais países que precisarão escolher cidades para treinar e se aclimatar”, disse o ministro em audiência no Congresso Nacional.
Ele destaca ainda que os investimentos em hotelaria e em turismo foram multiplicados visando a atender à demanda criada pelos grandes eventos esportivos.

Apoio aos atletas olímpicos

Especificamente sobre os investimentos em esporte, Aldo também cita números importantes e destaca as ações do ministério que visam a garantir um bom desempenho do Brasil na Olimpíada de 2016. “Nós temos a preocupação com o legado, mas também com o resultado. Precisamos ter um desempenho compatível com o nosso status de país-sede no quadro de medalhas”, afirma, citando o Plano Brasil Medalhas, um dos principais programas do ministério que foram criados para incentivar a formação e o desempenho dos atletas brasileiros.

Lançado há um ano, o Plano Brasil Medalhas investirá R$ 1 bilhão a mais em ações para que o país fique entre os 10 primeiros países nos Jogos Olímpicos e entre os cinco primeiros nos Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro.

Dos recursos, dois terços virão do Orçamento Geral da União (OGU) e um terço de investimentos de empresas estatais. Esses recursos são novos, ou seja, adicionais em relação ao orçamento já aplicado pelo Ministério do Esporte.

O Brasil Medalhas 2016 regulamenta instrumentos previstos na Lei 12.395, sancionada em março de 2011, que lançou as bases para elevar o nível do esporte de alto rendimento. A vertente “apoio ao atleta” institui o Programa Pódio, que inclui nova categoria no Bolsa-Atleta – a Bolsa-Pódio – e cria a Bolsa-Técnico, que pagarão, respectivamente, até R$ 15 mil e até R$ 10 mil mensais.

Os beneficiados do Pódio serão atletas de modalidades individuais que, entre outros critérios, estejam situados entre os 20 melhores do ranking mundial e com reais chances de medalhas, além de seus treinadores e equipe multidisciplinar (preparador físico, nutricionista, atleta-guia).

O Brasil Medalhas também contempla recursos para a aquisição de equipamento esportivo (até R$ 20 mil por atleta) e apoio a treinamento e competições de atletas no Brasil e no exterior, por meio do pagamento de custos com diárias e passagens.

As demais categorias do Bolsa-Atleta (Estudantil, de Base, Nacional, Internacional e Olímpica/Paraolímpica) serão mantidas com os critérios atuais e dentro do orçamento regular do Ministério do Esporte.

Outra vertente do plano Brasil Medalhas 2016 é a destinação de recursos para a construção de centros de treinamento.

“Vamos construir 280 centros de iniciação ao esporte, que são equipamentos sofisticados, com ginásio, quadra oficial, área para prática de esportes como boxe, judô e esgrima, com minipista de atletismo. Temos também um programa para que cada estado tenha pelo menos uma piscina olímpica e uma pista oficial de atletismo até as Olimpíadas. Dois terços dos estádios não tinham pista oficial. Natal agora já tem uma, dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, assim como teremos também na Universidade Federal de Alagoas”, informa o ministro. Outros dois projetos importantes que estão no radar do ministério é a construção do Centro Paraolímpico, “o maior do mundo, que será feito em São Paulo, mas será para o Brasil inteiro”, e a proposta de transformar o Parque Olímpico, no Rio de Janeiro, em uma universidade pública do esporte após os Jogos de 2016. “Nós estamos estudando com o Ministério da Educação a proposta para fazer uma universidade multidisciplinar, com jornalismo esportivo, medicina do esporte, marketing esportivo, fisioterapia das modalidades, psicologia e nutrição voltadas para o esporte”, explica Aldo.

Ao todo, oito empresas estatais (Banco do Brasil, Banco do Nordeste (BNB): BNDES, Caixa, Correios, Eletrobrás, Infraero e Petrobras) apoiarão modalidades esportivas em formato diferente do de patrocínio que a maioria delas já dá a vários esportes. O novo apoio será focado na preparação de atletas e seleções para os Jogos Rio2016.

Conferências nacionais

Boa parte das ações e programas do governo na área do esporte é fruto de debate com os mais diversos segmentos do mundo esportivo. Este exercício constante de observação, envolvimento, participação e controle da sociedade sobre as políticas públicas para o setor permitiu elaborar plataformas concretas. Elas foram aprovadas em amplas conferências nacionais, sob a coordenação do Ministério do Esporte. O Brasil já realizou três conferências. A terceira edição ocorreu em 2010 e a quarta deve acontecer em 2014.

Na última conferência, foi defendido um plano decenal, de “10 pontos” capaz de projetar o Brasil entre os mais importantes países na área esportiva. Os detalhes desta plataforma podem ser conhecidos através do link: www.esporte.gov.br/conferencianacional/resolucoesIIICNE.jsp

Aldo, porém, reconhece que ainda é preciso avançar na definição de uma política nacional de esporte mais permanente.

“O Brasil nunca teve uma política nacional de esporte. O Brasil tem programas, ações, projetos e leis que, no seu conjunto, não configuram um arcabouço legal típico de política de Estado que estabeleça responsabilidades específicas para municípios, estados e União. Diferentemente de áreas como a educação, em que há a Lei de Diretrizes e Bases, ou a saúde que tem o SUS (Sistema Único de Saúde), não temos algo correspondente para o esporte”, diz o ministro.

“O que é preciso registrar é que nós avançamos muito nos últimos dez anos. O Ministério do Esporte foi criado. Foram implementados programas importantes que financiam o esporte como a Lei Agnelo-Piva, a Lei de Incentivo ao Esporte, os programa Segundo Tempo, Esporte na Escola – que hoje alcança 25 mil escolas –, o Forças no Esporte, que leva a prática esportiva até para lugares distantes como o alto do Rio Negro, onde estive recentemente. Os brasileiros têm hoje mais acesso à prática esportiva, seja na área educacional, de alto rendimento ou no lazer. São avanços deste último período. O Brasil nunca conheceu isso antes”, agrega.

Segundo ele, o próximo passo é transformar estes programas em política permanente. “Mas o fundamental já foi feito, os programas existem. Alguns já são lei, como é o caso da Lei de Incentivo ao Esporte e da Lei Agnelo-Piva”.

Ingressos acessíveis

Outro tema que tem ocupado as atenções do ministério são as iniciativas para permitir que a Copa se transforme em um evento acessível a todos os torcedores. Um comitê interministerial foi formado a pedido da presidenta Dilma Rousseff para tratar do assunto e adotar as medidas necessárias para impedir que sejam praticados preços abusivos em serviços oferecidos aos turistas, como hospedagem e passagens, por exemplo. Segundo a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que coordena os trabalhos do comitê, o processo será pautado pelo diálogo, mas haverá monitoramento sistemático do comportamento dos agentes envolvidos em relação a preços, tarifas e qualidade dos serviços. “Não tabelamos nem tabelaremos preços, mas não permitiremos abusos. Vamos utilizar todos os instrumentos à disposição do Estado para garantir a defesa dos direitos do consumidor, seja ele brasileiro, ou estrangeiro”, disse Hoffmann à imprensa.

O barateamento dos preços dos ingressos nas novas arenas também está na pauta e já obteve uma sinalização positiva da Fifa, da CBF e dos clubes neste sentido.

Segundo Aldo, o objetivo é permitir “que aquele antigo torcedor da geral, já que a geral não existe nesses novos estádios, possa continuar frequentando os jogos de futebol pagando ingressos a preços acessíveis”. Ele argumenta que o fim do espaço dos estádios conhecido como “geral” foi positivo, pois traz mais conforto para os torcedores. “A idealização romântica da geral é coisa de quem nunca a frequentou. É desconfortável, ruim. Por isso, extingui-la não é algo que se deva condenar. O que defendemos é que os clubes e administradores dos estádios criem formas de garantir que o torcedor de baixa renda possa continuar frequentando o estádio. Parece que o Corinthians já adotou medidas neste sentido e reservará parte dos ingressos para este público. Durante a Copa, também defendemos que parte dos ingressos tenha preços acessíveis.”, defende.

Atendendo à preocupação do ministro, a Fifa já anunciou que os ingressos para a Copa do Mundo estão cotados num preço abaixo dos ingressos comercializados para o Campeonato Brasileiro.

Futebol: paixão brasileira

O futebol completou 150 anos no último dia 26 de outubro. Nesta mesma data, em 1863, uma reunião da Taberna Freemasons foi realizada em Londres e teve a presença de 12 clubes, que definiram as regras gerais da modalidade. Hoje, é o esporte preferido no mundo, admirado por cerca de 3 bilhões de pessoas, segundo a Fifa. E movimenta cifras também bilionárias. Em escala global, estima-se que hoje movimenta entre US$ 400 bilhões e US$ 1 trilhão por ano. A cadeia produtiva e de serviços que gira em torno do esporte também mobiliza recursos extraordinários, o que só reforça a importância econômica de um evento grandioso como a Copa do Mundo.

No caso concreto de 2014, conforme aponta um estudo feito pela consultoria Ernest Young junto com a Fundação Getúlio Vargas, cada real investido pelo poder público nas obras estruturantes associadas à Copa, alavanca 3,4 reais de investimento privado, e o evento pode gerar 3,6 milhões de empregos em diversos setores da economia nacional.

Aldo Rebelo destaca estes números e vai além. Julga que o Brasil precisa melhorar seu desempenho nos negócios do setor “porque temos uma participação muito modesta no PIB do mundial do futebol”. Segundo ele, a primeira divisão cabe à Inglaterra, com 30% do PIB do futebol, e à Alemanha, com 20%, seguidas por Espanha e Itália. Ao Brasil cabe a modesta fatia de 2% do PIB futebolístico mundial, algo em torno de R$ 36 bilhões, de acordo com os cálculos da Pluri Consultoria.

Não é apenas o potencial econômico e as cifras animadoras que fazem o palmeirense militante Aldo Rebelo defender a realização da Copa. Para ele, a Copa do Mundo tem um sentido mais especial para os brasileiros. “Nós ajudamos a dar a este esporte sua dimensão planetária. Criamos os principais ídolos deste esporte. No Brasil, o futebol tem sido mais do que um esporte, tem sido uma plataforma de luta social, de inclusão social dos jovens pobres, dos jovens negros. A primeira celebridade negra do Brasil foi um jogador, o jovem Friedenreich, filho de uma lavadeira negra e de um comerciante alemão que, até então sem muita perspectiva, viu seu talento ser admirado, reconhecido. Depois vieram outros tantos como Leônidas da Silva, o Diamante Negro, que encantou o mundo na Copa de 1938, na França. Sem falar em Fausto, Domingos da Guia, Pelé e muitos outros… Acho que também por isso, o brasileiro gosta tanto do futebol. E essa nossa paixão vai ficar evidente mais uma vez na Copa do Mundo. Vamos fazer uma Copa admirável”, prevê o ministro.

*Da redação, com agências

Publicado originalmente na revista Princípios, edição 127 (outubro-novembro/2013).