Em pé, Carlos Ron, conselheiro da Embaixada da Venezuela, apresenta a campanha “Por aqui passou Chávez”. no Memorial da América Latina.

Em 4 de fevereiro de 1992, o ex-presidente Hugo Chávez – na época tenente-coronel – comandou uma insurreição popular com o objetivo de direcionar a substituição do governo neoliberal de Carlos Andrés Pérez e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte para que o povo, por meio de ampla participação, determinasse novos rumos do país. Portanto, a data escolhida pela Embaixada da República Bolivariana da Venezuela para o lançamento da campanha marca o aniversário deste movimento que alavancou as ideias de Chávez.

Segundo explicou Carlos Ron, conselheiro da Embaixada, a ideia do nome da campanha vem de um poema de Alberto Arvelo Torrealba ao libertador Simon Bolívar, que se chama Por Aqui Passou. O herói da independência latino-americana foi inspiração para o líder da Revolução Bolivariana.

Momentos antes do início da cerimônia, Ron disse ao Vermelho que “é muito importante para a Venezuela contar com o apoio de tantos movimentos sociais, partidos e sindicatos brasileiros, que estão acompanhando a jornada porque entendem o que é o legado do presidente Chávez e querem difundir esta história”.

Robert Torrealba, cônsul geral da Venezuela em São Paulo, afirmou também que “a receptividade dos amigos brasileiros é maravilhosa, porque todos nós compartilhamos desse exemplo de superação de luta por um mundo melhor, por uma América Latina mais unida, integrada e mais justa”. Ele disse ainda que espera que a data sirva para continuar reafirmando os laços de amizade entre os países.

No Salão de Atos, entre os murais de Carybé e logo à frente do painel de Candido Portinari foi montada uma exposição de fotografias que retratam as passagens de Chávez por diferentes lugares. O evento iniciou-se com apresentações artísticas e, logo em seguida, foram exibidos trechos de falas emblemáticas do ex-presidente venezuelano, como seu discurso na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2009 (Cop15) e sua participação no programa “Roda Viva” da TV Cultura.

Assista abaixo:


Segundo Socorro Gomes, presidenta do Conselho Mundial da Paz e do Cebrapaz, que compôs a mesa da solenidade, “assim como Simon Bolívar e José Martí, Chávez defendia o pan-americanismo, mas desde que este fosse soberano, independente, diferente do que era imposto pela Doutrina Monroe. Portanto, o ex-presidente venezuelano tem um papel importante não só na integração, mas também na soberania e autodeterminação dos povos”.

Socorro Gomes, à dir., fala sobre o legado de  Hugo Chávez. Sentados, João Pedro Stedile e deputado Adriano Diogo. Foto: Théa Rodrigue/Portal Vermelho.

Socorro lembrou que esteve com Hugo Chávez “em dezembro de 2004, em Maracaibo, quando o comandante bolivariano levantava a bandeira da integração latino-americana, bem como ressaltava a necessidade de denunciar o imperialismo como o maior obstáculo ao desenvolvimento do país”.

Ela também falou ao Vermelho sobre um segundo encontro, durante um tribunal anti-imperialista em Caracas, no qual ambos foram testemunhas: “Ele fez uma denúncia veemente, corajosa e sincera, chamando o povo para a construção da paz por meio da união e integração dos povos”. Para a presidenta do CMP e do Cebrapaz, “Chávez tem um papel fundamental na integração da região, que era um sonho que estava sendo postergado e violado o tempo todo pelo imperialismo estadunidense”.

João Pedro Stedile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que também foi convidado para dar seu testemunho para celebrar o legado de Chávez, disse que as pessoas de sua geração tiveram o privilégio de serem contemporâneas do líder bolivariano, “que está no mesmo patamar dos grandes lutadores e pensadores da América”.

Ele recordou de Chávez como um “cidadão latino-americano” e como um lutador “anti-imperialista”. “Das vezes que estive pessoalmente com ele, guardo as melhores lembranças”, disse Stedile, que afirmou que Chávez era “um homem simples que não usava o cargo para se engrandecer”.

Stedile falou sobre a visita que o ex-presidente venezuelano fez ao assentamento do MST em Tapes, a 100 km de Porto Alegre, durante o período do Fórum Social Mundial de 2003. Como parte das homenagens e do período de jornada mundial, Stedile anunciou que a partir do dia 4 de março esse assentamento passará a se chamar “Hugo Chávez”. “É a nossa forma de dizer e lembrar que ‘Chávez passou por aqui’”, completou.

Ricardo Alemão Abreu, secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), disse que desde a morte de Chávez, em 5 março do ano passado, “muita coisa aconteceu” e dentre as principais destacou “o avanço na integração regional e as vitórias de Nicolás Maduro tanto nas eleições presidenciais, quanto nas municipais”, o que, segundo ele, “ajudou a dar continuidade à Revolução Bolivariana”.

Alemão presenciou o lançamento da campanha no Memorial da América Latina e comentou que jornada valoriza o dia 4 de fevereiro e a importância desta data para a Revolução Bolivariana. “A data rememora a insurreição militar, mas também popular na Venezuela, que foi o embrião do movimento que, apesar de ter sido derrotado na ocasião, saiu vitorioso nas eleições de 1998”, disse.

Convidado para compor a mesa, o deputado estadual Adriano Diogo, do Partido dos Trabalhadores (PT), exaltou o legado do líder venezuelano com o grito de “viva Chávez”, pouco antes de o escritor Fernando Morais fazer sua exposição sobre o comandante.

Fernando Morais, entre o emabaixador Carlos Ron e João Pedro Stedile.
Foto: Théa Rodrigues/ Portal Vermelho

Morais falou sobre a construção do Memorial e das críticas recebidas na época do projeto. Segundo ele, “estar aqui prestando essa homenagem à Hugo Chávez já valeu a construção deste espaço”. Ele disse que esta nova campanha lembra a ele a época em que participou da organização de um manifesto intitulado “Se eu fosse venezuelano, votaria em Chávez”, em favor da reeleição do então presidente e que contou com o apoio de diversos intelectuais, inclusive do historiador britânico Eric Hobsbawm e do prefeito de Londres na época.

Depois de contar sobre uma conspiração (que não obteve sucesso) da qual participou ao lado do líder bolivariano para evitar a eleição de Luis Alberto Moreno para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ele ressaltou que a perda de Chávez não foi sentida apenas pelos venezuelanos, mas por todos. Para Morais, “Chávez é eterno” por conta de suas ideias em defesa do povo e, por isso, “não será esquecido jamais”.

Liége Rocha, secretária nacional do PCdoB das Questões da Mulher, disse ao Vermelho logo após o término do ato que, “para os brasileiros, especialmente para aqueles que lutam pelo socialismo e que consideram a integração regional como um dos aspectos importantes para se chegar a isso, Chávez teve um papel importante neste processo”. Ela também recordou sua passagem por Caracas, em um Congresso da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM), e disse que Chávez recebeu muito bem o evento e inclusive apresentou um de seus programas na televisão estatal direto de uma plenária do congresso.

Também estiveram presentes no ato desta terça-feira (4) representantes da Associação de Venezuelanos Residentes no Brasil; da Alba Movimientos; da FDIM; do Comitê Brasil está com Chávez e da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), entre outros. A jornada mundial “Por aqui passou Chávez” continuará circulando o Brasil em diversos eventos até o dia 5 de março – data da morte do comandante bolivariano. Confira a programação abaixo:

– 07/02 – Ato cultural “El Cuatro Rebelde” (música venezuelana) às 20h, no Centro de Convenções de Recife
– 11/02 – Recebimento do Navio-Escola Simon Bolívar, no porto de Itajaí – Santa Catarina. O navio ficará aberto à visitação pública de 12 a 16 de fevereiro
– 17 a 19/02 – Agenda da campanha (a definir) no Rio de Janeiro
– 21/02- “Cine-Foro” com o filme Bolívar, o homem das dificuldades, no Museu Nacional de Brasília
– 23, 24 e 25/02 – atividades em Belém, Manaus e Boa Vista
– 03/03 – Durante o carnaval de Olinda, a Barraca do MST, com um gigantão do Comandante Chávez
– 04/03 – Durante o carnaval de Olinda, desfile do gigantão do Comandante Chávez
– 04/03 -Tapes (RS): Romaria Camponesa no assentamento visitado pelo Comandante Chávez. A partir dessa data o assentamento passará a se chamar “Hugo Chávez”.