Horas Rubras

 

Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos rubros e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas…

 

Oiço olaias em flor às gargalhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata pelas estradas…

 

Os meus lábios são brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras…

 

Sou chama e neve e branca e misteriosa…
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!

 

 

Florbela Espanca, in “Livro de Sóror Saudade”