A iniciativa, promovida pelo PCdoB/RJ e a Fundação Maurício Grabois, busca propostas e soluções para a construção do programa de governo da pré-candidatura comunista ao governo do Estado.

Em busca desta identidade, muitas das lideranças disseram: “a Baixada é uma cidade”, em pleno Rio de Ideias na Cidade do Amor. O epíteto é bonito, mas tem uma história trágica. Na década de 80, a ONU constatou que Belford Roxo era a cidade mais violenta do mundo. Daí o epíteto, em 1993, de Cidade do Amor, uma tentativa de resignificar o lugar a partir de um conjunto de políticas públicas que está dando certo, mas ainda é pouco.

“Belford Roxo ainda é uma cidade suja, pobre. Aqui não tem escola, hospital. Mas estamos mudando essa história. Implantamos 18 creches, 10 já estão com o dinheiro na conta. Contudo, a Baixada, como um todo, vem sofrendo com o crescimento da violência, falta de estrutura. Nunca teve um controle para que possamos trazer força e alívio para a população. Estou aprendendo a fazer uma política diferente. O PCdoB me mostrou o que é fazer parte de um partido de verdade. Por isso, me coloco à disposição para juntos planejar Belford Roxo”, afirmou o prefeito comunista do município, Dennis Dauttman.

Para a deputada estadual do Partido, Enfermeira Rejane, “o seminário aponta para um projeto político do PCdoB para o Rio. Queria ver mais gente de fora do PCdoB preocupado com o debate sobre projetos para o estado. Temos quatro pré-candidatos [Garotinho, Crivella, Lindiberg e Pezão] e não estamos vendo nenhum desses preocupados em debater, em uma sexta-feira, os problemas do Rio, muito menos os da Baixada, e olha que três tem máquina de governo para fazer campanha! A nossa discussão é muito diferente. Não é assumir o governo pelo governo, mais sim construir propostas para mudar as cidades”, reforçou Rejane.

A região da Baixada Fluminense é composta por 13 cidades, sendo que quatro delas, Belford Roxo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João do Meriti, estão entre as 10 com maior número de eleitores e entre as 20 maiores economias do estado. Contraditoriamente, a região amarga as piores posições no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb); acabou de ganhar a sua primeira UPP, mas permanece tendo menos policiais do que o Leblon – bairro nobre – e a Rocinha – comunidade – localizados na Zona Sul da capital; além de receber boa parte do lixo da região metropolitana e sofrer com a falta de infraestrutura básica – como ausência de abastecimento de água, saneamento básico, transporte, saúde e espaços de entretenimento, lazer e esporte.

Planejamento Integrado

O planejamento integrado com a região metropolitana é a principal arma para enfrentar o histórico atraso na Baixada, defende o economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mauro Osório. “Na cidade de Duque de Caxias, 40% das escolas não têm cano de água. Como uma escola vai funcionar sem rede de água? É um absoluto absurdo. Mas isso pode mudar com política, mobilização e planejamento. As prefeituras têm que se articular, ter bases de dados, planejamento. E o governo do estado tem que ser um animador dessa articulação, dar força para que ela aconteça. Não basta o governador se dar bem com os prefeitos, sem política pública e planejamento não funciona. O Arco Metropolitano, se não tiver planejamento, vai render muito menos do que se acha”, afirma Mauro Osório.

O Arco Metropolitano é considerado uma obra estratégica para o Estado do Rio, quer interligar rodovias federais que cortam o território fluminense, integrar vários complexos industriais e transformar a Baixada Fluminense em uma grande área de logística. A previsão é que as obras fiquem prontas este ano.

“Mas não adianta fazer o Arco se não for integrado ao potencial econômico de cada região. Assim a educação privada cresce e a educação pública se arrasta com péssima qualidade. Ou viramos esse jogo governando para povo ou nós vamos continuar sem água nas escolas de Caxias. Por isso, integração é decisivo. Se eu não resolver de forma metropolitana eu não resolvo os problemas da água, do transporte, da saúde, do lixo que vemos na Baixada Fluminense. É um problema de uma política para região”, completou Jandira, a líder da bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados.

Fernando Cid, presidente municipal do Partido em Nova Iguaçu, concorda. “Temos problemas de ‘A’ a ‘Z’, de água ao transporte. Mas o nosso maior problema está na letra ‘P’, de política. Não nos preparamos nem para a luta de classe e nem para um projeto regional da Baixada Fluminense. Vivemos sob chantagem: se for meu aliado tem recursos, senão, não tem. O que tem que haver é solidariedade da Região Metropolitana. A segurança tem que ser integrada entre o estado e os municípios. Temos que fazer consórcios na área da agricultura, de planejamento urbano. Considero isso fundamental para a chance de êxito das políticas públicas. A Baixada precisa fazer com as próprias mãos tudo aquilo que lhe diz respeito. Vamos aproveitar estes dias de grandes ideias”, conclamou Cid.

Oportunidade histórica

Seguindo essa linha, Edmilson Valentim, secretário de Políticas Institucionais da Prefeitura de Belford Roxo, destacou a importância do cenário que o Brasil está vivendo. “No momento em que o Rio tem um crescimento efetivo, a partir das políticas públicas, não podemos perder a oportunidade de unir forças para encontrar saídas para a injusta distribuição de renda. Sentimentos de cobrança, como o que ocorreu em junho de 2013, começou a ocorrer antes na Baixada, durante as eleições de 2012. Belford Roxo, Nilópolis, Caxias e Mesquita optaram por uma mudança na política de suas prefeituras. O desafio é aproveitarmos isso e acelerarmos essa mudança política. Se não consolidarmos isso, a Baixada vai perder um bonde importante que o Brasil está vivendo. Não podemos permitir que aquilo que foi conquistado retroceda”, insistiu.

Para Alcimar Targino, presidente do PCdoB de Duque de Caxias, aproveitar a oportunidade histórica é saber governar para o povo. “Coca-cola, polo noveleiro, polo petroquímico. E daí, onde fica o povo? Para que serve dizer que temos dinheiro se o governador e o prefeito de Caxias não mexem nos vespeiros. Hoje 70% das escolas não tem água. A quem importa dizer que Caixas é a segunda economia do estado se o povo é pobre? Para que o governador vem na Baixada? O que falta é nós lançarmos verdadeiros governantes que vão trabalhar para isso e eles estão aqui, é a Jandira e a deputada estadual Enfermeira Rejane. Nós temos que ir para a rua dizer que aqueles que se elegem pela Baixada precisam olhar para a população.”

A fala contundente de Alcimar levantou o público e animou as pré-candidaturas da chapa proporcional do Partido Comunista. Além deles, militantes da União Brasileira de Mulheres (UBM) e da União dos Negros Pela Igualdade (Unegro) marcaram presença.

Agora é a vez do povo

“Agora é a vez do povo. Por que a Baixada tem que ser sempre curral eleitoral? Temos que parar, olhar, cobrar e se unir”, propôs Nilton Barbosa, presidente do PCdoB de Mesquita, a mais jovem cidade da Baixada. “Além disso, é preciso refazer a política tributária. A tributação para os pequenos é a mesma que para os grandes. Isso é injusto”, denunciou.

Já para o presidente do Partido em Japeri, Francisco Nacélio, o principal problema é a segurança. “O Garotinho deixou um complexo penitenciário para a nossa cidade. A violência aumentou muito. Vemos execuções à luz do dia. Japeri é uma cidade dormitório na Baixada largada às traças. Por isso, recebemos a proposta da pré-candidatura da Jandira com muito bom grado. Não vamos medir esforços porque não temos outra opção. Sabemos que as propostas discutidas aqui não vão servir para muita coisa se não tivermos a caneta da mão”, disse Francisco.

A secretária de Cultura da Prefeitura de São João de Meriti, uma das principais articuladores do Fórum de Cultura da Baixada, Fernanda Braga, defende a arte no lugar das armas contra a violência. “A cultura é importante, ela é a força da população. Par nós a cultura é uma bandeira de inclusão social e de economia criativa. No entanto, dos 160 pontos de cultura no Estado, apenas 50 estão fora da capital. Nossa cidade tem três, Nilópolis apenas um. O que vemos é que tem muita vontade de investir, mas não tem orçamento. Estamos juntos no desenvolvimento da cultura para gerar renda”, propôs Fernanda.

“Nós precisamos superar este atraso”, acrescentou Jandira. “Para nós a cultura começa pela transformação. Precisamos alçar aos olhos da sociedade outra visão da política, uma visão de aprofundamento das mudanças. O governo não olha para a região da Baixada. Nem a mídia olha e se a comunicação não for democratizada não haverá democracia plena. Mesmo assim, hoje conquistamos três prefeituras [Belford Roxo, Barra Mansa e Rio das Flores]. A gente precisa ajudar a marcar como a gente governa nestas prefeituras. Também precisamos fazer com que a nossa bancada de deputados aconteça”, disse Jandira.

“O nosso Partido é para juntar gente, unificar ideologias e ir para o meio do povo, conversar com outros movimentos. Não podemos perder a oportunidade política. Em 2014 faço 33 anos de Partido. Tenho 56 de idade. Me formei em 1959. Tenho 35 anos de luta em defesa da saúde. Temos bons técnicos, mas falta gestão, capacidade de comando. A nossa pré-candidatura está a serviço de um campo, o campo popular e progressista nucleado pela esquerda. O nosso desafio é construir o PCdoB mais integrados e unidos para que tenhamos sustentação política para dar respostas aos problemas do povo”, concluiu a pré-candidata, antes de seguir a noite de autógrafos de seu livro “Debate Legislativo: coletânea de discursos e artigos de Jandira Feghali”, lançado no evento.

Esta foi a segunda edição do seminário Rio de Ideias. O primeiro encontro ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, em novembro passado. Fruto desta iniciativa foi produzido o jornal “Rio de Ideias”, distribuído nos pontos de maior circulação neste Sábado Vermelho, 15 de fevereiro, em todo o estado.