Na avaliação do secretário de Juventude do PCdoB, André Tokarski, tem crescido muito a participação de jovens comunistas na academia, também na pós-graduação, em especial a partir da ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos). “Este encontro tem o objetivo de fortalecer a atuação do partido dentro da academia e ampliar a nossa força política e a nossa participação na luta de ideias. É uma tarefa fundamental”, diz ele.

Tokarski explica que, das três frentes prioritárias de acúmulo de forças do PCdoB, ao lado da frente eleitoral e dos movimentos sociais, está “a luta por conseguir ampliar o nosso alcance na disputa de ideias na sociedade”. “Como esses militantes e esses quadros que estão em diferentes áreas de pesquisa na pós-graduação, podem ajudar ao debate do novo projeto nacional de desenvolvimento do partido, no ano em que o projeto de governo e os rumos do país estarão no debate eleitoral?”.

O líder comunista acredita que o Encontro cumpre o papel de organizar os comunistas na academia, na pós-graduação, e também avançar o debate para defender o novo projeto de desenvolvimento e relacionar isso com o projeto de educação e o projeto de ciência e tecnologia do país.

De acordo com a presidenta nacional da Anpg, Luana Bonone, o objetivo do encontro é debater a atuação do jovem comunista na universidade para ajudar a construir o projeto de desenvolvimento do país.

“Cabe à Anpg, em conjunto com a comunidade científica, lançar uma campanha de defesa de mais verba para a ciência e tecnologia no país, uma bandeira para o financiamento. Mas além disso, também pautar a condição de pesquisa do pesquisador, não só do pós graduando, mas do docente. Tem a ver com uma campanha por mais direitos”, afirmou.

Resgatar a práxis

A reitora da Escola Nacional de Formação do PCdoB, Nereide Saviani, afirmou, em entrevista ao portal Grabois, que a realização desse encontro é importante pela aglutinação de pesquisadores que atuam nas universidades, que estão na pós-graduação e têm a perspectiva da vida acadêmica. “São pessoas que têm a preocupação tanto com a produção na perspectiva marxista, quanto na produção de estudos que ajudem a entender a realidade brasileira e mundial nessa perspectiva”.

Na plateia havia pós-graduandos das áreas exatas de conhecimento se questionando sobre sua contribuição, já que não lidam com a teorização marxista. “Produzir em sua área, tendo em vista o desenvolvimento nacional, já significa estar contribuindo nessa direção”, disse Nereide. O exemplo de Haroldo Lima, gestor público comunista que atuou na Agência Nacional de Petróleo, é um caso nítido de elaboração de conhecimento para o desenvolvimento nacional a partir de sua área de atuação, como engenheiro. Lima tem tido uma forte intervenção na defesa do governo brasileiro pelo financiamento do desenvolvimento nacional em parceira com a iniciativa privada, por meio de concessões e partilha da produção dos campos de pré-sal.

Nereide considera fundamental discutir os problemas da academia, e como a luta dos pós-graduandos pode se dar no sentido de superar esses problemas, mas também como sua produção acadêmica, em seus respectivos programas, pode se voltar para prioridades que o Partido coloca no âmbito da análise da realidade brasileira, do novo projeto de desenvolvimento nacional, em suas diversas áreas de atuação.

Fortalecer a Escola

Mas Nereide também tem interesses particulares como formadora política. “A expectativa da Escola do PCdoB com os pós-graduandos, é, primeiro, que eles se formem na escola, fazendo os cursos, e continuarem estudando. Segundo, é que eles se preparem para ser formadores, ou seja, professores da Escola. Então, precisam participar dos estudos avançados, e irem assumindo aulas dos diversos níveis de cursos da Escola. Isso ajudará tanto na difusão da teoria como no seu desenvolvimento, porque eles, como estudantes e pesquisadores em suas áreas, ao estudar e ensinar nos cursos do partido, contribuirão para o próprio desenvolvimento da teoria”, explica a reitora.

Segundo Nereide, lembrando as metas recentes discutidas no Encontro Nacional de Formação e Propaganda do PCdoB, trata-se de um público especial dos diversos estados da Federação, com o qual a Escola gostaria de contar, pois pode contribuir especialmente para a consolidação das seções estaduais da Escola Nacional de Formação do PCdoB “João Amazonas”.

Pisando em ovos na Academia

A educadora Madalena Guasco em sua intervenção procurou abordar a inserção e intervenção dos marxistas na universidade, especialmente, partido do diagnóstico que há um forte recuo dos núcleos de estudos marxistas nas principais escolas do país. Ela acredita que é possível aproveitar o novo cenário de interesse no marxismo, surgido com a crise econômica mundial, para avançar na análise de novos fenômenos a partir dessa perspectiva e formar grupos de estudos, a partir de uma abordagem cuidadosa e sem preconceitos.

Ela apontou a necessidade de dialogar com as diversas correntes, aproveitando do conhecimento acumulado, em especial de dados colhidos e da documentação, ou mesmo de categorias estabelecidas nas ciências não-marxistas, que contribuam para uma análise marxista. Em entrevista ao portal Grabois, ela considera fundamental debater como se atualiza a produção no campo do marxista, em momentos de defensiva ideológica.

“Precisamos discutir a contribuição que os pós-graduandos podem dar na produção desse conhecimento novo. Como se comportar na academia, como dialogar com outras correntes, como produzir um conhecimento relevante que ajude a compreender a nossa sociedade de uma forma mais complexa”, concluiu ela.

A produção e difusão do marxismo-leninismo

O pesquisador da Fundação Maurício Grabois, Fábio Palácio, por sua vez, apimentou o debate ao apontar a necessidade do resgate do pensamento leninista, e não apenas do pensamento marxista mais genérico. Ele admite a defensiva dos pesquisadores marxistas na universidade, hoje, com a hegemonia do liberalismo e de uma prática produtivista, mas afirma a atualidade de Lênin para a compreensão de fenômenos novos como as mudanças atuais nas disputas imperialistas em meio à crise econômica mundial.

Palácio resgatou nos tempos de Lênin a preocupação do estrategista com o enfrentamento da ideologia burguesa, em seu idealismo e empirismo crítico, e a difusão do pensamento marxista. Foi debatido o modo como valores avançados da burguesia foram assimiladas pelo marxismo e, portanto, aponta para um diálogo necessário entre marxistas e demais correntes do pensamento. “Lênin foi muito enfático em propor a assimilação da grande tradição burguesa”, disse Palácio.

Ele citou o texto de Lênin, de 1920, em “Sobre a cultura proletária”, em que o comunista debate com os apressados jovens do Proletkult: “O marxismo conquistou sua significação histórica universal com a ideologia do proletariado, porque não repudiou, de modo algum, as mais valiosas conquistas da época burguesa mas pelo contrário assimilou e reelaborou tudo que houve de valioso em mais de dois mil anos de desenvolvimento do pensamento e da cultura”.

Amplo debate

O debate de sexta-feira teve como tema a “atuação dos comunistas na luta de ideias e a contribuição da academia para a atualização da teoria marxista”. 

Neste sábado, o tema foi “a ciência e tecnologica no novo projeto nacional de desenvolvimento”, com apresentação do secretário nacional de Movimento Social do PCdoB, Júlio Velloso, e “a pós-graduação no Brasil: limites e desafios”, por Paulo Sérgio Beirão (UFMG/Comissão do PNPG) e Roberto Nunes, da ANPG (Associação Nacional de Pós Graduandos).

No período da tarde, debate-se “a organização política dos comunistas no ambiente científico”, com Elisangela Lizardo (Coletivo Nacional de C&T) e André Tokarski (secretário nacional de Juventude do PCdoB), e conclui-se com uma reunião preparatória ao 24o. Congresso da ANPG, com mediação de Luana Bonone, presidente da entidade e Monique Lemos, secretária-adjunta de Juventude do PCdoB.