Filme resgata vida de campeão de boxe morto na guerrilha do Araguaia
Mais do que explorar o guerrilheiro, o filme joga luz em sua trajetória como atleta, cujo ápice foi a conquista do título dos pesados do torneio de boxe Luvas de Prata, no Rio. A disputa do título, em melhor de três lutas, ganhou contornos dramáticos.
Inexperiente, com apenas 18 anos, Osvaldão foi derrotado, por pontos, na primeira luta. Mas, na revanche, ganhou por nocaute técnico, lançando à lona o rival Antonio Alves de Sousa, que por sofrer uma fratura na queda, não pode disputar a “negra”.
O amor pelo boxe vinha desde a época em que Osvaldão era um menino na cidade mineira de Passa Quatro, antes de calçar as luvas pela primeira vez. Parentes lembram que uma de suas diversões era “brincar” de boxe.
Com cerca de cem quilos, bem distribuídos, Osvaldão tinha o físico para boxear, mas sua incursão no esporte não se limitou aos ringues.
Um colega de curso técnico lembrou que sua participação em competições entre instituições de ensino era garantia de ouro no atletismo: era craque no arremesso de peso e dardo e jogava basquete.
Uma amiga o definiu como “um tímido que se soltava quando o assunto era esporte”.
Partes do documentário, em fase de montagem, indicam que suas atuações no esporte mostravam desde cedo o seu espírito de liderança.
Uma outra parte será dedicada ao mito Osvaldão. Os habitantes da região do Araguaia acreditavam que ele tinha poder de invisibilidade: tornava-se tronco ou pedra.
O cacique da tribo Suruí, amigo do Osvaldão, explicou à equipe de filmagem que não foi com eles que o guerrilheiro aprendeu a andar no meio do mato sem fazer barulho.
“Ele disse que foi o Osvaldão que ensinou a eles [índios] a imitar de forma perfeita os sons de bichos da mata”, diz Vandré Fernandes, codiretor do filme.
Para desfazer o caráter de invencível, após matar Osvaldão, militares sobrevoaram a região com o seu corpo pendurado em um helicóptero.
Mas não houve como enterrar o mito. Até hoje, como mostram depoimentos que serão incluídos no documentário, a história e as lendas em torno de Osvaldão ainda vivem pelos lados do Araguaia.
Publicado no Caderno Esportes da Folha de São Paulo em 5/4/14