Uma das maiores manifestações dos últimos anos, em São Paulo, a 8ª. Marcha da Classe Trabalhadora desta quarta-feira (9), em São Paulo, foi exemplar na mobilização, na organização e no respeito à democracia para todo o Brasil. Os trabalhadores e trabalhadoras da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e das demais centrais, assim como movimentos de moradia, sem terra, de mulheres e negros e negras, entre outros, foram às ruas de cara limpa e de forma pacífica lutar por seus direitos e sensibilizar a sociedade para a pauta. Os organizadores falaram em mais de 40 mil manifestantes ocupando as ruas, no percurso que marchou entre a Praça da Sé e a Avenida Paulista.

O presidente da CTB, Adilson Araújo, apontou a urgência da manifestação pelo modo como o governo tem conduzido uma pauta histórica da classe trabalhadora. “Enquanto o mercado pressiona e coloca o governo numa saia justa, os banqueiros vão acumulando mais riquezas e os trabalhadores amargam o recuo em sua pauta”, descreveu ele. O sindicalista explicou que há uma forte pressão do grande capital para que o governo interrompa a Política de Valorização do Salário Mínimo, conquistada pelas centrais, que tirou milhões da linha de pobreza e elevou a base salarial a patamares inéditos. “Não vamos aceitar retrocesso”.

A defesa da Copa do Mundo, em detrimento do movimento que a nega, esteve presente na manifestação. Um bloco forte de trabalhadores da construção civil apontava o tema como um avanço para o setor, ao criar milhares de empregos. Araújo defendeu, já na Avenida Paulista, que não há contradição entre querer a Copa do Mundo e querer educação e saúde de qualidade. Ele citou os números crescentes de recursos do Governo para estas áreas e o custo muito inferior dos estádios, que não interfere em nada naqueles serviços públicos, até porque são empréstimos. “Sabemos a importância de defender a Copa do Mundo e não vai ter black bloc nesta grande festa dos trabalhadores brasileiros”, afirmou Araújo.

Espantado com o tamanho da mobilização, o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, afirmou que a marcha mostra a força da unidade das centrais, dando um exemplo para o mundo. Ele citou a importância dessa unidade na eleição da presidência da Central Sindical Internacional (CSI), quando o ex-presidente da CUT, João Felício, assumiu o cargo, interrompendo um longo período de gestões estrangeiras naquela entidade.

Torres lamentou que a pauta unificada em 2010 em encontro com mais de 30 mil sindicalistas “pouco andou”. Ele se disse decepcionado pela falta de avanço da pauta, desde a eleição da presidenta Dilma, quando foi entregue o documento. “É nossa responsabilidade, agora, mostrar que não aceitamos recuos. Só a marcha não vai resolver. Precisamos nos manter unidos e atentos aos ataques às nossas conquistas e reivindicações.”

Torres também revelou que a maior preocupação de sua central sindical é o fato dos setores conservadores estarem ganhando a batalha no Governo contra a Política de Valorização do Salário Mínimo. Ele ainda pediu um alerta sobre a votação da redução da jornada de trabalho para 40 horas e defendeu a Petrobras como “um patrimônio do povo brasileiro que não pode ser dilapidado”, referindo-se a denúncias de má gestão na estatal.

Vagner Freitas destacou que na tem como ignorar um movimento como o que ocupou as ruas por quase cinco horas de marcha – tendo começado às 9h e chegando às 14h -, sem nenhum incidente, briga ou problema relativo à segurança registrado entre os manifestantes, como tem sido comum em manifestações pequenas contra a Copa do Mundo.

“Viemos todos de cara limpa. Na nossa manifestação, não tinha máscaras, pois viemos somente com vontade de mudar. Não houve agressão contra ninguém, nenhum jornalista foi agredido, respeitamos o direito da imprensa fazer seu trabalho livremente porque isso é uma conquista da democracia que também foi feita pela CUT. Não viramos carros, não invadimos nem depredamos lojas nem quebramos nada”.

Para ele, a marcha desta quarta-feira, em São Paulo, é o tipo de manifestação boa para o Brasil porque “ela coloca a disputa de classes entre o capital e o trabalho, mas respeita a democracia.” A clareza nas reivindicações também é um elemento diferencial que unifica a classe trabalhadora.

“Não tem como aceitar o fator previdenciário e exigimos uma posição firme do governo em apoio à Política de Valorização do Salário Mínimo”, destacou. Ele lembrou que o aumento real para os salários foi conquistado nas ruas, e não foi um benefício oferecido por governo ou patrões. “Agora, a burguesia está dizendo que não dá para aumentar o salário mínimo sem aumento de produtividade”.

Freitas é favorável a realização dessas manifestações em momento eleitoral, aproveitando que todos querem o voto da classe trabalhadora para avançar a sua pauta de reivindicações. O cutista também comemorou a eleição de João Felício na CSI como uma vitória do sindicalismo brasileiro unificado.