Luzes e Letras

 

(foto de Miguel Figueiredo, Serra Estrela – Portugal)

 

 

Três da tarde. Sentada ao lado da janela ruidosa, aberta para o ar da rua, vislumbro e me abstraio com os raios de luz

refletidos em meu caderno na metade da página em branco. As falas da reunião vão ficando mais abafadas e as

letras escritas à lapis, na outra metade, se misturam à essa luminosidade e me distanciam dali. A brisa que entra

suave, me suavisa também, e como que brincando, sacode as persianas, cutuca-as e abre espaços para a luz criar

seus desenhos no papel. São fachos iluminados escrevendo seu poema na outra metade do meu caderno. Eles são

desenhados em geometrias e movimentos, ocupando o lugar das vogais e consoantes, que agora são contidas na

ponta do lápis. Os fachos vêm esboçados dos reflexos da vidraça do outro prédio em frente, que por sua vez vêm das

entre-nuvens, que por sua vez vêm da memória que tenho do sol. Ele andou sumido e, aqui, no meio desses prédios

densamente estanques, ele nunca é visto, a não ser assim, em reflexos de sí. São fachos de luz e de pensamentos

que se imprimem na folha do meu caderno e excitam as paixões, posto que são essas as letras que mais aquecem

meu coração, em meio à tarde. Nesta tarde.

 

 

 

Eliana Ada Gasparini – fonte : http://coisasdeada.blogspot.com  e Coisas de Ada também  no facebook: https://www.facebook.com/CoisasdeAda.