Revelando a beleza das curvas da arquitetura de Oscar Niemeyer, o Memorial Luiz Carlos Prestes será visitado por lideranças políticas durante as homenagens aos 90 anos da Coluna Prestes. O evento com presença de autoridades locais, será dia 27 de maio e dá a largada a série de atividades que ocorrem em todo o estado do Rio Grande do Sul.

A obra do Memorial Luiz Carlos Prestes está pronta em mais de 90% da sua área física, mas o prédio só será inaugurado no final do ano em Porto Alegre. Muito provavelmente em uma data emblemática para os militantes prestistas do estado e em nível nacional: 28 de outubro. Foi neste dia, em 1924, que a Coluna Prestes iniciou em Santo Ângelo a marcha famosa que percorreu 25 mil quilômetros do interior do país, durante dois anos e meio.

A obra de 700 metros quadrados de área edificada fica na avenida Edvaldo Pereira Paiva, próxima da esquina com a avenida Ipiranga, nas vizinhanças do Anfiteatro Por do Sol que beira o Guaíba. O Memorial divide um lote do terreno da futura sede da Federação Gaúcha de Futebol.

Guardados por Edson dos Santos, presidente do Instituto Olga Benário Prestes, entidade nacional com sede em Porto Alegre, que representa o grupo que vem acompanhando a execução da obra, seis painéis já esperam pelo momento de instalação no interior do Memorial. Com mais fotografias do que textos, informarão os visitantes sobre a trajetória de Prestes e Olga Benário.

A obra, de pé-direito de 5,5 metros, incorporou a instalação de dois vidros de 5mm cada no contorno de concreto pintado de preto. O prédio é marcado por um volume vermelho e contará com área de exposição, biblioteca e miniauditório. A Federação Gaúcha de Futebol, que recebeu metade da área de 11,25 mil metros quadrados, assumiu em contrapartida o compromisso de execução da obra e da posterior manutenção e segurança do Memorial.

As rampas foram os elementos mais complexos de ser executados no trabalho. A obra, de pé-direito de 5,5 metros, aguarda a instalação de dois vidros de 5mm cada no contorno de concreto pintado de preto. O prédio é marcado por um volume vermelho em alusão à foice e o martelo, sendo circundado por um espelho d’água. O Memorial Luiz Carlos Prestes contará com área de exposição, biblioteca e miniauditório.

No texto Não basta Louvar – sobre o Memorial Luiz Carlos Prestes – republicado na página do Polo Comunista Luiz Carlos Prestes (PCLCP) – Niemeyer explicava: “O projeto que fiz do memorial de Luiz Carlos Prestes é, a meu ver, obra tão especial que vale a pena explicá-la um pouco”.

“É um trabalho que não se baseou, como de costume, num programa construtivo, mas na ideia de criar um elemento principal e único: uma parede que, cheia de curvas e retas inesperadas, atravessando em diagonal um retângulo de vidro do edifício (de lado a lado), possa lembrar aos visitantes as etapas fundamentais da vida desse grande brasileiro. A fachada simples e retilínea de vidro do edifício marcaria, com a parede interna tão movimentada, o contraste que a boa arquitetura procura muitas vezes exibir”.

“Junto da entrada, a parede com textos e imagens começa a mostrar aos visitantes os inícios da vida de Prestes, quando, oficial do Exército, era incumbido de acompanhar obras em construção no Rio Grande do Sul – aí surge, já com 26 anos, severo como sempre foi, Prestes a reclamar da maneira pouco correta com que os trabalhos estavam sendo desenvolvidos.”

A organização da Coluna decorre da percepção de que “os problemas do país tinham de ser resolvidos por meio de uma revolução”, diz o arquiteto. Após a marcha, Prestes ficaria exilado na Bolívia, na Argentina e na União Soviética, onde segundo Niemeyer, Prestes já estava sintonizado “com o pensamento de Marx”, ganhando a revolução “um sentido mais amplo e universal”.

Na representação do percurso do Memorial relativo à prisão de Prestes, “a parede vai se escurecendo e, num ambiente mais fechado e sombrio, aparece o período da prisão, em que ele permanece nove anos incomunicável. E, como para agravar tanta tristeza, em 1936, sua mulher, Olga Benário, presa e grávida, é enviada criminosamente a um campo de concentração na Alemanha, onde seria morta numa câmara de gás em 1942; sua filha, Anita, após grande campanha internacional desencadeada pela mãe de Prestes, é afinal entregue à avó”.

“Quando Prestes é anistiado, e o Partido Comunista Brasileiro conquista a legalidade”, na época “dos grandes comícios, da campanha pela Constituinte”, a parede fica vermelha e “vai mudando de cor, escurece outra vez. Diante dela, comovidos, os visitantes constatam que o momento de euforia passara. Em 1947, o TSE cancela o registro do PCB e, a seguir, cassa os mandatos dos parlamentares comunistas – entre eles, Prestes. Era a reação anticomunista que recomeçava, implacável”.

O Memorial registra os anos da clandestinidade, do Golpe de 1964, dos direitos políticos cassados e do novo exílio até 1979. Na década de 80, já fora do PCB e combatendo por um partido revolucionário de novo tipo, efetivamente revolucionário, Prestes segue “altivo e corajoso como sempre”, como relata Niemeyer, que morreu em 1990.

Niemeyer termina : “Como arquiteto, vejo, satisfeito, que meu projeto vai contribuir para manter viva a memória de Luiz Carlos Prestes, um brasileiro que lutou em favor de seu povo, contra a miséria e a desigualdade social que, infelizmente, ainda persistem em nosso país. (…) Sinto que não basta louvar o passado. O importante é continuar essa luta por um mundo melhor que o império de Bush procura em vão obstruir”.

As atividades de homenagem aos 90 anos da Coluna Prestes também estarão acontecendo nos seguintes municípios gaúchos: Caxias do Sul (26/05), Porto Alegre (27 e 28/05), Passo Fundo (29/05), Santo Ângelo (30/05), São Luiz Gonzaga (31/05), São Miguel das Missões (01/06), Ijuí (02/06), Santa Maria (03/06).