REPORTAGEM: Congresso Nacional homenageia os 90 anos da Coluna Miguel Costa-Prestes
A Sessão Solene conjunta do Congresso Nacional – Câmara dos Deputados e Senado Federal, requerida pela Deputada Luciana Santos (PCdoB/PE) e pelo Senador Inácio Arruda (PCdoB/CE), marcou a passagem dos 90 anos da Coluna Miguel Costa – Prestes, ocorrida na manhã de hoje, 20 de maio de 2014, no Plenário Ulisses Guimarães, da Câmara dos Deputados.
A solenidade iniciou presidida pelo Senador requerente, Inácio Arruda que compôs a mesa com a deputada Luciana Santos, a viúva de Luiz Carlos Prestes, Maria Prestes, o diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do IPHAN, Andrey Rosenthal Schlee, a professora e historiadora, Marly Vianna e o vice-líder do PCdoB na Câmara, deputado João Ananias.
Na oportunidade, combatentes do Movimento que se originou nos quartéis brasileiros, a partir da insurgência de Tenentes, que marcharam pelo Brasil, entre 1924 e 1927, representados por familiares, receberam certificados honoríficos do Congresso Nacional, em reconhecimento a luta de cerca de 1500 lutadores, dos quais 50 mulheres.
Foram agraciados com os certificados: Luiz Carlos Prestes (in memorian), chefe do estado maior da Coluna, representado pela viúva do “Cavaleiro da Esperança”, Maria Prestes que recebeu a placa do Senador Inácio Arruda. Miguel Costa (in memorian), comandante geral da Coluna, representado por seu neto Yuri Abyaza Costa, entregue pela deputada Luciana Santos e pelo deputado Chico Lopes. O líder João Cabañas (in memorian) foi representado por sua neta Letícia Cabañas, cujo certificado foi entregue pela presidenta da União Nacional dos Estudantes – UNE, Virgínia Barros e pelo deputado Fernando Ferro.
O deputado Gustavo Petta entregou a homenagem do comandante Ezidro Pires Nardes, único combatente vivo de que se tem notícia, que hoje está com 104 anos e, por recomendações médicas, não pode viajar, tendo sido representado por seu neto Cleiton Weizenmann. Ezidro, gaúcho de Lagoa Vermelha, se juntou a Coluna Costa – Prestes, aos 13 anos, com a tarefa de cuidar dos cavalos durante o descanso da tropa.
A deputada mineira Jô Moraes assumiu a presidência dos trabalhos, incumbida de representar a presidência das duas Casas Legislativas. O discurso do Presidente Renan Calheiros, lido pela deputada Jô Moraes, iniciou dizendo que tratava-se de uma justa homenagem a um episódio marcante da história política de nosso país, que teve como principal causa a insatisfação de parte dos militares com a forma que o Brasil era governado na época: sem direitos democráticos, com graves fraudes eleitorais, grande concentração do poder político nas mãos da elite agrária, e exploração das camadas mais pobres da população.
Mas, para o presidente do Congresso, “muito mais que se indignar contra miséria dos brasileiros e contra a injustiça social, evitando a violência, a Coluna tinha suas bandeiras de luta, concentradas principalmente na implantação do voto secreto e do ensino fundamental obrigatório no Brasil”.
“Prestes foi figura emblemática na história política de nosso país, tendo sido eleito senador em 1945 pelo então Partido Comunista do Brasil com a maior votação proporcional até então”, observou o discurso de Renan Calheiros que, em seguida lamentou por, “infelizmente teve seu mandato cassado após o Tribunal Superior Eleitoral ter cancelado o registro do partido, em 1947”.
“Há precisamente um ano, tive a honra de presidir a sessão reparou essa mácula de nossa história devolvendo o mandato de senador a Prestes. Na oportunidade, como presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, em nome do Parlamento de nosso país pedi desculpas à família de Luiz Carlos Prestes pela atrocidade patrocinada pelo estado contra um ilustre brasileiro, legitimamente escolhido pelo povo para representá-lo”, sublinhou Calheiros.
No discurso do Presidente do Congresso, houve o resgate histórico do discurso de Luiz Carlos Prestes, proferido durante a Constituinte de 1946, onde o “Cavaleiro da Esperança” afirmou que errar é dos homens, mas que acreditava no predomínio da inteligência e na força dos argumentos. Grifou que um traço marcante do caráter de Prestes foi a crença no diálogo.
A proponente da Sessão Solene, deputada Luciana Santos, iniciou seu pronunciamento lembrando que a memória do povo é a alma da Nação, ao fazer referência à importância do Congresso Nacional ajudar no resgate de um dos momentos que representou um divisor de águas na história brasileira, os 90 anos da Coluna Miguel Costa – Prestes.
A deputada pernambucana discorreu sobre a história do movimento Tenentista que se destacou pela oposição democrática à República Oligárquica, entre 1889 e 1930, que, segundo Luciana Santos, teve três grandes vertentes que criaram as condições para o surgimento da Coluna: o levante do Forte de Copacabana, em 1922, conhecido como os 18 do Forte, o levante tenentista de São Paulo, em 1924 e o movimento de solidariedade aos revoltosos paulistas, articulado nos quartéis do Rio Grande do Sul, em 1924, de onde brota o comando do jovem capitão Luiz Carlos Prestes.
Para Luciana Santos, o movimento de solidariedade dos revoltosos gaúchos que iniciam uma cruzada libertadora, que, no Paraná, se une a coluna paulista liderada por Miguel Costa, “galvanizou os setores insurgentes contra tudo o que a oligarquia brasileira da época representava: impostos exorbitantes, desonestidade administrativa, falta de justiça, mentira do voto, amordaçamento da imprensa, perseguições políticas, desrespeito a autonomia dos estados, falta de legislação social, reforma da Constituição sob o Estado de Sítio, entre outras bandeiras libertárias”.
Ao encerrar seu discurso, Luciana Santos disse que uma boa forma de homenagear o “Cavaleiro da Esperança”, era lembrar da definição do poeta Pablo Neruda que disse que “nenhum dirigente comunista da América Latina teve uma vida tão trágica e portentosa quanto Luiz Carlos Prestes”. Assim, conclamou que a memória da Coluna Miguel Costa – Prestes siga inspirando a luta por desenvolvimento, avanço e soberania do Brasil.
O Senador Inácio Arruda abriu seu discurso resgatando o dizer de Caio Prado Júnior, que define a Coluna que percorreu entre 25 mil e 36 mil quilômetros (não há consenso entre os historiadores) do solo brasileiro, como “um dos episódios máximos da história brasileira”.
Arruda enfatizou que o movimento “envolveu homens e mulheres idealistas, abnegados, que abandonaram o conforto de seus lares e suas famílias para se embrenharem no Brasil, ansiando por uma vida melhor para nossa gente”, já que a Coluna aconteceu num momento de crise econômica mundial, onde o Brasil estava inserido como um país dependente.
Além de arrazoar sobre momentos da história da Coluna, o Senador comunista resgatou que foi durante a marcha que Luiz Carlos Prestes teve o seu primeiro contato como Partido Comunista do Brasil. Contou que o dirigente pernambucano Cristiano Cordeiro foi ao encontro de Prestes, no Piauí, apresentar-lhe as reivindicações da classe operária e saber se o “Cavaleiro da Esperança” assumiria aquele programa de reivindicações, cujo movimento se articulava em Recife. Entretanto, a Coluna não chegou a Recife.
Inácio Arruda decidiu encerrar seu pronunciamento com as palavras do general Henrique Cunha, outro combatente da Coluna: “A melhor homenagem que se pode prestar aos heróis revolucionários que se sacrificaram por um Brasil progressista, economicamente independente, é manter e conservar em mãos firmes a bandeira libertadora dos ‘5 de julho’. É um dever que incumbe a todos os brasileiros patriotas: conquistar a libertação econômica da nossa pátria, lutar em defesa do nosso patrimônio, de nossas riquezas minerais estratégicas e radioativas, de nosso petróleo, contra a cobiça dos trustes internacionais, de lutar sem desfalecimento pelo prosseguimento da industrialização do país, garantia de nossa segurança e defesa, de lutar por uma reforma agrária que elimine a miséria, a fome, as doenças e o abandono dos campos, de lutar pelo respeito ao exercício dos mandatos conferidos pela vontade soberana do povo livremente expressa nas urnas, de lutar pelo ideal de paz, pela proibição de guerras de conquista, consagrado em todas as nossas Constituições, enfim, manter bem vivo o espírito de confraternização com o povo nas suas lutas pelos ideais de independência econômica, de paz, democracia e progresso”.
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Tumulto e emoção
É esta a melhor maneira de homenagear aqueles bravos revolucionários e sermos dignos de suas gloriosas tradições, concluiu Arruda, sendo interrompido de forma abrupta pelo deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE). Devido ao atraso da solenidade anterior, não houve tolerância ou pedido oficial de desculpas para que a comemoração fosse encerrada, desrespeitando os convidados. Com protestos e tumultos, a Oposição iniciou, então, sua sessão para discutir a CPI da Petrobras.
Os participantes foram todos, então, para o Salão Nobre, onde continuou os discursos não apresentados no Plenário Ulysses Guimarães. A informalidade do espaço favoreceu a comemoração, que tornou-se mais comovente com as manifestações dos parentes de combatentes da Coluna. Seguiu-se um coquetel de lançamento do livro Meu Companheiro, 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes, escrito por Maria Prestes.
Estava previsto para o local o lançamento da terceira edição do livro “Meu companheiro – 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes”, da viúva Maria Prestes. A atividade foi uma proposta da Comissão de Cultura, como mais uma edição dos Manifestos Culturais, trazendo uma exposição sobre os 90 anos da Coluna Prestes, em parceria com a Fundação Maurício Grabois, além do lançamento do livro.
Para a presidenta da Comissão de Cultura, deputada Alice Portugal, lançar o livro de Maria Prestes foi uma honra para a Comissão de Cultura que tem primado em fazer erguer a cultura política do nosso povo. “Para nós é motivo de orgulho e honra receber os familiares de Luiz Carlos Prestes, Miguel Costa, João Alberto Lins de Barros e João Cabanas nesta Casa. O legado da Coluna é o legado luminoso que estamos hoje vivenciando nas conquistas democráticas do povo brasileiro. A pauta da Coluna é uma pauta atual, pela educação pública de qualidade, pelos direitos das crianças e dos adolescentes, pelos direitos da mulher, pela liberdade de credo”, destacou a deputada Alice.
Alice disse que a caminhada da Coluna Prestes pelo País foi, na realidade, a construção do futuro. “Homenagear os familiares com uma exposição na Casa é lembrar nossos heróis”, complementou.
A exposição 90 anos da Coluna Prestes ficou aberta ao público durante quatro dias, no Espaço Mário Covas da Câmara dos Deputados, e relatou em painéis a biografia dos participantes da Coluna Prestes e exibiu textos, fotografias, vídeos e poesias sobre o movimento político-militar que mobilizou milhares de pessoas entre 1922 e 1927 pelo interior do Brasil, combatendo a chamada República Velha.
Prestes Filho lembrou a luta do pai contra o conservadorismo da época e disse que esse conservadorismo ainda existe na política atual. “A Coluna é um patrimônio histórico, cultural e social do povo brasileiro, que lutou contra a corrupção e a oligarquia que atrasava o nosso país”, afirmou.
Maria Prestes agradeceu a homenagem feita pelo Congresso e disse que o livro é uma biografia de sua vida e um resgate da história do povo brasileiro. Para ela, poucos conhecem a trajetória do “maior comunista da história brasileira”. “O livro é a biografia da minha vida ao lado do Luiz Carlos Prestes, homem que até hoje tem o seu nome temido”.
O livro, lançado nas línguas portuguesa e espanhola, tem o objetivo de atingir também os povos da América Latina e “resgatar a história da Coluna Prestes como movimento libertário e democrático brasileiro”.