Poema do amante da viúva do tuberculoso

 

 


Para mim és um mito,


és o fantasma  de teu marido


que morreu tossindo de madrugada,


engasgando em sangue,


és o símbolo do tísico,


és o tuberculoso vestido em carnes novas.


A presença real de teu marido


agarra-se inexorável á floração de tuas carnes


na minha obsessão,


terror  diabólico que me inibe o prazer,


receio angustioso que me veda a satisfação!


Preciso possuir-te brutalmente


para não sentir tocar-me o peito batido,


as pernas magras, a pélvis saltada do tísico….


teu amor seria tão bom


se o defunto tivesse morrido mesmo,


meu mal foi conhecer teu marido tossindo a noite inteira,


a luz acesa coando por baixo da porta.

 

 


Bernardo Élis / Poemas – Primeira Chuva