Realizada no auditório da sede nacional do PCdoB, em São Paulo, a solenidade de lançamento reuniu cerca de trinta pessoas entre acadêmicos, estudantes e militância comunista. Na ocasião foram apresentados e debatidos o manifesto de constituição e a coordenação da nova entidade.

 

Leia aqui a versão inicial do manifesto de constituição da Sociedade dos Amigos de Lenin.

 

O evento foi aberto por Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois. Ele lembrou que, no final do ano passado, a Fundação já havia prestado uma grande homenagem ao patrono da Sociedade, com a edição do livro de poesias “Vladimir Ilitch Lenin”, do poeta russo Vladimir Maiakovski. Monteiro discorreu sobre os noventa anos da morte de Lenin, completados em janeiro deste ano, e sobre a atualidade do leninismo. Citou ainda um trecho do poema de Maiakovski – “Não devemos / Nos derramar / Em poças de lágrimas,- / Lenin / ainda / está mais vivo do que os vivos” – e encerrou sua intervenção convocando a mesa do evento, composta por Aloisio Sérgio Barroso, diretor de Estudos e Pesquisas da Fundação Maurício Grabois; Ligia Maria Osório, professora de Economia da Unicamp, e João Quartim de Moraes, professor de Filosofia da mesma universidade e membro do Comitê Central do PCdoB.

Na visão exposta por Quartim de Moraes, não é possível entender o século XX sem recorrer a Lenin. Ele ilustrou essa afirmação citando a célebre frase formulada por Stalin em seus Princípios do Leninismo: “O leninismo é o marxismo da época do imperialismo e da revolução proletária”. Conforme lembrou Quartim, a I Guerra teve grande impacto sobre o movimento revolucionário. Naquele período, com a capitulação dos partidos operários – que em sua maioria decidiram abandonar a luta pela paz e apoiar a intensificação dos esforços de guerra –, “os revolucionários ficaram reduzidos a um punhado de abnegados”. Foi no processo de reconstrução do movimento operário revolucionário que Lenin revelou-se, uma vez mais, um gigante da luta transformadora.

Outra grande contribuição do teórico e dirigente soviético deu-se na elaboração de sua teoria do imperialismo. “Lenin mostrou que a concentração da produção leva aos monopólios”, explicou o professor da Unicamp, acrescentando que, conforme fica claro na atualidade, esse fenômeno não se dá apenas no setor produtivo tradicional, mas também em segmentos menos tangíveis da economia moderna, como a comunicação social. Quartim lembrou que, nessa área, a concentração é hoje muito maior, já que “à época de Lenin, ao contrário do que temos hoje, não eram necessários grandes aportes de capital para possuir um jornal de nível técnico semelhante ao dos jornais burgueses”.

Já a profa. Maria Lígia Osório destacou a capacidade, cultivada por Lenin, de aprender com as massas. “Lenin era sempre muito atento ao movimento de massas. Isso é um aspecto de seu pensamento que às vezes não é suficientemente destacado. Ao mesmo tempo, Lenin não se cansava de chamar atenção para o fato de que não devemos temer ficar sozinhos”, argumentou.

Lígia Osório destacou ainda aquilo que considera outra marca importante do pensamento leninista: a defesa da ligação do movimento operário com a questão nacional, concebida esta sob a ótica do proletariado revolucionário. E encerrou sua intervenção afirmando ser de extrema importância criar e manter um fórum para mais bem entender e estudar o pensamento leninista.

O coordenador da SAL, Aloisio Barroso, sublinhou que a nova iniciativa tem caráter permanente. A Sociedade desenvolverá debates, seminários, reuniões de estudos e publicações. Muitas dessas iniciativas serão divulgadas por meio da revista Princípios. A Sociedade terá, ainda, um espaço virtual albergado no portal Grabois. Também será criação uma lista de discussão virtual.

No final de sua intervenção, Barroso anunciou a coordenação da Sociedade dos Amigos de Lenin, que será composta pelas professoras Ligia Maria Osório, Marly Vianna e Zoia Prestes; pelo professor João Quartim de Moraes; por Walter Sorrentino, secretário de organização do Comitê Central do PCdoB; pela pesquisadora e doutoranda Rita Coitinho, e pelos diretores da Fundação Grabois Augusto Buonicore e Fábio Palácio.

Ao final das intervenções da mesa, os participantes do evento discorreram sobre a necessidade de estudar e divulgar as contribuições de Lenin sobre temas diversos, como transição ao socialismo, questão agrária, teoria marxista do Estado, cultura e teoria do conhecimento. Para Augusto Buonicore, secretário-geral da Função Maurício Grabois, é preciso colocar Lenin na pauta da esquerda brasileira. Na visão de Walter Sorrentino, o eixo dos debates da nova Sociedade deve ser a discussão da atualidade do pensamento leninista. “O marxismo-leninismo restou petrificado, e uma das marcas de Lenin no campo teórico foi o combate ao positivismo e ao pensamento ossificado”.

A primeira grande iniciativa da SAL ocorre no mês de novembro, quando será realizado um grande seminário sobre Lenin, alusivo aos 90 anos de seu falecimento. Até o final do mês de junho a Sociedade recebe, por meio de seu comitê de redação, propostas de emendas e ajustes ao manifesto da entidade.