Mas quem são esses jovens que, por trás das máscaras, são considerados “vândalos” pelos governantes? Por que quebram agências bancárias e destroem símbolos do capitalismo? Como e quando essa modalidade de protesto surgiu?

São a essas perguntas que o canadense Francis Dupuis-Déri procura responder em seu livro Black Blocs (Editora Veneta), recém-publicado no Brasil. A ocasião não poderia ser mais propícia. Se a radicalidade desses jovens se anuncia como uma atração à parte da Copa do Mundo, governos e forças de segurança pública procuram novas estratégias para reprimir suas ações – com alterações na lei que flertam com Estados autoritários. Enquanto isso, a esquerda tradicional tenta compreender, com um misto de reserva e desconfiança, essa nova maneira de se manifestar que parece contagiar segmentos da juventude.

Professor de Ciências Políticas e membro do Instituto de Pesquisa e Estudos Feministas da Universidade do Quebec, no Canadá, Dupuis-Déri estuda o fenômeno há cerca de quinze anos, desde os protestos de Seattle durante a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1999. Para ele, há um aspecto que deve ser esclarecido, sobretudo para os críticos dessa modalidade de protesto: não se deve esperar dos Black Blocs “um tratado de filosofia, muito menos uma estratégia”. O grupo, na verdade, representa uma tática que “não envolve relações de poder globais, nem tomadas de poder, tampouco tenta se livrar do poder e da dominação. Uma tática não envolve uma revolução global. Isso, porém, não implica renunciar à ação e ao pensamento políticos”.

O papel dos Black Blocs seria, prioritariamente, chamar a atenção para um desconforto social de acirramento das desigualdades sociais em todo o mundo. Suas raízes históricas e políticas estariam nos Autonomen, o movimento “autonomista” em Berlim Ocidental, onde a tática foi empregada pela primeira vez, no início dos anos 1980. Eles seriam compostos hoje quase sempre por jovens, predominantemente do sexo masculino (embora alguns grupos tenham mulheres), anticapitalistas e de inspiração anarcopunk. “Inesperadamente, o retrato do grupo que surge é de cidadãos responsáveis e sensatos, de ambos os sexos”, retrata em seu livro, ressalvando, no entanto, a dificuldade de traçar com precisão um perfil sociológico do grupo.

Dupuis-Déri aprofunda o debate sobre diversas críticas feitas aos Black Blocs e expõe as tensões entre os jovens mascarados e os movimentos sociais tradicionais, com seus modelos de representação. Embora não trate especificamente dos episódios ocorridos no Brasil, a obra contribui para tirar do lugar comum uma reflexão necessária sobre uma nova maneira de se manifestar que, gostem ou não, parece ter vindo para ficar.

Gisele Silva é Jornalista.