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Na tarde desta sexta-feira, milhares de pessoas compareceram a um protesto em Detroit, onde demandavam a proibição dos cortes de água massivos que têm, segundo os manifestantes, deflagrado um problema de saúde pública na cidade.

Dezenas de sindicatos e organizações americanas e internacionais apoiaram a marcha, que protestou em favor da religação imediata da água de milhares de residências onde o fornecimento já foi cortado e o cancelamento dos milhares de cortes previstos. “Quanto mais atenção pudermos atrair para essa questão, mais poderemos aliviar esta crise que não deveria estar acontecendo,” foi o que declarou ao Common Dreams Shea Howell, do grupo Detroiters Resisting Emergency Management.

O Departamento de Água e Esgoto de Detroit (DWSD) anunciou no mês passado a implantação de um plano para aumentar os cortes de água nas casas que estejam devendo mais de 3000 dólares. Quase a metade de todas as residências estão com contas atrasadas — uma situação que tende a piorar, visto os contínuos aumentos nas contas de água e o corte nos benefícios públicos.

Como resultado, milhares de residentes de Detroit ficarão sem água, apesar da proximidade aos Grandes Lagos — que possuem mais de um quinto de toda água doce do planeta.

Os cortes foram vistos como uma “violação dos direitos humanos” pela ONU, com especialistas em habitação declarando que tais medidas “podem ser discriminatórias” contra os afro-americanos. Muitos moradores suspeitam que os cortes são parte de um plano para que a cidade se livre de dívidas incobráveis e possa privatizar o sistema, e também para expulsar da cidade os moradores mais pobres— na sua maioria negros — abrindo caminho à gentrificação e aos lucros das incorporadoras.

Mas os organizadores declaram que os moradores de Detroit têm encontrado maneiras criativas de resistir aos cortes.

Na sexta-feira de manhã, moradores bloquearam a entrada da Homrich Inc, a companhia contratada pela cidade para realizar os cortes. De acordo com Howell, a desobediência civil segue com confrontos entre manifestantes e policiais. A ação direta ocorreu depois de protestos onde a polícia levou dez moradores à prisão.

Ann Rall, do Michigan Welfare Rights Organization e do Peope’s Water Board disse ao Common Dreams que “times de resposta” foram formados para avisar os moradores quando os empreiteiros entrarem nos bairros para cortar a água. Os organizadores também estão indo de porta em porta nas áreas devastadas pelos cortes para ligar as casas a recursos destinados à crise, incluindo o Water Rights Hotline. Além disso, há várias “estações de água” montadas pela cidade que, de acordo com Rall, constituem “locais centrais onde as pessoas podem ter acesso à água e se organizarem.”

Em uma “reunião da comunidade” do Departamento de Águas e Esgoto de Detroit, no bairro de Grandmon Rosedale, ativistas e vizinhos expressaram sua raiva contra os cortes. No bairro de North End, um morador se colocou em frente à sua válvula de água para que os empreiteiros não a desligassem.

Várias organizações locais estão pressionando a cidade para que ela adote o plano de acesso à água, que já passou pelo Conselho da Cidade de Detroit em 2005 mas foi ignorado pelo DWSD.

E ainda este mês, o Conselho de Canadenses enviará um comboio de água a Detroit para entregar água aos moradores que necessitem.

Os ativistas têm esperanças de que o protesto de sexta irá ajudar a mostrar o caráter universal que a crise da água de Detroit possui: “cortar a água de uma comunidade é um ataque contra o direito básico de acesso à água potável,” declarou Jean Ross, presidente do National Nurses United — que teve um papel central na organização do protesto de sexta.

Rall enfatizou que entre as “ações extremamente calculistas, cruéis e exploradoras” que a cidade está tomando, a resistência local está se levantando. “Há coisas impressionantes ocorrendo em Detroit hoje,” declarou.

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Tradução de Roberto Brilhante para Carta Maior