Depois da Copa, Brasil se destaca ao sediar Cúpula do BRICS
Aqueles que rogaram pragas, que apostaram contra a capacidade do Brasil e de seu povo para realizar a Copa do mundo de futebol, tiveram que engolir o êxito em chão nacional desse que é maior evento esportivo do mundo. Soou o apito final da Copa, e o país continuou em evidência internacional, ao sediar, em Fortaleza e Brasília, a 6ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do BRICS, integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Além das reuniões da Cúpula, presidentes destes países terão reuniões bilaterais com a presidenta Dilma Rousseff, anfitriã do encontro.
Para se ter uma ideia da importância do BRICS, basta destacar alguns dados dos países que constituem este bloco. Eles têm crescido a taxas médias superiores às dos países desenvolvidos e enfrentado a turbulência econômica mundial com mais eficiência. Os países BRICS, ademais, são atrativos para o investimento e o comércio, pois abrigam em seus territórios aproximadamente 40% da população do Globo e mais de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, podendo chegar, de acordo com a revista The Economist, a um terço ainda nesta década.
Outra característica do grupo é a sua força política. China, Índia, Rússia, três gigantes da Ásia, se destacam entre as nações desta importante região do planeta e o peso geopolítico delas, sobretudo da China e da Rússia, se eleva crescentemente no sistema de poder internacional. A África do Sul, desde o fim do apartheid, é uma referência política para o continente africano. Nas Américas, com os governos Lula e Dilma, o Brasil afirmou sua soberania nacional e passou a ter uma inserção internacional altiva, destacadamente na construção da integração latino-americana e no fortalecimento das relações Sul- Sul.
Depois desta Cúpula no Brasil, o BRICS – que há cerca de 11 anos atrás era apenas uma sigla (originalmente BRIC) – ganha uma materialidade econômica efetiva, personalidade política real, com a adoção do acordo sobre a criação do seu próprio Banco de Desenvolvimento, com capital inicial de US$ 50 bilhões, uma importante inovação no sistema internacional de financiamento.
O banco terá como objetivo prover recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos cinco países do grupo e poderá, eventualmente, ajudar outros países emergentes com dificuldades na obtenção de financiamento internacional. Além desse mecanismo, que certamente terá impacto no sistema de governança global, a 6ª Cúpula poderá assinar o Tratado para a constituição do chamado “Arranjo de Contingente de Reservas”, um fundo “anticrise” de US$ 100 bilhões para atuar em eventuais dificuldades de algum membro do grupo.
Esta concretude alcançada pelo BRICS é um fato que deriva e reforça a atual transição que se processa no sistema internacional, no qual há um relativo e crescente declínio da hegemonia dos Estados Unidos da América e a ascensão crescente do polo dos países em desenvolvimento no qual se destacam a China e os demais integrantes do BRICS.
Por óbvio, o imperialismo estadunidense e outras grandes potências capitalistas não estão dispostos a perder a hegemonia que hoje detêm. Em razão disto empreendem uma nítida política de contenção do BRICS, que vai desde a guerra ideológica até o fomento de divisões e instabilidade no interior de cada um dos países do grupo e no seu entorno estratégico. A tentativa de conter e debilitar o processo de integração latino-americana é um exemplo típico desta investida.
O empenho do Brasil, do governo da presidenta Dilma Rousseff, para que sejam dados novos passos rumo à consolidação do BRICS e o prestígio internacional adquirido pelo país para que ele seja reconhecido como ator relevante neste processo são uma conquista destacada destes últimos onze anos.
Adalberto Monteiro é editor da revista Princípios