A presidenta do Conselho Mundial da Paz e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, esteve em Assunção, capital do Paraguai, para uma intensa agenda política com a Frente Guasu, aliança de partidos de esquerda no país. Desde a visita do ex-presidente Fernando Lugo ao PCdoB, em maio deste ano, a Frente Guasu preparava esta série de reuniões e eventos em parceira com a Fundação Maurício Grabois e a Secretaria de Relações Internacionais do PCdoB.
Até novembro, a Jerovia, instituição de pesquisa que reúne as lideranças de esquerda do Paraguai, querem efetivar um convênio com a Fundação Maurício Grabois com parceria cooperativa em áreas como comunicação, por exemplo. “Tanto Lugo, como outras lideranças estão esperançosos para avançarmos em estreitar laços entre a Frente Guasu e o PCdoB”, afirmou Socorro. “Estão com muita expectativa com a contribuição do Partido., pois respeitam, admiram e valorizam o apoio e solidariedade brasileiras e comunista.”
Conforme o avanço da agenda local, Socorro observou a profunda unidade e avanço da esquerda na resistência ao Governo Cartes. “Vi na Frente Guasu a soma e a busca da construção de unidade com todos os comprometidos com o estado, o direito e a democracia. Observar este nível de avanço e organização da luta foi o ponto alto da minha visita”, declarou ela. Segundo Socorro, o foco dessa unidade, hoje, está na luta contra a destruição do que é público e contra a mercantilização de tudo que é rentável. “Tudo que pode ser transformado em lucro está sendo entregue à iniciativa privada. Setores estratégicos como a saúde pública, a educação, a seguridade, a água e o esgoto”, relata ela. “O movimento popular patriótico paraguaio cresceu muito, está mais unido e consciente. O povo está mais preparado para enfrentar os embates com o projeto neoliberal”.

Jornada de mobilizações
No domingo, 10 de agosto, Socorro participou de reunião com o Comitê Político do Partido Comunista do Paraguai. “O PCP tem muitos jovens e muita consciência da necessidade da unidade popular em defesa de sua soberania”, diz Socorro. Na segunda-feira, 11 de agosto, Socorro amanheceu em reunião com a equipe política da Frente Guasu e terminou o dia em reunião com a secretária de Relações Internacionais da frente partidária. Durante a tarde, ela acompanhou as articulações para a jornada de mobilizações que os partidos realizam entre os próximos dias 13 e 15.
Os protestos visam fortalecer a oposição às políticas conservadoras do governo Cartes, eleito após o golpe contra Lugo, que persegue organizações de esquerda e se alinha às políticas imperialistas do governo dos EUA, numa clara ameaça ao bloco de países sul-americanos. Poucos meses apos sua eleição, Cartes já sofre uma rejeição de 60% da população, especialmente pelas políticas privatistas.

Repressão à luta social
Na terça-feira, 12, Socorro visitou, logo cedo, a prisão de Tacumbu, onde cinco trabalhadores rurais encontram-se detidos, desde o período do golpe contra Lugo. Com o judiciário paraguaio sob influência das elites locais, as prisões demandam muita luta social para que sejam revertidas. As lideranças sociais estão presas preventivamente, apesar da falta de provas da acusação de tentativa de homicídio durante uma chacina no campo, que foi usada como motivo para culpabilizar o governo Lugo.

“Chama a atenção a grande repressão do governo paraguaio contra o s movimentos sociais, como tive a oportunidade de ver no sistema prisional e com os prisioneiros políticos”, contou Socorro, que  se comprometeu em ampliar, através do Centro Mundial da Paz, a agenda de ações de solidariedade pela liberdade dos camponeses paraguaios.
Rubén Villalba solicitou que o Conselho Mundial da Paz e órgãos governamentais do Brasil façam a mediação sobre a situação a que estão submetidos atualmente, onde os direitos civis e políticos destes dirigentes estão sendo sistematicamente violados pelas autoridades paraguaias. Os presos políticos entregaram ainda uma carta para Socorro, onde apresentam ao Conselho Mundial da Paz a situação de cada um (leia a íntegra da carta ao final).

Golpismo jurídico
Representados por Socorro, os comunistas esperam poder contribuir para o combate à radicalização política que a esquerda enfrenta no país, desde que Fernando Lugo, legitimamente eleito, sofreu em 2012 um golpe político travestido de impeachment legitimado pela maioria legislativa de oposição e pelo judiciário conservador do país.  “Brasil e Paraguai são vizinhos com relações históricas que não se restringem à hidrelétrica de Itaipu, mas incluem um intercâmbio cultural profundo, em que buscamos mutuamente uma integração soberana, pacífica e cooperativa do continente”.
Socorro explica que o país é controlado por oligarquias, principalmente latifundiárias, coniventes com o imperialismo que não aceitam os avanços iniciados no governo Lugo, além de acirrar a perseguição a lutadores sociais. Mas desde a eleição de Lugo, as forças de esquerda têm conquistado cada vez mais apoio popular e a rejeição ao atual governo de direita. “A Frente Guasu tem avançado com o seu fortalecimento e tem conseguido crescer com bastante confiança em mudanças no cenário político para os próximos anos”, diz Socorro, expressando o clima de otimismo que contagia os movimentos sociais naquele país.
Pós-golpe
Quando de sua visita ao PCdoB , Lugo afirmava que o Paraguai está na contramão da integração da América Latina. Ele, enquanto presidente, procurou ampliar as relações comerciais do Paraguai com outros países para enfraquecer os laços com os Estados Unidos. Impedido de cumprir os cinco anos de governo devido ao Golpe Parlamentar, obviamente Lugo não conseguiu consolidar mudanças estruturais, mas teve a ousadia de mexer nas bases que sustentam os privilégios da elite paraguaia.
Lugo se distanciou dos Estados Unidos e tentou reduzir a presença das forças armadas estadunidenses no país. Ele conta que negou imunidade diplomática a mais de 500 membros das formas armadas norte-americanas presentes no Paraguai que reivindicaram esta condição. O ex-presidente é incisivo ao afirmar que o impeachment foi uma estratégia elaborada por meio de intervenção estadunidense.
Em menos de um ano da administração de Horácio Cartes, a presença das forças armadas norte-americanas tem um crescimento notável no país em nome da cooperação de programas que os Estados Unidos desenvolvem de assistência médica, por exemplo”. Recentemente o ministro da Defesa, Bernardino Soto Estigarribia, anunciou a inauguração da primeira obra de cooperação com Washington desta gestão: um Centro de Respostas para Situações de Emergência, no departamento de San Pedro. Este é apenas um dos departamentos onde o presidente Horácio Cartes já decretou Estado de Exceção e boa parte da estrutura é financiada pelos Estados Unidos.
Após o golpe, a coalizão dos partidos de esquerda, Frente Guasu, elegeu cinco senadores, entre eles, Lugo. Desde então as forças progressistas vêm se fortalecendo, principalmente no interior do país, junto aos camponeses. Este ano os trabalhadores do Paraguai realizaram a maior greve dos últimos 20 anos, teve mais de 80% de adesão no campo e na cidade.
Socorro diz que o povo sente muita falta do serviço de saúde gratuito e universal com medicamentos para todos que vigorava no Governo Lugo.  Ela explica ainda que Lugo  é muito respeitado pela luta dos camponeses. “Cartes representou o avanço dos latifúndios e o império da força bruta no campo, com muitos marcados para morrer e muitos assassinatos. Estive com a direção do movimento de direitos humanos., que considera o campo terra arrasada contra a luta dos produtores campesinos”.

Leia a íntegra da carta sobre os camponeses presos no Paraguai:

“Ao Conselho Mundial da Paz,
O Conselho Mundial da Paz é um movimento internacional de ação de massas, democrático e independente. É uma parte integral do movimento pela paz no mundo e atua em cooperação com outras organizações internacionais e movimentos sociais. O CMP é a maior estrutura pela Paz Internacional, com sede em mais de 100 países.
Desde sua criação em 1949, o CMP tem sido uma organização ativista pela paz, contra guerras e pela segurança mundial, soberania dos povos, justiça econômica, social e desenvolvimento. Luta ainda pela proteção ao meio ambiente, defesa dos direitos humanos e patrimônio cultural, leva solidariedade e apoio aos povos e aos movimentos de libertação que lutam pela independência e integridade de seus países.
Sobre o caso de Rubén Villalba:
Em 2 de julho passado o juiz de Salto de Guaíra, Benito González, rechaçou o pedido de dispensa e de incidentes de anular a acusação e provas apresentadas na Audiência Preliminar pela defesa técnica do dirigente camponês.
Ao mesmo tempo, o juiz levou a causa a Juízo Oral que ainda não tem dada para realização, enquanto isso Rubén Villalba seguirá detido de forma ilegal e arbitrária, acusado de um crime manipulado contra ele, cuja pena máxima é de três anos de reclusão.
O dirigente camponês está em prisão preventiva faz 21 meses pelo delito que é falsamente acusado. O juízo oral pelo Caso Curuguaty está previsto para o próximo dia 17 de novembro.
Sobre os outros seis dirigentes políticos
Agustín Acosta, Roque Rodríguez, Simeón Bordón, Gustavo Lezcano, Basiliano Cardozo y Arístides Vera, são dirigentes políticos condenados em primeira instância com violação a todos os princípios básicos de direito como “bodes expiatórios” de um crime que não cometeram. Estão presos por ter lutado por terra, pela vida e pela construção de uma nova sociedade sem explorados nem exploradores”