Tenho combatido a tendência de relativização de amplos setores da classe média encantados com a possibilidade de eleição de Marina Silva. Com um estilo que agrada o povo de tipo cult, poucos percebem o fundo político falso desta alternativa. E o pior, o que faria para angariar base política institucional, ou não, para poder governar.

Não sei o que ela pensa da vida com relação a certas coisas. Imagino que se ache uma pessoa tão especial que foi capaz de ver algo como um “destino” na morte de Eduardo Campo e sua assunção ao posto de candidata. Posta candidata, rapidamente sai às ruas. E seu primeiro compromisso foi justamente na Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) ao lado de Jorge Bornhausen. Não me surpreendeu nem um pouco o compromisso dela com a “independência do Banco Central”, com a retomada radical do “tripé macroeconômico”. A nota promissória assinada à grande finança foi a promessa de colocar os juros no centro da meta de 4,5% e reduzi-la a 3% nos próximos três anos.

Assim, Marina entra no jogo da “grande política”, e toma lado entre os dois campos postos. Deixou de ser a anticandidata de 2010 com suas propostas difusas e imensa confusão. Logo, Marina Silva demonstra que não existe terceira via nesta história. Para um país como o Brasil, a alternativa liberal resiste desde 1930 quando foi proscrita por uma Revolução Nacional. A outra alternativa é uma combinação entre o desenvolvimentismo getulista e a revolução democrática de Lula e Dilma. A outra via, simplesmente não existe. E Marina Silva é prova disso. Tomou lado numa história que se arrasta desde 1930.

Por que acho perigosa Marina Silva? Primeiro essa questão macroeconômica toda já está documentada em seu recém-lançado Programa de Governo. Vai além, ainda, ao propor a entrada do setor financeiro privado na oferta de crédito. Impossível, contraditório. Sendo cumprida a risca as metas de inflação, como garantir a entrada da finança privada no mercado de crédito de curto prazo? A taxa de juros poderá alcançar a casa dos 25% em menos de um ano. Não se trata de terrorismo. É o concreto que o básico da ciência econômica nos ensina.

Para onde vai se esgueirar na busca de uma base social de poder? Na classe média cult? Sim, também. Mas principalmente no sistema financeiro. Neste aspecto, ela é muito mais letal do que Aécio Neves. Como candidato neoliberal escrachado, certamente Aécio encontraria grandes dificuldades de implantar uma versão “puro sangue” do Plano Real. Marina Silva, não. Aclamada nas rodas da banca interna e externa, lastreada por uma história de luta e sobrevivência e de defesa do meio ambiente, o mercado financeiro assim encontrou alguém com um “rosto humano” para implantar seu programa.

Seu ar de anti-política, “Messias enviada pelos céus”, acima do bem e do mal. Aparência e essência não se confundem. Com muita tranquilidade a taxa de juros chegaria a 30% durante um governo capitaneado por ela. É como tenho dito: “Marina Silva vai fazer o serviço sujo na maior limpeza”. Ela pode. Ela não é do PSDB!
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Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ. Membro do Comitê Central do PCdoB.