Aécio, neste momento, embora um pouco grogue, mas ainda vivo na peleja solta esta miragem: “Dilma, o PT, já estão derrotados. O segundo turno será entre eu e Marina.”

Erro infantil, soltar foguete com a batalha apenas no meio. O povo não é manada. Ele adquiriu nas últimas duas décadas um rico aprendizado político. Por experiência própria, sabe que quando a turma da cobertura festeja é bom arregalar bem os olhos para entender direito o que está acontecendo.

Das três principais candidaturas, ninguém, a rigor, já pode ser proclamado derrotado ou vitorioso. Mas podemos dizer que o tradicional bloco neoliberal conservador – tendo à frente PSDB-DEM, com Fernando Henrique Cardoso, na bandeira de santo padroeiro, e um candidato da mais fina estampa tucana, Aécio Neves – sofre alta rejeição do eleitorado. Isto é uma prova daquele amadurecimento político do povo que há pouco nos referíamos.

Logo depois de Marina Silva afirmar que um eventual governo dela seria uma espécie de Arca de Noé, onde caberiam todos os bichos, e que ela teria força gravitacional para atrair um arco de lideranças que iria de FHC a Lula, Aécio reagiu. Proclamou que em vez da imitação “o que vai prevalecer é o software original. Quem vai governar é o PSDB e com figuras qualificadas”.

“O software original” se desgastou. O povo olha, escuta, manuseia, e refuga. Desde o início, mesmo abanado pela grande mídia, o tucano estava empacado.

A tragédia que ceifou a vida de Eduardo Campos deu ao consórcio oposicionista um presente. Surge uma candidata cuja história e aparência são uma capa perfeita para ocultar a escolha que fez e a quem interesses serve. Marina Silva é o “software original” com um marketing tão comovedor quanto enganador: filha do povo pobre que venceu um milhão de obstáculos e triunfou. Teria o apoio “dos de baixo” e o entusiasmo “dos de cima”.

O senhor Leandro Kuschel, diretor da Escola de Investimentos, explicou pela mídia que Marina “ganhou o mercado”. Mas fez um contraponto: o regozijo da Bolsa deriva mais de uma possível derrota de Dilma do que da vitória de Marina Silva. E arrematou: “O mercado adotou aquele discurso de que quem não tem cão caça com gato.”

Diante dessa ofensiva do consórcio oposicionista, eis a tarefa do campo político progressista: Dialogar com o eleitorado, ter paciência e humildade para ouvi-lo, mas, ao mesmo tempo, o dever e a coragem de alardear e demonstrar que Marina Silva pactuou com os banqueiros. Entre o povo – do qual é filha – e os magnatas do capital financeiro, escolheu a outra banda. A podre.

*Presidente da Fundação Maurício Grabois e editor da revista Princípios

Especial para o Vermelho