O governo do Maranhão determinou nesta quinta-feira, 25, o afastamento de dois diretores da Central de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ), do Complexo Penitenciário de Pedrinhas. A medida ocorre após vir a público a confissão à polícia de um detento da penitenciária que admite ter recebido promessa de dinheiro e outros benefícios para gravar um vídeo acusando o candidato do PCdoB ao governo estadual, Flávio Dino, de participar de um assalto. Os diretores afastados do presídio participaram da gravação do vídeo.
Em depoimento prestado junto à Superintendência Estadual de Investigações, Criminais na noite da última terça (23), o presidiário André Escócio de Caldas disse aos delegados da Polícia Civil Tiago Mattos Bardal que o vídeo foi gravado há cerca de oito dias na sala do diretor da Central de Custódia de Presos de Justiça de Pedrinhas, Carlos Aguiar. O diretor nega responsabilidade pela divulgação do vídeo. Após confirmada a autoria da gravação, o notebook de Carlos Aguiar foi apreendido pelo delegado Tiago Bardal.
O vídeo foi exibido no início da semana na TV Difusora, pertencente ao senador Edison Lobão Filho (PMDB), adversário de Flávio Dino. A gravação foi reproduzida em um jornal da família Sarney e se tornou tema da campanha. A pedido da campanha de Flávio Dino, o caso passou a ser investigado pela Corregedoria da Secretaria de Estado de Justiça e Administração Penitenciária do Maranhão (Sejap), pela Superintendência de Investigações Criminais da Secretaria de Segurança Pública, e pela Polícia Federal.
No último levantamento do Ibope Dino lidera a disputa pelo governo do Maranhão com 42% das intenções de voto ante 30% de Lobão Filho, que tem apoio dos Sarney. Com a liderança nas pesquisas, o candidato do PCdoB tem chance de quebrar uma hegemonia de seis décadas da família Sarney e seus aliados no governo do Maranhão. Em outras campanhas, expedientes semelhantes foram usados contra adversários dos Sarney, revertendo as expectativas de voto e dando a vitória a Roseana Sarney.
Pago para acusar
Segundo o vídeo, Dino teria ligações com integrantes da facção criminosa Bonde dos 40, suspeita de ter assaltado o carro-forte na universidade federal em fevereiro deste ano. No depoimento prestado nesta quarta, o presidiário Andre Escocio Caldas confirmou ter informações sobre os autores do assalto, mas nega a participação do candidato do PCdoB.
O presidiário disse ter sido retirado da cela há cerca de 20 dias pelo diretor do CCPJ, Carlos Aguiar, e por um dos chefes de segurança do presídio. Na sala do diretor, ele teria recebido “promessa de conseguirem um alvará de soltura e mais uma boa quantia em dinheiro, além do declarante (Escocio) ficar ‘blindado’ (protegido) no sistema” caso aceitasse gravar o vídeo e “conversar para aparecer o nome de Flávio Dino”.
Na nota divulgada nesta quinta, a Secretaria de Estado de Justiça e Administração Penitenciária do Maranhão afirma que Carlos Eduardo Sousa Aguiar, diretor da Central de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ) de Pedrinhas e Elenilson Araújo, diretor administrativo da CCPJ foram afastados até que as investigações sobre o vídeo sejam concluídas.
Ainda de acordo com o depoimento de Caldas, a gravação foi feita na própria sala do diretor do CCPJ e registrada por uma câmera e um telefone celular. Caldas afirma ter tomado conhecimento de que o vídeo estava disponível nas redes sociais por meio de outros colegas, que ouviram notícias na Rádio Difusora, também de propriedade de Lobão Filho, e no jornal O Estado do Maranhão, pertencente aos Sarney. De acordo com o presidiário, quando a notícia se espalhou os demais detentos reagiram aos gritos de “vai morrer, vai morrer”. O preso já está sob custódia, em sala separada, após os acontecimentos.
Também ouvido na quarta, 24, o diretor Carlos Aguiar confirmou ter feito a gravação e ter dito a Caldas que se ele conseguisse comprovar as denúncias poderia receber benefícios do Judiciário. O diretor do CCPJ, no entanto, declarou desconhecer a forma como as imagens foram parar na internet e negou ter atuado em nome de partidos políticos.
Trama do desespero
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, pediram nesta quarta-feira ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que o Ministério Público Federal investigue denúncias de crimes eleitorais praticados contra o candidato do PCdoB ao governo do Maranhão, Flávio Dino. A senadora entregou a Janot cópia de uma notícia-crime protocolada junto ao Ministério Público no Maranhão, assinada pelo deputado Domingos Dutra (SDD-MA) e outros parlamentares.
No documento, os parlamentares pedem que seja investigada uma eventual participação da campanha do candidato do PMDB ao governo do Maranhão, Edison Lobão Filho, no episódio. Em entrevistas, Lobão Filho avisava que seriam divulgadas informações que prejudicariam Dino.
A senadora explicou que a procedência do vídeo ainda não foi identificada, mas ele foi postado em perfis criados no Chile. Segundo a senadora, o procurador disse que vai pedir ao Ministério Público Eleitoral que apure o caso.
“Graves fatos ocorreram no Maranhão, na disputa eleitoral. Houve agressão ao meu colega de partido, Flávio Dino. É um ato de desonestidade”, disse Vanessa, que mais tarde repetiu a denúncia em discurso no Senado. “É um enredo criminoso que o país precisa saber. Isso mostra o desespero deles”, acrescentou Rabelo.
Perseguição sistemática
O presidente estadual do PCdoB, Márcio Jerry, um dos coordenadores da coligação “Todos pelo Maranhão”, em entrevista coletiva, no início do mês, já havia acusado o Governo do Estado de usar o serviço velado da Polícia Militar para coagir adversário durante o processo eleitoral. Segundo o dirigente comunista, a governadora Roseana Sarney (PMDB) teria autorizado e acompanhado a ação suspeita de policiais contra o empresário Saulo Dino, irmão do candidato a governador.
Márcio Jerry relatou que uma ação da Polícia, realizada na madrugada, parou, por volta das 4h40, o irmão de Flávio Dino numa barreira montada. Ele se dirigia ao município de Imperatriz quando teve que se submeter a uma busca minuciosa em seu veículo. Os agentes policiais reviraram todo o material de propaganda política e somente liberaram após uma hora de revista.
Para o dirigente do partido, a governadora e o secretário de Segurança precisam explicar porque o aparato policial estaria sendo usado para coagir adversários.
“Toda a operação foi realizada mediante perseguição com carros descaracterizado, filmada por indivíduos não uniformizados, com tempo de abordagem e revista fora dos padrões normais. É de estranhar que apenas o senhor Saulo Dino tenha sido parado e revistado pela blitz, montada em horário inusual”, afirma trecho da nota oficial distribuída à imprensa.
O fato lamentável foi informado oficialmente ao Comando da Polícia Militar, à Secretaria de Segurança, Polícia Federal, Ministério Público Eleitoral e ao Ministério da Justiça, através da direção nacional do PCdoB.