A Associação Internacional dos Trabalhadores, 150 anos depois
Se a história da AIT não foi longa, tendo durado pouco mais de uma década (até 1876), sua experiência foi marcante. Era preciso aglutinar os múltiplos e variados experimentos de lutas operárias em diversas partes do mundo, a fim de dar-lhes a possibilidade de partilhar suas experiências e tecer os laços de solidariedade e fraternidade nas ações de classe, em uma era de constituição do mercado mundial, conforme Marx e Engels afirmaram no Manifesto Comunista (1848). Se o capital e suas forças começavam a ganhar contornos crescentemente mundializados, era vital superar a lógica vigente do movimento operário, que ainda se mantinha de forma predominante no espaço nacional. Urgia conferir-lhe potência e organicidade internacionais, ainda que respeitando as singularidades e particularidades de cada país.
Na mensagem inaugural da AIT, após enfatizar que durante os anos 1848-1864 ocorrera simultaneamente uma grande expansão econômica à custa do aumento dos níveis de miserabilidade da classe trabalhadora, reconhecia-se a necessidade imperiosa de avançar na construção de uma economia política do trabalho. E assim reafirmava-se a célebre consigna: a emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores.
Cento e cinquenta anos depois, o que significa pensar internacionalmente a classe trabalhadora? Teriam suas bandeiras mais gerais perdido o sentido ou seriam hoje ainda mais atuais? A classe trabalhadora contemporânea necessita organizar-se internacionalmente? É possível derrotar o sistema do capital com ações e formas de luta e confrontação social que se atenham ao espaço nacional? Ou, ao contrário, dada a conformação cada vez mais mundializada do capitalismo, a retomada de um novo projeto contemporâneo de organização internacional dos trabalhadores e das trabalhadoras (e essa adição de gênero é decisiva) torna-se imperiosa?
Os textos de Marcello Musto e Michael Löwy escritos para a #23 edição da revista Margem Esquerda são um convite para uma retomada desse tema crucial de nosso tempo. Estão diretamente vinculados ao encontro internacional “AIT: 150 anos depois”, realizado entre 29 de outubro e 3 de novembro de 2014 em várias universidades brasileiras, com o objetivo de possibilitar uma discussão ampla e profunda sobre a importância da AIT e seu legado.
* Este texto de Ricardo Antunes abre o dossiê especial 150 anos da AIT na revista Margem Esquerda #23.
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Leia uma prévia dos textos de Michael Löwy e de Marcello Musto no Blog da Boitempo. Ambos participam do encontro internacional “AIT, 150 anos depois”, a ser realizado entre outubro e novembro de 2014, em oito cidades brasileiras. O encontro marca o lançamento de Trabalhadores uni-vos: antologia política da I Internacional, com intervenções inéditas de Marx, Engels e Bakunin, entre outros. O evento reúne, além de Löwy, Musto e Antunes, alguns dos mais importantes estudiosos do comunismo e da classe trabalhadora no Brasil e afora. Confira a programação completa do evento aqui.
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Ricardo Antunes é professor titular de sociologia do trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador da coleção Mundo do Trabalho, da Boitempo Editorial. Organizou os livros Riqueza e miséria do trabalho no Brasil (2007), Riqueza e miséria do trabalho no Brasil II (2013) e Infoproletários: a degradação real do trabalho virtual (2009), ambos publicados pela Boitempo. É autor, entre outros, de Adeus ao trabalho? (Cortez), Os sentidos do trabalho (1999) e O caracol e sua concha (2005), além de O continente do labor, esses três últimos também pela Boitempo Editorial.