O APELO

 

Que te vale minha alma, essa paisagem fria


Essa terra onde parecem repousar virgens distantes?


Que te importa essa calma, essa tarde caindo sem vozes


Esse ar onde as nuvens se esquecem como adeuses?


Que te diz o adormecimento dessa montanha extática


Onde há caminhos tão tristes que ninguém anda neles


E onde o pipilo de um pássaro que pousa de repente


Parece suspender uma lágrima que nunca se derrama?


Para que te debruças inultimente sobre esse ermo


E buscas um grito de agonia que nunca te chegará a tempo


Que são longos, minha alma, os espaços perdidos…


Ah, chegar! chegar depois de tanta ausência


E despontar como um santo dentro das ruas escuras


Bêbado dos  seios da amada cheios de espuma!

 

 

Vinícius de Moraes – fonte: http://vita-gotasdepoesia.blogspot.com.br/