“Na vida existem aqueles que capitulam, que abandonam o ringue, derrotados, e existem aqueles que apanham, de vez em quando até batem, e continuam de pé. O lutador duro, desafiador, o claro olhar escuro de Ezra Pound pergunta ao lutador, queres outro round?“

É o que escreve o filósofo Leandro Konder num de seus melhores poemas. Sim, porque Leandro Konder além de um lutador incansável no ringue das ideias, é também romancista e poeta. Aos 72 anos, este mestre do pensamento da esquerda brasileira que escreveu mais de duas dezenas de livros, publicou centenas de artigos e ensaios nos maiores jornais do país e nas salas de aula formou uma geração de cabeças inquietas, é um homem surrado pelo mal de Parkinson que enfraqueceu os músculos da coluna vertebral e irremediavelmente vergou o seu corpo para o lado direito.

Mas Leandro Konder continua mesmo um lutador como comprovam as suas memórias, as “Memórias de um intelectual comunista”, que acaba de lançar. Narradas com humor e delicadeza, elas condensam a trajetória de um corajoso combatente que, como tantos outros, conheceu a prisão, a tortura, o exílio, mas nunca esmoreceu o espírito crítico em relação à sociedade e, sobretudo, a si mesmo. E que ainda se dispõe agora a escrever sobre um tema que sempre acompanhou sua longa história política: o humor. Foi assim que este eternamente jovem professor marxista recebeu o Milênio.

Entrevista à Elizabeth Carvalho.