A professora e filósofa Marilena Chaui esteve nesta terça-feira, 11, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) para uma noite de autógrafos seguida de palestra. Chaui lançava na universidade a coleção “Escritos de Marilena Chaui”, coeditada pela Autêntica Editora e pela Editora Fundação Perseu Abramo.

Na biblioteca da Faculdade de Educação, a autora autografou livros e tirou fotos com leitores, alunos, ex-alunos e admiradores, e na sequência, proferiu, para um auditório lotado, palestra organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com o tema Cultura e Civilização.

Segundo Chaui, os conceitos de cultura e civilização se encontram mais marcadamente no século 18, em um movimento que “significa a percepção dos seres humanos como seres históricos, com ação sobre a natureza e a sociedade.” Segundo a professora, a Civilização pode ser conmpreendida em etapas, e no século 18 é introduzida a ideia de progresso.

“Civilização e cultura entendidos como um processo histórico de aperfeiçoamento, isso é a ideia de progresso, ou seja, processo linear e contínuo em direção ao que é de melhor, em direção à virtude, o que abre uma brecha gigantesca, que é a ideia que há civilizações completas, civilizações em desenvolvimento, e até atrasadas, ou seja, em que há a ausência de civilização, imperfeita. Neste sentido há a ideia de que a civilização está na Europa”, explicou.

Chaui reforça este argumento, lembrando que esta ideia de avanço ou atraso “é mantida pela disciplina cientíica que é a antropologia, que fala em sociedades primitivas. A ideia é que a sociedade perfeita é a europeia, a que tem mercado, escrita e Estado. Todas que não tiverem isso são primitivas, estão próximas da barbárie, no caso, nossos nativos da América.”

A partir desta segmentação, a cultura passou a indicar a divisão social, sob a aparência de que se tratava da distinção entre cultos e incultos, quando referida à formação do indivíduo. Entendida como o progresso histórico de uma sociedade, ela gradualmente se define como o campo das formas simbólicas, do trabalho, religião, artes, ciências, políticas, que constituem os símbolos da cultura.

Em sentido amplo a cultura passa as ser entendida como criação coletiva da linguagem, religião, vestuário, culinário, música, manifestações de lazer, dos valores e regras de contduta, dos sistemas de relações sociais, e relações de poder, argumenta a professora. “Se reunirmos os dois sentidos da cultura, podemos tomá-la, como faz Marx, como uma práxis social de classes sociais contraditórias, nas relações determinadas pela condição material da produção e reprodução da existência, portanto, da história da luta de classes.”
 
A partir desta perspectiva, a filósofa ressalta que “é preciso ampliar nosso conceito de cultura, não restringir a determinados saberes, letrados. Esta distinção leva ao sentido de cultura letrada, de elite, em oposição a uma cultura popular. Embora a cultura seja uma construção coletiva, ela se realiza em uma sociedade dividida em classes.”

Por isso, frisa Chaui, é o aspecto da cultura popular em contradição com a cultura dominante que interessa do ponto de vista revolucionário, “a possibilidade de refazer a memória no sentido contrário da classe dominante, trata-se de narrar a história do ponto de vista das classes populares. A cultura popular tem que ir no sentido contrário da dominante”, concluiu a professora.