A QUESTÃO DO MAGISTÉRIO NO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
O adequado equacionamento do magistério é crucial porque dele depende o alcance das metas voltadas para a elevação da qualidade da educação básica.
A questão do magistério envolve dois aspectos reciprocamente relacionados entre si: a formação e o exercício docente.
O trabalho docente é condicionado pela formação, pois uma boa formação é premissa necessária a um trabalho docente qualitativamente satisfatório e, inversamente, uma formação precária resulta em um trabalho docente de qualidade insatisfatória. No entanto, embora esse aspecto não seja muito enfatizado, as condições do exercício do magistério reciprocamente determinam a qualidade da formação. E isso, em vários sentidos: a) a formação dos professores se dá, também, como um trabalho docente por parte dos formadores. Portanto, se as condições de trabalho não são adequadas, também os cursos de formação dos professores se desenvolverão em condições insatisfatórias, o que resultará numa formação igualmente insatisfatória; b) as condições de trabalho docente das escolas a que se destinam os professores em formação também influenciam a própria formação porque se o funcionamento das escolas é precário, os estágios também serão precários e, no limite, podem até mesmo ser inviabilizados ou reduzidos a procedimentos meramente formais; c) finalmente – e este talvez seja o aspecto mais importante – as condições de trabalho docente têm um impacto decisivo na formação, uma vez que elas se ligam ao valor social da profissão. Assim, se o ensino se realiza em situação difícil e com remuneração pouco compensadora, os jovens não terão estímulo para investir tempo e recursos numa formação mais exigente e de longa duração. Em consequência, os cursos de formação de professores terão de trabalhar com alunos desestimulados e pouco empenhados, o que se refletirá negativamente em seu desempenho.
Considerando a situação atual da educação brasileira, há dois pontos de estrangulamento que precisam ser sanados. Trata-se da carreira docente e da formação.
1) É necessário instituir a carreira dos profissionais da educação aumentando significativamente o valor do piso salarial dos professores e estabelecendo a jornada de tempo integral em uma única escola com no máximo 50% do tempo destinado a ministrar aulas. O restante do tempo será dedicado à preparação de aulas, correção dos trabalhos dos alunos, atendimento diferenciado aos alunos com mais dificuldades de aprendizagem, participação na elaboração do projeto político-pedagógico e na gestão da escola e atendimento a eventuais necessidades da comunidade. Sem desatar esse nó, sem o reconhecimento do valor social do trabalho docente traduzido em boas condições de trabalho e salários dignos, a própria questão da formação não poderá ser resolvida adequadamente.
2) É preciso corrigir uma grande distorção do processo de formação docente no Brasil: a grande maioria dos docentes que atuam nas redes públicas de educação básica é formada em instituições particulares de ensino superior de duvidosa qualidade. Com isso a educação básica pública fica refém do ensino privado mercantilizado, sem possibilidade de resolver seus problemas de qualidade. Impõe-se, pois, a criação de uma rede publica de formação docente ancorada nas universidades públicas para assegurar o preparo adequado dos professores que irão atuar nas escolas públicas de educação básica. O PNE trata da questão do magistério nas metas 15 e 16 (formação) e 17 e 18 (condições de exercício). Apesar de alguns avanços o que se prevê é insuficiente, pois não assegura a formação centrada em instituições públicas e não garante as condições necessárias à carreira docente e ao exercício do magistério.
Série de dez artigos publicados no Jornal “A Fonte”, de São Sepé (RS), entre 19 de julho e 27 de setembro de 2014.
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