Livro discute novos modelos de jornalismo
As manifestações que tomaram as ruas de diversas cidades pelo Brasil durante o ano passado podem significar um marco transitório não só para a democracia brasileira, mas também para o modelo de jornalismo praticado no Brasil. Esse ponto crucial de transição foi explorado e debatido no e-book Jornalismo no Século XXI – O Modelo Mídia Ninja, fruto de 82 dias de observação e coleta de dados da doutoranda pela Escola de Comunicações e Artes (ECA), Elizabeth Lorenzotti.
Câmeras digitais e smartphones: jornalismo precisa se adaptar aos novos modelos
O livro que aborda, entre outros conceitos, o ‘midialivrismo’ encorporado pelo coletivo Mídia Ninja (sigla para Narrativas Independentes Jornalismo e Ação) acabou problematizando o modelo de negócio dos meios de comunicação nacionais. “Não era meu objetivo chegar a qualquer conclusão, mas retratar o momento atual da crise de um modelo de grande imprensa que veio do século 19, estacionou no século 20 e não admite mudanças nem aborda as novas alternativas que surgem”, revela a autora.
Elizabeth conta que a popularização de câmeras digitas e smartphones transformou a comunicação, e o jornalismo precisa se adaptar a esses novos modelos. “A tecnologia veio para melhorar a vida dos cidadãos. Mesmo aquilo que nós não vemos na grande mídia podemos gravar, colocar na internet e gerar uma grande repercussão. Tem acontecido cotidianamente flagras, por exemplo, de médicos que batem ponto, mas não trabalham e que perderam os empregos em função das denúncias gravadas”, relata.
Dentro dessa lógica, ela aproveita para ressaltar que apesar de o Mídia Ninja ter atingido grande popularidade, existem outros projetos que utilizam esses modelos como a Agência Pública de Jornalismo e A Ponte. Entretanto, Elizabeth não se mostra plenamente convencida de que o modo de financiamento vai vingar. “O professor Massimo Di Felice afirma no livro que, no futuro, o jornalismo brasileiro vai ser estudado em duas fases: antes e depois das jornadas de junho. Eu, particularmente, acho que esse midialivrismo rompe com um modelo que está sofrendo faz tempo, mas a forma de financiamento desses novos coletivos ainda estão sendo experimentadas e precisam se estruturar melhor”, opina a pesquisadora.
Futuro da profissão
Apesar da ressalva, ela afirma que o jornalismo não está em extinção e que esse novo formato emergente pode significar o futuro da profissão. “Acho que tudo isso significa uma grande esperança para os jornalistas, principalmente os jovens que provavelmente não vão encontrar espaço nas grandes redações e podem sair da faculdade fazendo projetos que servirão tanto para o seu próprio futuro quanto para o interesse da sociedade.”
Livro é fruto de 82 dias de observação e coleta de dados
O livro foi encomendado por uma editora no ano passado, porém, divergências no processo acabaram impedindo que ele fosse comercializado em papel. Diante do impasse, Elizabeth optou por fazer um e-book e colocá-lo no mercado. “Eu acompanhei durante 82 dias o Facebook da Mídia Ninja e as demais plataformas de transmissão deles. Foi um processo bastante penoso porque eu não podia perder nenhuma informação relevante para o debate. Para não perder a oportunidade, resolvi editar uma versão digital. Em papel, eu levaria muito tempo”, relatou.
A pesquisadora destaca que mesmo depois de junho, as manifestações ainda passaram por um rescaldo com outros protestos em capitais como Rio de Janeiro e São Paulo. Além disso, o conteúdo mais interessante nem sempre ficava restrito ao que a própria página postava, mas ao debate que acontecia. “Havia muitos comentários, artigos, discussões, debates sobre diversos assuntos. Se o que eles faziam era jornalismo ou não. Se eles abordavam todos os pontos de vista, entre outras coisas”, destaca.
Elizabeth acredita que toda essa discussão se tornava interessante justamente por questionar alguns conceitos intocáveis e colocar no centro da discussão o papel da própria mídia. “É um problema essa visão de que os grandes veículos têm imparcialidade, quando nós sabemos que imparcialidade não existe e que todos os lados têm interesses diversos. Além disso, é verdade que as pessoas compartilham as notícias dos jornais, mas isso não quer dizer que eles têm centralidade. Quem têm centralidade são os internautas que comentam, repercutem, concordam, discordam dessas informações. Os jornais não tem interatividade. O formato pode ser digital, mas o pensamento ainda é analógico”, resume.
O e-book pode ser adquirido pela Amazon, Apple, Google Play, Livraria Cultura e Saraiva.
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